sábado, 19 de março de 2011

Final de tarde em Antonina

Paranaguá, Morretes e Antonina são nossas escapadas perfeitas: próximas, pequenas, cercadas pelo mar, históricas. Mas perderam espaço como destino turístico
Publicado em 19/03/2011 GAZETA DO POVO| MARLETH@GAZETADOPOVO.COM.BR
As cidades pequenas têm seus encantos. Algu­­­­mas, é verdade, conseguem não ter graça, mas na maioria dos casos o en­­­­can­­­to está lá; é só ter olhos para ver. No caso das cidades históricas do litoral do Paraná, a graça es­­­­­tá por toda parte. Está, por exemplo, em uma tarde de sábado em Paranaguá, com o povo da cidade passeando na região do Mercado Municipal, crianças soltando pipa, o movimento de embarque e desembarque dos que vão e vêm das ilhas, a ilha dos Valadares ali na frente, o mangue, o casario antigo (se desmanchando por falta de manutenção, é verdade, mas, ainda assim, bonito). 

Está na aparência ordeira de Morretes, o grande rio atraindo o visitante para perto dele, os restaurantes lotados no domingo. E tem a graça discreta de Antonina, a minha preferida, quieta, pacata, a típica pequena cidade brasileira com sua praça e coreto, com a “avenida” de comércio e o píer onde uns teimosos insistem em tentar pescar. Um final de tarde em Antonina é uma bênção: as águas tranquilas da baía, a vegetação que emoldura o mar, a cidadezinha que quase não produz ruídos. E tem a Ponta da Pita, que, da última vez que visitei, me fez pensar que, se ela estivesse na Itália ou na França, seria um point chique, daqueles onde os milionários vão em busca de um cenário exclusivo e pitoresco. Minúscula e caprichosamente recortada pela natureza, estava com jeito de abandono (pelo menos tinha guardas-vidas de plantão), mas muitas pessoas brincavam lá, nadando ou pescando.
É curioso que as três cidades, tão próximas, pareçam ser tão diferentes entre si.
Me diz o colega Zé Carlos Fernandes, que escreve aqui nas sextas-feiras, que a capital agora está mais distante dessas cidades. Que já foi hábito dos curitibanos descer para passar o dia em Paranaguá. Hoje a única das três que mantém um fluxo constante de visitantes é Morretes – provavelmente por causa do trem, que vai até lá, diariamente. Esse afastamento representa uma perda para elas e para nós.
Quem vive em cidade grande precisa de escapadas, de mudanças de cenários. Corrijo-me, mudança de cenário é estimulante para todo mundo, independentemente de onde se vive. Para­­naguá, Morretes e Antonina são nossas escapadas perfeitas: próximas, pequenas, cercadas pelo mar, históricas. Mas perderam espaço como destino turístico ao mesmo tempo em que os balneários passavam a receber mais e mais gente (nos últimos anos, parte desse fluxo foi desviada para as praias de Santa Catarina). E as cidades históricas, onde tudo começou, ficaram em um modestíssimo terceiro plano.
É um vínculo de simpatia que nos une a esses três pequenos enclaves de História em um Paraná formado basicamente por municípios muito jovens. Por isso, quando acabar este medonho mês de março, com suas chuvas, terremotos e tsunamis, e as três cidades se recuperarem e as rodovias voltarem a nos ligar fisicamente, quem sabe visitamos uma delas e resgatamos a outra ligação, a afetiva, que só está precisando ser reavivada.

Um comentário:

  1. Caro Eduardo, sendo teu ex-aluno de várias disciplinas de fotografia na UFPR, venho-lhe felicitar por este belo texto sobre as cidades do nosso litoral. Sempre tive uma sensação parecida no que diz respeito à pouca atenção que essa linda e diversa região atrai nos paranaenses da capital, algo que sempre esteve em minha extensa lista de intrigas. Teu relato sobre a Ponta da Pita, comparando-a com recantos europeus, é brilhante e serve para muitos outros lugares do estado, sendo que eu mesmo tive que sair do Paraná para ver com outros olhos a riqueza natural que temos. Curitiba, como todas as grandes metrópoles, abriu-se cada vez mais ao mundo, entretanto, fecha-se cada vez mais às riquezas de seu entorno. Desejo que Antonina e Morretes sigam exatamente do jeito que são, com seu jeito bucólico e de volta no tempo, sem se render ao turismo de massa e aos modismos que descaracterizam tantas cidades interessantes mundo afora.

    Marcello Guedes de Castro
    Brasília/DF

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