terça-feira, 23 de abril de 2013

HISTÓRIAS E ESTÓRIAS XIV - 23 DE ABRIL

Caserna (sede) dos Escoteiros - 1965

O 23 de abril

No tempo que fui escoteiro entre os 12 e 15 anos de idade, lá pelos idos da década de sessenta. Seu Maneco Picanço – chefe da tropa – reunia o pessoal para comemorar o Dia do Escoteiro. Um dia logo após as comemorações do Descobrimento do Brasil – 22 de abril, e de Tiradentes – 21 de abril - datas também por nós comemoradas com hasteamentos de bandeiras, cânticos de hinos, desfiles, jogos e muitas guloseimas.

No período matutino, lá íamos nós garbosos, enfileirados prestar homenagem aos escoteiros falecidos, com visita programada e obrigatória ao Cemitério Bom Jesus do Saivá.
Ao pé do cruzeiro, seu Maneco lembrava sempre de vários companheiros, principalmente dos “heróis” que fizeram a caminhada a pé de Antonina ao Rio de Janeiro (1941) para entregar ao Presidente Vargas, uma mensagem do povo antoninense, solicitando a reabertura das agências estatais do Loyde Brasileiro e da Cia. Nacional de Navegação Costeira, ora fechadas em nossa cidade.
Ao término daquele momento de reflexão, voltávamos para nossa sede – a Caserna – e quase sempre organizávamos uma pequena “refeição tropeira” ao pé de uma fogueira.
No período da tarde, o chefe passava inspeção aos acantonamentos – pequeno abrigo que sediava uma patrulha, célula que estruturava a tropa.
Todos primavam pela organização, limpeza e capricho, que poderiam se transformar em premiação por parte da chefia. Minha patrulha era a da Águia.
Aconteciam também jogos entre as patrulhas e o ponto mais agradável, era o canto do Quebra-Coco. Onde cada participante cantava um versinho e a fila rodava;

“Quebra-coco...quebra-coco, na ladeira do Diá*;
Escoteiro quebra-coco e depois vai trabalhar”.

“Namorei uma menina...que tinha dezoito anos,
Ela não tinha peito...fazia peito de pano”

Esta era a trovinha mais audaciosa, que a chefia censurava, mas a “galera” aplaudia.

As comemorações do Dia do Escoteiro, também incluíam as celebrações a São Jorge, considerado nosso padroeiro.
À noite a festa continuava. A tropa se reunia e caminhava até o morro do bairro da Caixa D’Agua, onde participávamos de uma cerimônia umbandista - em um terreiro local - oferecida ao nosso padroeiro São Jorge.
Esta era a festa mais esperada pela garotada, pois a comunidade se orgulhava da nossa visita, onde éramos contemplados com todos os tipos de assédios: doces, bebidas e presentes.
Tudo não durava mais que três horas e quando a celebração terminava, voltávamos alegres, felizes e cansativos para a nossa Caserna, onde o brado “Vale Porto” – nosso grito de guerra - dispensava a tropa, para a garotada retornar as suas moradias.
Assim comemorávamos o dia 23 de abril, Dia de São Jorge e dos Escoteiros.
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*Diá: espaço de tempo que vai do nascer ao pôr do sol. / Claridade, luz do sol: o dia começa a despontar. / Tempo durante o qual ...

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