Como você descreveria
a identidade do povo antoninense?
Nós sofremos um grande problema de identidade com a falta de
perspectiva econômica, pois estamos há mais de trinta anos tentando sobreviver
ao golpe econômico que aconteceu a partir da ditadura de 1964. Com o fechamento
de indústrias e do porto, e investimento maciço na área portuária de Paranaguá,
a nossa economia foi à decadência. Então, quem mais sofre com a decadência
econômica é a população. Seus filhos precisam sair dos seus locais para
encontrar novos horizontes. Nisso eu me incluo, porque saí daqui com 21 anos e
retornei com 54. Penso que hoje vivemos um momento de resgate da identidade
cultural, porque temos a possibilidade de desenvolvimento de um projeto de
recuperação da história da cidade, quando o governo federal decreta o
tombamento da cidade como Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Acho que
aí começa um novo período, que é o resgate da nossa auto-estima a partir da
reconstrução da nossa história. Hoje, a história de Antonina pode ser
considerada latente, mas não patente. Se precisarmos de uma documentação
histórica, contamos somente com o livro do Ermelino de Leão, mas essa obra é de
1918, ou seja, passamos quase um século sem contadores de história e
pesquisadores. Então, acho que temos um problema de falta de identidade.
Se não temos uma
identidade formada, temos algumas características. Você pode falar dessas
características?
Eu diria que vivemos em uma cidade com vocação natural para
a atividade portuária, tanto é que até a metade do século XX, ela foi sempre
explorada como o maior polo econômico e portuário do Paraná. Ela ainda tem essa
vocação, mas, com o desenvolvimento econômico mundial, ela deixa um pouco essa
sua vocação e sua atividade econômica se volta ao turismo. Infelizmente as
autoridades municipais, estaduais e federais ainda não deslumbraram essa
vocação que a cidade tem.
Hoje, com o tombamento, não se pode instalar indústria
poluente, tem que ser indústria criativa. A característica da cidade é seu
espírito e vocação turística e ecoturismo, porque além de fazermos parte de um
processo de proteção cultural, Antonina faz parte de uma área de preservação
permanente. Então, temos tudo para crescer, nossas características estão
abertas, temos um potencial enorme para o crescimento sustentável. Essa é uma
das nossas características - que eu percebo. Sem dúvida, a parte cultural e que
me toca - porque me dediquei à vida inteira a essa área - é o nosso maior
potencial, através da sua história, do seu memorial arquitetônico, dos seus
eventos, das suas festas religiosas, pagãs e culturais. Antonina já tem alguns
marcos culturais como eventos, mas precisa desenvolver-se como sendo ela mesma
o evento permanente, e não acontecimentos isolados. A cidade precisa ser um
marco cultural o ano inteiro, tem potencial para isso, é conhecida
nacionalmente, mas desconhecida localmente.
Continua...na próxima semana
*entrevista realizada em 18.05.2013 a Beatriz Helena Furianetto (doutoranda da UFPR)
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