segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Vale a pena ler de novo

Publicado em 31 de julho de 2003 no blog palavradobó ©eduardonascimento

As irmãs Maria e Tereza, devotas fervorosas de Nossa Senhora do Pilar, todos os anos no dia 15 de agosto, reuniam as pessoas do povoado e celebravam rezas em louvor à Santa. Valle Porto entusiasmado com o fervor da crença mandou construir uma capela para que os moradores pudessem melhor render culto à Virgem do Pilar, autorizado pelo bispo do Rio de Janeiro, D.Frei Francisco de São Jerônimo, no anos de 1714. 1


“ ...quinze de agosto tem romaria à santa padroeira Nossa Senhora do Pilar...” 2

A história nos conta que a imagem foi encomendado a um santeiro da Bahia, e julgando desconhecimento do contratante enviou a imagem de outra Nossa Senhora, a da Soledade, mas logo foi devolvida e anos mais tarde, chegava ao povoado a imagem encomendada de Nossa Senhora do Pilar. Valle Porto, senhor do lugarejo, doou o terreno onde foi erigida uma capela, onde hoje se encontra a igreja matriz, marco importante para a formação do povoado e de sua religiosidade.

Foi devido a construção da capela que os moradores da localidade ficaram conhecidos como Capelistas. As festas a cada ano que passava, eram bem mais animadas. Centenas de pessoas moradores da vila e das comunidades próximas, não mediam esforços para marcar presença no dia 15 de agosto, em agradecimento ou para pedir as bênçãos da santa padroeira. As tradicionais barraquinhas – coisas de igrejas – surgiram somente no início do século passado, lá pelos anos 30 e serviam para angariar recursos para o Hospital de Caridade da cidade, que estava localizado perto da matriz.
E foram nas décadas de 30 a 60 onde aconteceram as maiores festas. Milhares de romeiros vindos dos mais distantes lugares, de barco, de ônibus ou de trem, chegavam a Antonina, para comemorar a tão esperada e anunciada Festa de Nossa Senhora do Pilar. O largo da Matriz - depois denominado de Praça Coronel Macedo - ficava todo enfeitado para o acontecimento. As pessoas compravam roupa nova, pintavam suas casas e aumentavam seus suprimentos para poderem receber e hospedar os amigos e familiares. Grande queima de fogos de artifícios marcava a data. Cada noveneiro queria apresentar sempre um maior número possível de fogos, e a disputa era acirrada para se conseguir sempre chegar em primeiro lugar. Eram famosas as novenas dos estivadores e dos empregados das Indústrias Matarazzo. Mas ficava sempre para o dia da festa o maior espetáculo pirotécnico.

A partir dos anos 70, quando o dia 15 de agosto deixa de ser feriado santificado nacional, a movimentação de romeiros começa a diminuir e foi sendo lentamente percebida pela população local. O número de barraquinhas – termômetro do sucesso do evento - diminuía a cada ano que passava, e foi pouco a pouco perdendo o que de mais tínhamos orgulho: a grandiosidade da festa da nossa padroeira N.SRA.do Pilar. Mesmo assim tivemos algumas e pontuais grandes festas, como a da família Tanaka em 1975 e do Reencontro em 1986. Nos anos oitenta e noventa pouco foi feito para resgatar a grandiosidade da festa. A desativação da ferrovia, somada ao desaquecimento econômico da cidade com o encerramento das atividades portuárias, enfraqueceram ainda mais as nossas comemorações.
Hoje, vivemos um pouco das recordações. Mesmo assim, a festa vai ser comemorada com novenas, missas, rezas, procissão, barraquinhas e foguetórios, mas os tempos mudaram. A população que em sua maioria era católica cedeu lugar aos evangélicos; os costumes e necessidades também mudaram, mas ainda dá para viver uma pouco da aura da festa. É o momento de encontrar saudosos capelistas, de rever a cidade e sua história e de continuar sonhando com melhores dias. A fé na padroeira ainda sustenta grande parte das nossas esperanças, mas jamais poderemos desacreditar em nós mesmos. É tempo de Festa… de refletir e comemorar.

1-Catálogo da programação da Festa “ Reencontro” 1986.
2- do canto de Alecir Carrigo “Meu Naturá”

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