Primeiro é a vontade política, que passa por algo chamado
educação e conscientização do que eu sou e para onde eu vou. Nós não temos
conscientização por falta de educação. Então, a educação é elemento fundamental
para a formação da personalidade e da consciência. Não adianta apenas vontade
política se a população não tem consciência, mas a sociedade consciente obriga
a autoridade a fazer, e a sociedade não vai votar em uma autoridade que não
esteja envolvida com a sua identidade.
Hoje o grande problema é o conflito de identidades, não há uma
conscientização de quem somos, dos valores que temos e sem isso não vamos a
lugar algum.
O que os antoninenses
podem fazer para construir uma identidade cultural?
Tudo passa pela educação, é um processo a médio e longo
prazo. A maior dificuldade para diminuir esse prazo se encontra na própria
comunidade, para se criar grupos que possam trabalhar em comum, para que esses
valores sejam conversados junto com a comunidade.
O Paraná tem uma diversidade cultural, muitos imigrantes,
mas não é o nosso caso aqui, nós somos índios. Quando os portugueses chegaram
aqui encontraram os carijós. Hoje, não temos mais os índios nem os portugueses,
os japoneses e os alemães que vieram depois foram embora na guerra, ficaram
alguns italianos em Morretes. Por exemplo, o caldo cultural de Morretes, cidade
vizinha, é totalmente diferenciado de todas as outras cidades, lá se encontra
uma certa identidade porque Morretes ainda é considerada uma “colônia
italiana”. Em Antonina nós não temos mais isso, perdemos com o tempo, com a
decadência econômica essas famílias procuraram outros horizontes. Ficaram aqui
pequenos comerciantes, uns comércios de sobrevivência... Farmácia, barbearia,
padaria, mas não tem uma atividade econômica que dê sustentabilidade para a
própria identidade da cidade.
Hoje, em Antonina, é
possível perceber traços dos índios e portugueses?
Acho que temos um pouco dos costumes indígenas na
alimentação, na contemplação do mar, dessa paisagem caiçara, que é uma paisagem
altamente diferenciada da serra acima. Esse é um dos potenciais que falávamos,
e que pode ser transformado em atrativo turístico. Mas temos que ter um cuidado
enorme para que o turismo seja sustentável, em que a consciência da cidadania e
da natureza seja maior que os interesses do turista. É complicado quando o
turista se torna o centro das atenções, ele vem e explora, é o turismo pelo
turismo, a troca do capital pelo produto e serviço, isso é horrível. Então
temos que ter cuidado ao transformar nosso potencial em produto e serviço.
A festa também pode
ser um caminho para atrair turistas?
Acho que é um grande caminho, mas tenho um certo receio com
festa porque ela deveria se chamar evento: como a festa vem, ela vai embora.
Então, a festa deve ser realmente uma representação da comunidade.
Continua na próxima semana...
*entrevista com Eduardo Nascimento (Bó) concedida a Beatriz
Helena Furianetto (doutoranda da UFPR) 18-05-2013