sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Em tempo


Procissão da Padroeira/Acervo - década de 50
Apesar de não mais frequentar nenhuma religião, respeito a fé das pessoas e a história dos nossos primeiros povoadores, que tiveram na religião um de seus alicerces para a construção da cidade em que vivemos.
Por isso acompanho quase que frequentemente – há mais de trinta anos – as festas da nossa cidade desde a mais pagã até as religiosas.
Meu olhar fotográfico vem registrando ao longo do tempo sentimentos e comportamentos deste evento. Posso até afirmar que o tempo me proporcionou um olhar bem crítico – no sentido da análise – sobre vários prismas.
Quanto ao aspecto religioso da festa nunca dou meus pitacos, pois é uma praia que reservo aos entendidos e envolvidos com suas crenças e estratégias.
Já outros aspectos, principalmente quando ultrapassam os limites territoriais dos promotores, sempre mando um recado e infelizmente o que mais tenho criado é uma total antipatia as minhas idéias. Bem fazer o que?
Considero a procissão o momento visualmente mais rico da cerimônia. São milhares de pessoas com seus mais diversos sentimentos e desejos, caminhando em conjunto e isolados ao mesmo tempo.
Os mais devotos - que rodeiam imagens e sacerdotes, fazem questão de carregar o andor, os personagens quase sempre são os mesmos dos últimos dez...vinte anos. Os famosos carregadores-de-santo.
O que sempre muda é a presença dos políticos e candidatos em tempo de eleições, que fazem da cerimônia religiosa uma vitrine para seu eleitorado. Pura hipocrisia.
No primeiro ano do mandatário é marcante a presença de vários secretários na procissão, sinalizando para a platéia um ar de coesão e grupo. Depois, com o desgaste natural da administração, vai acontecendo um certo esvaziamento e o prefeito quase que solitário acompanha a corte, como mera obrigação representativa.
Quando os interesses mudam, os partidários que antes participavam da mesma “caminhada de fé”, hoje se separaram, pois não mais “comungam” os mesmos interesses. E cada um monta seu grupo.
Interessante também é sentir o “milagre” da aparição. Em um passe de mágica “velhas raposas” sumidas do nosso cenário cotidiano, aparecem para espanto de todos e usam a manifestação religiosa para novamente se apresentar ao eleitorado desejado.
O ressureição desses seres não tem nada a ver com milagre. É pura reação proporcionada pela má gestão dos seus sucessores e a total descrença em nós mesmos.

Após a passagem de mais esta “calorosa festa”, para encerrar foi realizada pelos promotores um “bingão” em plena praça pública, com distribuição de prêmios à comunidade sonhadora, crédula e muitas vezes ingênua.
Já os políticos - agora caindo na real - deverão colocar carga máxima em suas campanhas eleitorais, na tentativa de nos convencer que suas propostas são as melhores para nossa cidade e que possamos contar com uma gestão nova e participativa, comprometida com as reformas que tanto queremos e ainda não aprendemos a fazer.
Tenho dito.

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