 |
Estampa da Padroeira |
Dia 15 de agosto é comemorada a festa da padroeira da cidade, Nossa Senhora
do Pilar.
O escritor Ermelino de Leão¹,
nos conta que... “no pequeno povoado de Guarapirocada, quando o sesmeiro
Sargento-Mor Manoel do Valle Porto – considerado o fundador do povoado -
aportou por aqui em 1712, trazendo inúmeras famílias para trabalhar em suas
lavouras e na mineração, se estabelecendo na Ilha da Graciosa (hoje Corisco)”.
No povoado, duas irmãs Maria e
Tereza (somente se reporta a Tereza – Maria aparece como suposta em alguns
escritos) eram devotas fervorosas de Nossa Senhora do Pilar. Possuíam uma
estampa da virgem e todo dia 15 de agosto reuniam as pessoas do povoado e
celebravam rezas em seu louvor. Valle Porto se aliou aos devotos e entusiasmado
com o fervor da crença e mandou construir uma capela para que os moradores
pudessem melhor render o culto à santa.
Enquanto a obra era erigida, encomendou uma imagem da
Virgem do Pilar a um santeiro da Bahia, que julgando desconhecimento do
contratante, lhe enviou a imagem de outra Nossa Senhora, a da Soledade, mas a
“trapaça” foi percebida e a imagem foi devolvida, até anos mais tarde chegar a
encomendada.
“A princípio foi construída a Capella-mór, suficiente para o culto que os
cinquenta casais fregueses, poderiam tributar á virgem, naqueles remotos
tempos; e quando chegou da Bahia, a verdadeira imagem de Nossa Senhora do
Pilar, pode Valle Porto, com grande gaudio, deposital-a no seu altar, doando-lhe,
segundo narra a tradição, os terrenos circunvizinhos, para o seu patrimonio”, diz Ermelino de Leão¹.
A construção da capela foi autorizada no dia 12 de setembro de 1714, pelo bispo do
Rio de Janeiro, D.Frei Francisco de São Jerônimo, e o povoado passou a ser
denominado de Freguesia de Nossa Senhora do Pilar da Graciosa, onde hoje se
encontra o santuário, marco importante para a formação do povoado e de sua
religiosidade.
As Festas de Agosto²
Foi devido a construção da capela que os moradores da localidade ficaram conhecidos como
Capelistas. As festas a cada ano que passava, eram bem mais animadas. Centenas
de pessoas moradores da vila e das comunidades próximas, não mediam esforços
para marcar presença no dia 15 de agosto, em agradecimento ou para pedir as
bênçãos da santa padroeira. As tradicionais barraquinhas – coisas da igreja–
surgiram somente no início do século passado, lá pelos anos 30 e serviam para
angariar recursos para o Hospital de Caridade da cidade, que estava localizado
perto da matriz.
E foram nas décadas de 30 a 60 onde aconteceram as maiores festas.
Milhares de romeiros vindos dos mais distantes lugares, de barco, de ônibus ou
de trem, chegavam a Antonina, para comemorar a tão esperada e anunciada Festa
de Agosto, em homenagem a Nossa Senhora do Pilar.
O largo da Matriz - depois denominado de Praça da República e hoje
Cel. Macedo - ficava todo enfeitado para o acontecimento. As pessoas
compravam roupa nova, pintavam suas casas e aumentavam seus suprimentos para
poderem receber e hospedar os amigos e familiares. Grande queima de fogos de
artifícios marcava a data. Cada noveneiro queria apresentar sempre um maior
número possível de fogos, e a disputa era acirrada para se conseguir sempre
chegar em primeiro lugar. Eram famosas as novenas dos estivadores e dos empregados
das Indústrias Matarazzo. Mas ficava sempre para o dia da festa o maior
espetáculo pirotécnico.
A partir dos anos 70, quando o dia 15 de agosto deixa de ser feriado
santificado nacional, a movimentação de romeiros começa a diminuir e foi sendo
lentamente percebida pela população local. O número de barraquinhas – termômetro
do sucesso do evento - diminuía a cada ano que passava, e foi pouco a pouco
perdendo o que de mais tínhamos orgulho: a grandiosidade da festa da nossa
padroeira N.SRA.do Pilar. Mesmo assim tivemos algumas e pontuais grandes
festas, como a da família Tanaka em 1975 e do Reencontro em 1986. Nos anos
oitenta e noventa pouco foi feito para resgatar a grandiosidade da festa. A
desativação da ferrovia, somada ao desaquecimento econômico da cidade com o
encerramento das atividades portuárias, enfraqueceram ainda mais as nossas
comemorações.
¹ - “Antonina, Homens e Factos, 1918.
² -
Publicado
em 31 de julho de 2003 no blog palavradobó ©eduardonascimento