Publicado em 11/04/2011 e no livro "Tenho Dito" 2012.
O 11 DE MARÇO
O dia 11 de
março de 2011 será marcado pelos
episódios naturais ocorridos em nossa cidade. A bela “deitada-à-beira-do-mar”,
como dizia o poeta, acordou assustada com as notícias nunca divulgadas de
enchentes e deslizamentos de morros em seu ventre e entorno, causados pela
quantidade de chuva torrencial que se abatia.
No dia anterior,
a natureza já havia traçado um desenho do que estava para acontecer, quando
começou chover em quantidade e volume nunca vistos, descendo dos morros, alagando os
pontos mais baixos e dando o primeiro indício com o deslizamento no Morro do
Bom Brinquedo, no coração da cidade.
Mas foi na noite
do dia 10, quinta-feira, e amanhecer do dia
11, sexta, que presenciamos o maior volume de chuva aqui registrado.
A quantidade e a
força da água foram tão intensas que os telhados das casas indicavam que todos
iriam desabar. As centenárias telhas de algumas casas históricas não resistiam
a tal quantidade de água e gotejavam por inteiro, causando pânico aos
moradores. As luzes se apagaram, os telefones ficaram mudos e o abastecimento
de água potável foi interrompido.
Mas foi em torno
das 14h que começamos a perceber a
verdadeira consequência das intensas chuvas, quando aconteceram os
deslizamentos no bairro das Laranjeiras. Dois morros no seu entorno não
suportaram tanta água, deslizaram e levaram árvores, pedras e lama, soterrando
grande parte das moradias e fazendo uma vítima fatal. Em outras localidades também
aconteciam deslizamentos, como na Graciosa de Cima, no Bairro da Caixa D’Água,
Buraco da Onça e no km 4. Somente não houve mais vítimas fatais nos
soterramentos devido ao trabalho dos policiais do Corpo de Bombeiros, que, aos
primeiros sinais, retiraram os moradores. As ruas centrais se transformaram em
verdadeiros rios e todas as casas abaixo do nível das ruas foram tomadas pelas
águas. Bairros inteiros foram alagados.
Fomos todos
vítimas, independente de grau de perda. A noite foi longa, mais ainda para os
desabrigados que perderam tudo e para centenas de desalojados que foram
acolhidos em igrejas e escolas municipais. O momento era indescritível de pura
tristeza, choro, pânico e desalento. Ninguém acreditava que tudo aquilo estava
acontecendo conosco, pois estávamos acostumados a ver este tipo de cenário
somente pela televisão. Em outras comunidades.
As autoridades
constituídas começaram imediatamente
suas tarefas de abrigar as pessoas, cadastrá-las e coletar doações para
minimizar o sofrimento. A Defesa Civil fez sua parte e a maioria da comunidade
não mediu esforços para ajudar. Um enorme mutirão aconteceu. Parecia que
estávamos em guerra. Som de helicóptero tangia nosso amargo silêncio e dezenas
de veículos cruzavam nosso olhar, carregando móveis, mantimentos e distribuindo
água potável para a população. Autoridades de todos os escalões nos visitaram e
viramos noticiário nacional.
O dia 11 de
março das tão cantadas chuvas nos
pegou de maneira diferente, de surpresa, sem estarmos preparados, apesar de “termos consciência” da natureza do nosso hábitat e da
fragilidade do nosso solo. A natureza reagiu e mandou seu recado. Espero que
tenhamos ouvido, visto e refletido para agirmos com mais sabedoria e respeito.
Nossa cidade não é mais a mesma depois do dia 11 de março de 2011.
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