segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Divã do Jekiti, Em Superagui...vou buscar a chave.

 


CAUSOS INÉDITOS

EM SUPERAGUI...VOU BUSCAR A CHAVE

 Nas décadas de oitenta e noventa, André Carraro foi meu amigo e companheiro de viagens de aventura pelo litoral. Em 1986 resolvemos visitar a Ilha de Superagui/Guaraqueçaba-PR.  Dininho, amigo nosso e de nossas famílias – gerenciava uma empresa na ilha, Capela Pastoril. Nos ofereceu uma casa para nos hospedar durante estada na ilha. Bom salientar, que desconhecíamos a relação dos moradores da comunidade com o empreendimento da tal Capela.

Nos preparamos para a tal aventura, pois na época não existia pousada ou qualquer tipo de atendimento aos visitantes. Levamos uma pequena barraca, alimentos e apetrechos para preparar a comida. Pegamos a lancha em Paranaguá e seguimos caminho.

 Chegamos em Superagui por volta do meio-dia, e nos foi dado um bilhete que deveria ser entregue para um morador da ilha – não lembro o nome, responsável pela manutenção e administração da casa que nos foi oferecida. Vou tratá-lo como João.

 Chegando lá, fomos ao encontro do João da Capela, que rapidamente foi encontrado, por se tratar de uma pequena comunidade de pescadores. Nos apresentamos como amigos do Dininho e entregamos o tal bilhete autorizando nossa hospedagem.

João, gentilmente nos cedeu um carrinho de mão para ajudar a carregar nossa bagagem e pediu para irmos caminhando pela praia que há uns três ou cinco quilômetros estaria nossa hospedagem. Ele seguiria de bicicleta por uma trilha até nos encontrar.

 Aportamos em tal casa e o João estava a nossa espera. Fomos comunicados que precisava se comunicar com o senhor Dininho para confirmar a autorização, mas que não havia conseguido tal comunicação via telefônica. Assim retornaria ao conseguir tal contato.

A casa era bem ampla e continha uma área na frente. Nem nenhuma pressa, nos organizamos naquele espaço externo e preparamos um “rango” rápido a espera da chave. João aparece pela segunda vez e nos comunica que ainda não conseguiu se comunicar e continuamos “acampados” na área da casa, mas agora preocupados com a situação.

 Após várias tentativas sem êxito de contato entre João e a base em Curitiba, continuávamos a esperar João com a chave da casa para nos hospedar e realmente aproveitar nosso passeio. Como em todas as tardes de verão, naquela não foi diferente e desabou um aguaceiro com muito trovão e raios. O ‘tempo fechou’ e nós apenas protegidos em uma área externa da casa. Mas, eis que surge envolto aquele temporal um vulto de bicicleta e capa amarela... Era o João. Ufa...parece que finalmente conseguiu autorização. Mas para nossa surpresa, ainda não tinha conseguido contato e decidiu que não nos acolheria.

Nesse momento, o André virá e questiona a posição do encarregado: Não vai abrir a casa? O senhor está desobedecendo uma ordem do gerente e estamos aqui desde meio-dia esperando pela hospedagem. Se isso não ocorrer agora, vamos falar com nosso amigo Dininho e o senhor poderá ser prejudicado. Isso é uma desobediência!

Perante aquela situação de impasse, o encarregado se viu em dificuldades resolveu mudar de posição:  – Está bom, vou abrir..., mas fica sobre responsabilidade de vocês.

 Ufa...então abra! Reforçamos. – Vou buscar a chave que está lá em casa! Bradou o encarregado, e seguiu de bicicleta pela quarta vez a distância entre a tal desejada casa e sua moradia.

 Bom salientar que a casa do encarregado era no povoado e a casa da Capela ficava a cinco quilômetros, percurso que ele já tinha feito umas quatro vezes. 

 O João retorna em menos de meia hora, isso abaixo de muita chuva e escuridão e finalmente abre a casa.  Liga o gerador de energia e mostra todos os cômodos, instalações e utensílios que poderíamos utilizar durante nossa estadia. Apenas salientou que não deveríamos adentrar em um aposento.

 Não entre

Acolhidos, a primeira coisa que desejávamos era tomar um banho de água doce. Caixa d’água abastecida, fizemos fogo em um fogão a lenha, pois a água do chuveiro era aquecida em uma serpentina do fogão. Difícil foi controlar a temperatura da água, mas o banho nos rejuvenesceu. Preparamos uma janta rápida, mas comemorativa, pois agora era planejar nossa estadia na ilha, passeios e conhecimento.

 Antes de recolhermos em nossos leitos, como todo jovem curioso e desafiador, resolvemos ultrapassar o limite atribuído, de não adentar em um aposento. Então, resolvemos ver o que continha naquela sala que nos foi negado o acesso. Porta sem chaveamento, adentramos e encontramos um equipamento de radiotransmissor, mapas, documentos e um armário embutido no qual continha algo que, por mais honestos que fossemos e sem vicio de bebidas, não tornar-se-ia despercebido: alguns litros de whisky Grant.

 Como tínhamos amizade intensa com o gerente Dininho, achamos que deveríamos burlar a bebida, principalmente o litro que estava aberto...e caso ele tivesse conhecimento, tudo não passaria de uma brincadeira.  Então saúde...e boa estada em Superagui.

 Retornando a Antonina, era tempo de carnaval e saímos fantasiados pela avenida, com um cantil cheio de Grants, e encontramos Dininho com sua esposa assistindo a festa. Oferecemos a bebida e falamos: É whisky! E ele não deixou por menos e deu um gole.

Passaram-se alguns dias, Dininho foi a farmácia e falou com o André que o encarregado da empresa, o João, o comunicou que tínhamos retirados um litro de whisky do quarto secreto da casa do Superagui. E André salientou: E aquele whisky que você tomou na avenida durante o carnaval, acha de quem era? Seu mesmo! E tudo virou uma grande chacota.

 

Este e mais de 50 causos fazem parte do livro
DIVÃ DO JEKITI - 
causos antoninenses

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sexta-feira, 10 de novembro de 2023

DIVÃ DO JEKITI...o livro. Causos antoninenses. Lançamento


LANÇAMENTO DO LIVRO
DIVÃ DO JEKITI
causos antoninenses

Mais de 50 causos contados pelos frequentadores do local. 
Gravados, transcritos e editados por
Eduardo Nascimento.  
São 112 páginas com algumas imagens apenas ilustrativas.

“Não poderia ser diferente. Depois de passar pelo Blog do Eduardo, tudo virou mais um livro, que ao todo já são sete. Eduardo, homem de riso e lágrimas soltas, amigo do peito, artista visual, fotógrafo, um dos idealizadores do Festival de Inverno da Universidade Federal do Paraná em Antonina, professor aposentado dessa mesma instituição, apaixonado pela sua pequena urbe, é autor e organizador de mais este folhoso. Como ninguém, ele sabe tocar o ontem, criar permanência e fazer o amanhã. No registro dos trinta autores e mais de 50 causos, com certeza o leitor vai se divertir, compactuar, chocar, mas indiferente não ficará.”

Texto extraído da apresentação de Marília Diaz



 "A história de um lugar, se constrói com a oralidade de seus moradores."

Os livros poderão ser adquiridos on-line.
Solicite pelo whatSapp 41 99906-4081

...com certeza o leitor vai se divertir, compactuar, chocar, mas indiferente não ficará.

quarta-feira, 4 de outubro de 2023

DIVÃ DO JEKITI, o livro. Causos Antoninenses.

Divã do Jekiti, o livro. Causos antoninenses, mais de cinquenta causos 
narrados por mais de 30 moradores. Breve lançamento. Aguarde!


 

segunda-feira, 2 de outubro de 2023

OUTUBRO TEM ANTONINA BLUES FESTIVAL

O Antonina Blues Festival chega à sua sétima edição com muitas atrações musicais e atividades culturais entre os dias 12 e 15 de outubro de 2023.

Serão cerca de 40 shows e outras atividades culturais como oficinas de gaita, palestra sobre Samba & Blues e intervenções culturais para as crianças no dia 12.

Entre os destaques da programação está a apresentação da banda catarinense TheHeadcutters, uma referência no Blues Brasileiro e reconhecida mundialmente por difundir o gênero Chicago Blues. Outra grande confirmação é o grupo Lucian e os Panteras, banda formada em São Paulo que fará sua estreia em palcos paranaenses. Tony Caster and The Black Mouth Dogs e Booze n’ Blues, bandas de Curitiba e São Bento do Sul, respectivamente, também são muito aguardadas pelos fãs do gênero.

“O festival já faz parte do calendário da cidade e é aguardado não só por quem é fã de Blues. Ele é um potencializador de muitas fortalezas de Antonina, como a cultura e as belezas naturais. Sem falar na importância econômica, pois movimenta a cidade inteira. E temos expectativa de receber pessoas de outros estados, especialmente pelas bandas de fora e pela importância que o festival vem construindo. Tudo isso tem uma importância gigante para a cidade e região”, conta Marcos Peretti Maranhão, idealizador do festival.

PROGRAMAÇÃO sujeita a alterações

12 de outubro (quinta-feira)

12h30 James Marshall Band – Estação Ferroviária

 14h Houndcats – Travessa do Marinho

15h Didley Duo – Travessa do Marinho

16h Nikole Gouveia & Funckin Minds – Feira Mar

17h Felipe Ito – Ponta da Pita – Calçadão

18h Diego Nicolay (Pocket Show) – Vagante

19h Decio Caetano, Bernardo Manita, e Batera – Feira Mar

21h Mr. Blues – Feira Mar

23h Mudslide Blues – Feira Mar

24h Trio Satan – Benedito

 

13 de outubro (sexta-feira)

12h30 Willie Dynamite e Augusto Blues – Estação Ferroviária

14h Diego Nicolay – Travessa do Marinho

15h O Lendário Chucrobilly Man – Travessa do Marinho

16h Boogie Jump Blues Band – Feira Mar

17h Fuzzuês – Calçadão

18h30 Ícaro Chaves – Vagante

19h30 Bessie’s Duo – Feira Mar

21h Booze n’ Blues – Feira Mar

23h Lucian & Os Panteras – Feira Mar

24h Alexandre Mello e Garça FNM – Benedito

 

14 de outubro (sábado)

12h30 Ícaro Chaves – Estação Ferroviária

14h Hard Soul Combo – Travessa do Marinho

16h Big Moris e Johnny Larapio + Vlad – CasaVerde

17h Sonora Blues – Calçadão

17h Sangue de Limão – Ponta de Pita

18h Booze n’ Blues – Vagante

19h Blues Fellas – Feira Mar

20h15 Marrecas River Blues – Feira Mar

22h Bartenders – Feira Mar

23h Lorenzo Thompson com The Headcutters – Feira Mar

24h Jam Session – Avenida

 

15 de outubro (domingo)

11h30 Dose in Blues – Feira Mar

14h GreyHound Dogs – Feira Mar

15h30 Tony Caster and Black Mouth Dogs – Feira Mar

18h Cat Storm – Ponta da Pita

19h30 Os Carusos – Ponta da Pita

21h Jam Session – Ponta da Pita

 

Fonte: https://massanews.com/noticias/parana/antonina/antonina-blues-festival-2023/

domingo, 24 de setembro de 2023

DIVÃ DO JEKITI... Causos Antoninenses. O livro.

 

Novo livro a ser lançado em breve. Divã do Jekiti Causos Antoninenses, é um coletânea de causos publicados no blog e alguns ainda inéditos, preparados para enriquecer nossa historicidade popular. 
São mais de sessenta histórias e trinta contadores. Quem sabe faz a hora...não espera acontecer. 
Aguarde! Em outubro tem novidade na banca.


terça-feira, 15 de agosto de 2023

O AUGE DA FESTA DE AGOSTO...Mais uma no Divã do Jekiti

 

Hoje, em comemoração a Festa em homenagem a Padroeira, quem está no Divã do Jekiti é minha amiga LIZ Sigueira. Conta aí Liz:

O AUGE DA FESTA DE AGOSTO

Houve um tempo, distante que não volta mais, em que soltavam foguetes e morteiros do alto do Morro do Bom Brinquedo. E as crianças e adultos empolgados gritavam (bucetummm)

Em um certo ano, chegando la nas alturas do morro, tinham que armar toda a estrutura necessária para tal ação, porque todos era foguetes de rabo. Tinha uma armação de madeira cheia de furinhos e assim fazia uma fileira de foguetes, duas, três, quarto até mais.

Uma certa vez não se sabe o que aconteceu de errado, algo aconteceu de uma maneira inesperada, o fogo se espalhou, era rabo para todo lado, ele o fogueteiro, um cidadão bem conhecido na cidade por ter um sobrenome e apelido curioso, Zeco Pinto Loco, pegou a filha mais velha que sempre o acompanhava, pelo cabelo e jogou no mato. Acabou como os fogos naquele dia. Agora não se pode nem seque soltar um BUcetummm. Os morteiros eram soltos de hora em hora, da meia-noite de um dia até a hora da novena, principalmente a estiva. Maria, a segunda filha, morri de medo, gritava, tinham que trancar ela no quarto, e quando ela ia, ao ver as pernas de seu pai no meio da fumaça no alto da igreja, ela gritava - “Meu pai está no fogo” ela corria para casa da diretora D. Tidoca. E se casou com um fogueteiro, mas essa já é outra história.

Lizangela Sigueira  13 ago.2023

Lizangela Sigueira (foto Facebook)

O Divã do Jekiti é uma coluna publicada no Blog Palavradobo, com causos e histórias contadas pelos frequentadores do Jekiti, lugar de convivência social – ponto de ônibus com dois cafés em Antonina. As conversas-histórias são gravadas, subscritas e postadas pelo editor do blog. 

Em breve será publicado em livro físico. Aguarde!

segunda-feira, 7 de agosto de 2023

MEMÓRIAS DAS FESTAS DE AGOSTO


MEMÓRIAS DAS FESTAS DE AGOSTO

A Festa da padroeira ao longo dos tempos, devido sua importância e grandiosidade para a cidade e região, passou a ser conhecida como “FESTA de AGOSTO” em louvor a padroeira Nossa Senhora do Pilar. Toda a cidade se preparava para a grande data, além da comunidade religiosa ligada a veneração da santa.

Preparativos...Casa pintada e roupa nova

Não somente a igreja matriz se preparava para a grande festa. A praça que outrora também foi Praça da Matriz, ganhava roupagem nova, seus canteiros floridos e seu chafariz iluminado jorrava água com abundância. Os moradores entusiasmados se esforçavam para pintar as fachadas de suas residências, pois sabiam que receberíamos milhares de visitantes durante as novenas e principalmente no dia quinze, o dia da festa.

A comunidade comprava roupa nova. As lojas de Madureira, Feres e Cecym aumentavam seus estoques de calçados e roupas das mais diversas. Benito e Domício, dois alfaiates não venciam as encomendas de novos ternos para a garotada chique e aos senhores de bom gosto, para marcar presença na missa festiva.

Comidas, brinquedos e as barraquinhas

Um dos termômetros da avaliação da festa era o número de barracas que se instalavam em torno da praça Coronel Macedo e adjacências.  Os brinquedos faziam a festa da garotada, balão a gás, Chama Namoro e os famosos “Troço de cocô”, uma réplica meio malfeita de serragem e cola imitava uma bosta...e fazia sucesso devido o motivado grau de surpresa.

Guloseimas enchiam os olhos dos passantes. Cocadas, maçã do amor, quebra-queixo, milho-verde, algodão doce e pipoca, além da famosa Barraca do Ferreira que ocupava todo o lado superior da praça, defronte a gruta da matriz, com seu “churrasco de igreja” que encantava a todos marcando presença por mais de 50 anos.  

Após a dia da festa tinha liquidação nas barracas de ferragens e utensílios de cozinha. As pessoas passavam carregadas de panelas, bacias, serrotes...etc. Sem falar o sucesso dos óculos que a garotada comprava, mas somente usava bem depois da festa, pois ninguém gostava de admitir que os óculos eram de barraquinhas.

De trem ou de ônibus

O trem chegava as 10 horas com um comboio de mais de vinte vagões, com romeiros principalmente de Curitiba e Paranaguá. E retornava as 21h após a grande queima de fogos.

Sensacional era a gente criança, de bicicleta pela avenida Conde Matarazzo a contar o número de ônibus de excursão, que facilmente passava de uma centena deles.

Alvorada e retreta

A alvorada musicalizada pela Banda da Polícia Militar, as 5h da manhã anunciavam o grande dia

Festa...aos estrondos dos rojões soltados pelos estivadores no morro do Bom Brinquedo. A banda também acompanhava a procissão com milhares de fiéis romeiros e após realizava retreta no coreto da praça alegrando ainda mais o sensacional show pirotécnico, anunciando o encerramento das festividades.

Bingo, roleta e outras coisitas mais...

Como a festa não era somente religiosa, rolava grandes barracas de jogos: tiro ao alvo, roleta, argola e bingo. Sem contar o tradicional leilão da matriz com o pregoeiro Delfino Fontoura. Muitas vezes recebíamos visitas de parques de diversão, espetáculos da ‘Mulher Macaco” e da “Samira” a mulher decapitada cujo corpo reagia. Um show para adultos e a garotada.

Cartazes

Anterior ao advento da digitalização e da imagem virtual, tínhamos o cartaz como um dos grandes veículos de divulgação. Tive o privilégio em ser autor de algumas peças. Creio que produzi o primeiro cartaz formato A2 sobre a festa, por solicitação do prefeito Paulo Virgílio Savarin, lá por 1980. E elaborei o primeiro com o título de Festa de Agosto, como popularmente era conhecida, mas sempre em homenagem a padroeira dos católicos e da cidade.

Cartaz de 1978 

Cartaz ded 1980

Cartaz 1989 (?)

Cartaz 2005 autor Jose Humberto-foto Eduardo Nascimento

E a festa continua...

Entre altos e baixos as festividades a padroeira continuam sendo realizadas. Marco importante, quando planejada a luz da natureza da nossa Vila Antonina. Concebida, protegida e tombada, pode muito bem ser um belo produto e atrativo cultural religioso. Respeitando a história, a vivência comunitária e o direito a informação e formação cultural das nossas crianças e jovens.

Eduardo Nascimento 07 ago.2023



quinta-feira, 20 de julho de 2023

O CAIXÃO JÁ ESTÁ COMPRADO...Mais uma do Divã do Jekiti.

 

Hoje nosso "paciente" é o amigo Jaime 'Argentino"...mais um no Divã do Jekiti.

Conta aí Jaime:

O CAIXÃO JÁ ESTÁ COMPRADO.

“O negócio foi o seguinte: eu trabalhava na fiscalização do Estado em União da Vitória. Aí, em uma madrugada passou um caminhãozinho e o motorista com um monte de notas fiscais de urnas funerárias. E meu pai já estava com a saúde muito debilitada, e pensei em comprar antecipadamente um caixão, assim evitaria ter que gastar uma fortuna na funerária em Antonina. Assim, pedi o catálogo... escolhi o melhor caixão que tinha...O mais caro...e falei para o rapaz: só compro se você me entregar em casa, porque não poderia deixar no meu local de trabalho. Ele concordou, pois na semana seguinte teria que entregar uma carga de caixões para o Chiquinho da Funerária, em Antonina.

Possou uns dias e aparece o caminhãozinho na porta de casa e minha mulher pergunta: - O que é esse caminhão aí? E respondo – Um caixão de defunto. – Eu não quero isso aqui...Aqui em casa não! Para não contrariar foi colocado na garage da casa do vizinho.

O caixão ficou na casa ao lado uns três anos, mas aluguei uma casa no centro da cidade e teria que entregar a casa do Matarazzo - onde eu morava e tínhamos que nos mudar. Aluguei um caminhãozinho – agora um outro, e enchemos de tudo que foi possível... móveis, barco... e lá estava o caixão.

Parte da mudança deveria ficar nos fundos da casa do meu pai. Chegamos lá, começamos a descarregar, colocamos o caixão na rua, mas de repente notei que na outra esquina vinha vindo meu pai com uma sacola de pães. Pensei, ele irá perguntar de quem é esse caixão e eu não poderia responder.  Falei para o Fiúza – meu ajudante, pega aquela placa de compensado e coloca em cima do caixão...E nos sentamos, assim ele não percebeu ao cruzar conosco.

Mas tínhamos que retirar o caixão da calçada e colocar nos fundos da casa sem ele perceber. Cheguei para minha mãe e a convenci em solicitar ao meu pai para ele comprar margarina no armazém - assim poderíamos colocar o tal caixão em sua casa, sem ele perceber. E foi assim.

Levamos o caixão, cobrimos e escondemos no fundo do terreno. Passaram uns cinco ou seis anos, e em um certo dia tivemos que mexer em uma lancha e encontramos o tal caixão, que quando tocado se desmanchou em pó, pois foi devorado por inteiro pelos cupins...ficamos apenas com os carregadores de metais nas mãos. O velho pai permaneceu vivo e os cupins comeram o caixão...e meu dinheiro, que não foi barato. He...he...he!”

Jaime Rivero “Argentino”

20 jul. 2023

Jaime Roveno narrando o causo...e o bloguista.
Foto: Lauro Gouvea.

O Divã do Jekiti é uma coluna publicada no Blog Palavradobo, com causos e histórias contadas pelos frequentadores do Jekiti, lugar de convivência social – ponto de ônibus com dois cafés em Antonina. As conversas-histórias são gravadas, subscritas e postadas pelo editor do blog. 

Em breve será publicado em livro físico. Aguarde!

quarta-feira, 21 de junho de 2023

TRISTE NOTÍCIA...mais um no Divã do Jekiti.

 

Hoje quem vai pro Divâ do Jekiti é meu amigo Herivelto Miguel Tavares, Ninoca. Pequeno grande homem de inúmeras histórias e causos, mas resolveu enviar um pouco, mas essencial, sobre a origem da familia Miguel Tavares, que para surpresa de todos, Ninoca agora virou ‘Primo’ contibuintes da grande familia libanesa que por aqui chegou e em sua maioria fincou comercio na Rua XV de Novembro, antiga Rua do Império. E assim nos descreve:

TRISTE NOTÍCIA

“Inicio do ´seculo XX, Antonina recebia muitos imigrantes principalmente libaneses, assim o tronco da minha familia “Miguel”, surgiu de uma família libanesa Rijos, Naima, José e Assad, esse último meu avô, que conheceu minha avó Maria Francisca, Chiquinha, o qual teve um relacionamento, que deu início a família Miguel Tavares. Meu avô Assad Miguel, vendia de porta em porta, como roupas prontas, tecidos e sapatos, eram chamados de mascates. Porém, não sei porque motivo, foi trabalhar em uma cidade em Santa Catarina, onde morou em um hotel, que infelizmente durante a noite sofreu um incêndio, sendo uma das vítimas  fatais do episódio. Ná época era usado o telegrama como meio de comunicação entre as cidades e a familia surpresa recebeu a seguinte informação: lamemntamos informar que Assad morreu queimado! Até hoje guardamos o documento original recebido, com a triste e trágica notícia do falecimento do meu avô Assad. Triste mas interessante: Assad morreu queimado.

Herivelto Miguel Tavares  01 jun.2023

Ninoca - Foto arquivo facebock 
















O Divã do Jekiti é uma coluna publicada no Blog Palavradobo, com causos e histórias contadas pelos frequentadores do Jekiti, lugar de convivência social – ponto de ônibus com dois cafés em Antonina. As conversas-histórias são gravadas, subscritas e postadas pelo editor do blog. 
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terça-feira, 6 de junho de 2023

PACTO DE MORTE...Mais um no Divã do Jekiti


Frequentadores do Jekiti.

Hoje quem está no Divã do Jekiti é meu amigo Lindomar Santos – Garça, que relatará fato ocorrido na juventude e tornou-se segredo entre os amigos e jovens da época. Conta aí Lindomar:

PACTO DE MORTE

“Morava em Curitiba com a turma de Antonina, no saudoso 1007 – apartamento do Edifício São Paulo (na época famoso Balança...mas não cai) na Rua Cruz Machado,311, 10 andar...apt.1007, onde agregava antoninenses (república). O apartamento consistia em sala, quarto, banheiro e uma cozinha que só cabia um, de tão pequena. Eduardo se instalou na sala, porque ele era o locatário do imóvel, e nós no quarto – um amontoado onde dormía em camas e beliches.

Em 1972, fui pra Curitiba fazer cursinho...em pleno resquício da ditadura militar. Fazia cursinho Bardal a noite. Sexta-feira, após ter feito um lanche, chego no apartamento e lá encontro uma turma de antoninenses...uns dez. Todos no 1007. Lembro ainda de algumas pessoas: ... Xixo – que namorava a filha do Negromonte, Edson e André Carraro...entre outros...que me falha a memória.

Eles tinham vindo de um jantar em Santa Felicidade, e passaram no 1007 para fazer alguma coisa e seguir a noitada. Se não me engano, iriam em um bar onde Antonio Pelicano estaria tocando violão. Cansado, estava mais disposto a dormir, mas a insistência foi tanta que resolvi acompanhá-los. E lá fomos nós.

Descemos no elevador - naquela algazarra, pegamos a Cruz Machado sentido contramão – bom lembrar que na época na rua existiam inúmeros bares noturnos...bocas-da-noite, isso lá pelas 23horas, ou mais. Como a calçada da rua era muito estreita, formamos uma fila indiana e seguimos, mas, o Edson Negromonte colocou os pés e subiu em um fusca e começou a gritar, chamando a atenção de todos. Nisso, duas veraneios descaracterizadas - placas da Bahia, para e descem uns homens, nos cercam e mandam encostar na parede com as mãos a cabeça. – Encostem aí bando de vagabundo! Tinham uns três de nós mais a frente, e quando viram o tumulto, apuraram os passos e se mandaram, como se não fosse com eles.

E nós seguimos na parede, passamos por uma revista total – achavam que portávamos droga, mas nada foi encontrado. Mandaram a gente entrar no camburão, e lá fomos nós de veraneio passear pela cidade. Amedrontados começamos a falar, mas, um dos policiais não gostou, sacou de um revólver e colocou em nossas caras: - Calem essa boca seus vagabundos! E o passeio continuou até chegarmos a Delegacia de Entorpecentes, que ficava ali na Visconde de Nacar.

Jogaram todos nos em uma sala...E nessa sala tinha um rapaz algemado, fomos novamente revistados, principalmente as barras das nossas calças e ouvimos: - Vocês não prestam nem para fumar maconha...seus vagabundos! Ficamos paralisados, calados sem saber do que esperar. De repente levaram o rapaz algemado para outra sala e começamos a ouvir gritos...berros e pauladas. Ficamos apavorados, mas logo tudo se acalmou e começaram a nos chamar, um de cada vez: - Você aí!!! Até que chegou a minha vez – com o cú que não passava uma agulha! Entrei numa sala escura – coisa de delegacia, aquela luz em cima da mesa e não se via a cara do delegado, para não ser reconhecido, e ele diz: - Mete a mão aí na mesa! Coloquei a mão na mesa e fechei os olhos, achando que iria levar umas palmadas, mas para surpresa, veio um policial por traz e me dá uma senhora ripada na bunda. – Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii! Era o que podia fazer. – Vá embora seu vagabundo! Retrucava o tal policial.

Sai da delegacia calado e cabisbaixo, desci a Visconde de Nacar e na primeira esquina encontrei parte da turma – pois fui um dos últimos a sessão tortura. O clima era de total preocupação, e na presença dos demais foi feito um pacto de silencio: NINGUÉM CONTA NADA DO OCORRIDO. O pacto parecia de morte, pois ninguém em Antonina poderia saber, principalmente nossos pais.  Segredo que durou mais de quinze anos e tornou-se público nos encontros entre os Amigos do 1007, anualmente realizados, principalmente nas caranguejadas no Restaurante da Ieda, mas todos já erámos adultos, alguns ausentes a comunidade e na hora da conversa, alguém dizia: - Contem aquela da prisão e da ripada! E não dava para deixar de relembrar esta trágica aventura.

Bem...para encerrar a narrativa dessa história, tem mais um detalhe que não podemos esquecer e que deveria ter sido contado no início. Quando a polícia nos abordou, nosso amigo Xaxo - que era um cara muito bonito, andava de paletó e camiseta, cabelos compridos... modelo...Bem vistoso. Ele falou para o policial: - Quem são vocês? Quero ver os documentos? A reação foi imediata e recebeu como resposta uma bofetada do policial. – Está aqui meu documento...seu vagabundo!”

Prof. Lindomar Santos...Narrador do causo.

Lindomar Santos – Garça 30 jan.2023

O Divã do Jekiti é uma coluna publicada no Blog Palavradobo, com causos e histórias contadas pelos frequentadores do Jekiti, lugar de convivência social – ponto de ônibus com dois cafés em Antonina. As conversas-histórias são gravadas, subscritas e postadas pelo editor do blog. Em breve será publicado em livro físico. Aguarde!

terça-feira, 30 de maio de 2023

RUBENS E AS BRINCADEIRAS DA SÃO BENEDITO...Mais uma do Divã do Jekiti

 

RUBENS E AS BRINCADEIRAS DA SÃO BENEDITO

Dia desses, fazendo minha caminhada matinal, encontrei dois irmãos amigos sentados de fronte sua casa: Maneco e Zacarias. Aproveitei e fiz uma foto deles...e não poderia deixar de perguntar sobre seu outro irmão Rubens - que há vários anos perdeu a visão, pessoa participativa do nosso espaço de brincadeiras, que foi a Rua de São Benedito, hoje Vicente Machado, atras da igreja do mesmo santo.

 A família Sérvulo reside na mesma rua e casa, acredito que há mais de cem anos.

Quando a gente era criança, o imóvel, além de moradia da família funcionava uma ferraria. Local onde além de forjar alguns tipos de ferragens, as mais comuns eram as ferraduras. Ficávamos encantados ao ver a colocação das ferraduras nos animais, na época responsáveis por boa parte da tração do transporte na cidade. Desde cargas, passeios até funerais – a prefeitura tinha um carro funeral puxado a cavalo.

A rua de São Benedito era nosso espaço recreativo, que além de um amplo e sem calçamento, ainda possuía o parquinho da Liga, que abria diariamente as 15h, com mais de uma dezena de brinquedos disponibilizados a todos, sempre sob o olhar astuto do seu Zequinha – responsável em abrir, fechar e manter o local limpo e seguro para a criançada.  Na rua acontecia de tudo, sempre em cada temporada. Tínhamos a temporada da pipa, da bolinha de gude, do pião, do bete-ombro, do carrinho de rolimã e dos carrinhos feitos com latas vazias de “leite ninho”. Ainda mais as brincadeiras de polícia e ladrão, malha e trinta e um...entre outras.

Dos amigos, Rubens sempre era o inventivo e aparecia com um novo brinquedo, desta vez, pegou uma roda qualquer – aro de bicicleta ou de pneu de carro e com uma vareta e um gancho na ponta, rodava aquele brinquedo  e saia pelas ruas da cidade, com a maior alegria e diversão.

Em minha memória tenho o brinquedo que ele mais gostava - muito simples e cênico, quando se apoderou de um aro e o tornou volante de automóvel. Brincava com aquele volante por toda a parte, andava pelas ruas da cidade como se realmente estivesse dirigindo um carro. Virava para direita, esquerda... chegava até a parar-frear nas esquinas, olhar para os lados, engatar marcha e seguir adiante - no seu incrível universo imaginário. A encenação ia além do mecânico, pois também imitava o som do motor e das freadas. Tão parecido que às vezes achávamos que realmente era um carro que estava chegando, mas era Rubens.

Quem passou a infância no centro da cidade com certeza foi mais um brincante da rua de São Benedito e conviveu com Rubens e a família Sérvulo. Eta coisa boa de contar.

Eduardo Nascimento  30 mai.2023

O Divã do Jekiti é uma coluna publicada no Blog Palavradobo, com causos e histórias contadas pelos frequentadores do Jekiti, lugar de convivência social – ponto de ônibus com dois cafés em Antonina. As conversas-histórias são gravadas, subscritas e postadas pelo editor do blog. www.palavradobo.blogspot.com.br 

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domingo, 14 de maio de 2023

ATLETIBA, rivalidade entre os irmãos Fayad. Mais um no Divã do Jekit


Jamil Fayad JR -Polaco no Divã do Jekiti

ATLE-TIBA/ rivalidade entre os irmãos Fayad.

Jamil Fayad e Tico Fayad, dois irmãos bem conhecidos e populares na cidade, descendentes de libaneses, apesar do grau de parentesco muito próximo, quando a assunto era futebol paranaense, os dois eram rivais e dos extremos. Jamil, comerciante e irmão mais velho, era doente torcedor do Coritiba, coxa roxo. Enquanto Tico, funcionário da Receita Estadual fanático torcedor do Clube Atletico Paranaense.

Jamil Fayad Junior, Polaco, sobrinho de Tico Atleticano e óbvio filho do Jamil Coxabranca, nos conta um pouco do comportamento dos dois, nos preparativos, durante e após um jogo entre as duas equipes, o famoso AtleTiba:

“Bem...eu chegava de Curitiba na sexta-feira, final de semana, a fim de gozar da tranquilidade da nossa cidade. Quanto percebia os preparativos do meu pai para o AtleTiba de domingo. Sou atleticano, mas meu pai era coxa roxo. E o meu tio, Tico, que morava a meia quadra da nossa casa no outro lado da rua, era atleticano fanático. O que eu achava bem interessante, eram os preparativos para a festa, o jogo. Não em comemoração aos times, mas um querendo menosprezar o time do outro...um tipo de gozação e vingança. Hehehe!!! Isso que era interessante...Meu pai era assim, quando o Coxa perdia o jogo ele jogava o rádio na parede – se hoje sou técnico em eletrônica, foi de tanto consertar os rádios vítimas dos atléticas. Quando chegava na sexta-feira, vinha meu pai com um maço de fogos de artifícios que eram colocados apostados para a casa do tio Tico. Criávamos um suporte de madeira, regulável e direcionado para o alvo atleticano. Os fogos eram estourados lentamente após os gols e caso o Coxa fosse vitorioso, era um só rojão.

Sem esquecer que de outro lado a artilharia era a mesma, mas com os gols atleticanos. Assim tramava-se uma batalha entre os irmãos Fayad, uma batalha futebolística entre rivais apaixonados. Conhecida e esperada pelos moradores do centro da cidade, em dia de Atletiba.

Curioso é que se o Coxa não ganhasse, meu pai não abria o Armazém na segunda-feira e o Tico trancava-se em casa na derrota do Atletico. Em caso de empate, se fosse no campo do adversário, também tinha foguetório. Pois, empate em casa alheia representava vitória.

O mais importante era que apesar da rivalidade como fanáticos torcedores, o relacionamento entre os irmãos Jamil e Tico, era de maior respeito e de uma paixão impressionante.” Completa Jamil (Polaco).

Jamil Fayad Junior 13 mai.2023

 


O Divã do Jekiti é uma coluna publicada no Blog Palavradobo, com causos e histórias contadas pelos frequentadores do Jekiti, lugar de convivência social – ponto de ônibus com dois cafés em Antonina. As conversas-histórias são gravadas, subscritas e postadas pelo editor do blog. www.palavradobo.blogspot.com.br 

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terça-feira, 9 de maio de 2023

SEU DELFINO...Mais um causo do Divã do Jekiti.

SEU DELFINO

Sou de família religiosa cristã e durante a infância e adolescência, frequentei assiduamente a igreja da minha cidade, especialmente a matriz de Nossa Senhora do Pilar da Graciosa. Fui coroinha, tocador de sino, vendedor de artigos religiosos, bibliotecário e até membro de um grupo conhecido como TLC – grupo de jovens paroquianos que passava por uma espécie de retiro espiritual nos anos sessenta.

Entre os personagens marcantes deste período, se encontra seu Delfino Fontoura, figura diuturnamente presente em todas as cerimônias religiosas realizadas na matriz e em toda a paróquia.

Seu Delfino como era chamado, era um pequeno comerciante de aviamentos (artigos que servem para complementar vestimentas: botões, zíper, linha de costura, alfinete, fita, fivela...) com loja na Rua da Campo – Conselheiro de Araújo. Local também muito por mim frequentado, pois sendo minha mãe costureira, sempre me mandava comprar na loja do seu Delfino. E lá estava ele prestativo e muito ativo.

Durante a missa nos cânticos religiosos - sendo portador de uma voz aguda e estridente, impunha o ritmo e muitas vezes lembrava a ‘esquecida’ letra da canção, fazendo coro e envolvendo todo o templo. Sua figura se destacava ainda mais na hora da oferta, e lá vinha seu Delfino com uma vareta que continha uma sacola vermelha de veludo na ponta, onde os fiéis deixavam suas ofertas – dinheiro...quase sempre puxado por um bom e sonoro: Queremos deus, homens ingratos...

Não lembro missa sem a presença marcante do seu Delfino.

Também sua voz era destaque nos cânticos das cerimonias externas, as procissões, principalmente do dia de Corpus Christi e a maior de todas a da Festa de Agosto, em homenagem à padroeira do Pilar.

Um dos últimos e marcantes momentos, aconteceu durante a procissão de encerramento da semana em louvor, conhecida como Missões. Iniciada na matriz, os fiéis carregaram uma cruz de madeira pelas ruas da cidade, que deveria ser fixada como marco da cristandade, no alto do Morro do Bom Brinquedo. Tarefa de média dificuldade, pois, para chegar até o local previsto tinha um caminho lateral mais longo e menos dificultoso. Mas, poder-se-ia chegar mais rápido por um atalho, com aclive bem acentuado. E aí aparece seu Delfino, homem de fé, de pequena estatura e muito ávido, seguiu o atalho e não deu outra, escorregou e desceu morro abaixo, para a preocupação de todos.

A caminhada foi interrompida devido o tombo do seu Delfino e todos foram ao seu encontro, mas, rapidamente se levanta, todo empoeirado e segue sua missão em chegar ao local onde seria colocada a cruz. Missão cumprida, todos oram e seu Delfino inicia um cântico final e dá se por encerrada a cerimônia.

Eduardo Nascimento 09 mai 2023

 

É O CARRO DOS SONHOS...

Quem quer sonhos?

Tenho recheados doces e salgados. Quem quiser é só pedir que entregarei em sua casa. Quem quer sonhos? É gratuito.

Para não desperdiçar vou aguardar os pedidos, mas é até o dia trinta.

Quem quer sonhos? Opa…um pedido. Vou preparar a massa e alguns recheios. Ufa…como dá trabalho, mas adoro fazer sonhos e distribuir.

Uma parte pronta. Opa, cancelaram o pedido.

Mas ainda há tempo para novos pedidos.

Quem quer sonhos?

Agora é só rechear, pois a massa está pronta.

Acabou o prazo, a massa e os recheios prontos, mas ninguém gosta de sonhos. O que fazer?

Opa, solicitaram para prorrogar o prazo. Mas quem quer sonho, doces e salgados?

Tem um que quer…ótimo! Vou aproveitar a massa e os recheios prontos e caprichar ainda mais quando for entregar. Pode marcar o dia da entrega…está bom!

É hoje, tudo pronto, vou colocar em uma bela embalagem e até levar o livro de receitas.

Hora e local marcados, e eu lá com os sonhos. Indumentária caprichada, aquela roupa de chef confeiteiro que parece um painel de elevador - cheio de botões, com os sonhos todos enfileirados de olhinhos vibrantes a espera de bocas devoradoras.

Boa tarde. É aqui que pediram sonhos? Pediram para fazer uma entrega, e os trouxe.

Mas não houve interesse em sequer ver os sonhos.

Sem tirar os sonhos da mochila, fui saindo do local…lentamente, triste e decepcionado.

Será que um dia vou encontrar alguém que goste de sonho?

Olha o sonho…tem doces e salgados, agora custa apenas vinte reais.

É o carro dos sonhos…aproveite.

 

Eduardo Nascimento 04/05/2023

terça-feira, 18 de abril de 2023

Bar do Felicindo, Bar do Coralino e Bar do Macário...no Divã do Jekiti.

Bar Esporte do Felicindo. Década de setenta/
autor da foto desconhecido.

Bar do Felicindo, Bar do Coralino e Bar do Macário.

Durante minha infância e adolescência, 1950/1970, existiam três bares perto do cinema, ou Theatro Municipal – hoje Rua Dr. Carlos Gomes da Costa, antes Barão de Teffé.

O primeiro era o Bar do seu Felicindo – Bar Esporte, pois ficava bem ao lado do cinema, onde hoje foi reconstruída a tal Garage Municipal – que não tem nada de garagem, mas continua municipal.

Tudo muito simples, assoalho de madeira, poucas mesas, bebidas bem geladas...era o ponto de encontro dos trabalhadores portuários. O bar foi o primeiro a ter uma televisão instalada, uma Philco PeB que ficava bem no alto da parede, dificultando o acesso aos curiosos.

O bar virou ponto obrigatório de encontro diário para assistir o Telejornal Transparaná, pela TV Paraná Canal 6. A criançada lotava o bar e todos se sentavam pelo chão e ficavam encantados com a programação, principalmente quando era de desenho animado.

A ocupação era ainda maior, quando um cantor antoninense era anunciado pela televisão, a se apresentar no programa Mario Vendramel...um lugar era disputadíssimo.

No bar também eram encontrados vários tipos de guloseimas, como balas, suspiros, marias-moles, pés-de-moleque, chicletes, cocadas e outras. Consumo obrigatório para quem fosse ao cinema assistir a matiné da 14h ou as sessões noturnas das 19h e 21h. Para os adultos que gostavam arriscar uma fezinha na sorte, também poderiam apostar no tal jogo do bicho – na época liberado.

O outro também importante era o bar do Coralino – Bar Central, ficava quase em frente ao Bar do Felicindo, mas seu diferencial eram as mesas de bilhar, instaladas no fundo. Na fachada era colocado um quadro-negro onde diariamente era atualizado com a edição do jornal Tribuna do Paraná, e como muita gente gostava de futebol, se tornou nosso ponto diário de informação esportivo, sem deixar de vender bebidas e guloseimas.

O Bar do Macário – Bar 5 Bolas – há 50m do Felicindo, onde hoje é o Bar do Lontra, completava o circuito. A nova construção, instalações e equipamentos...mesas, balcão frigorífico, instalações sanitárias adequadas e a simpatia da Dona Conceição – esposa do Macario, faziam o diferencial. Foi o primeiro a servir um sanduiche de pão com mortadela e atendia a garotada com suas guloseimas expostas nos vidros rotativos – novidade para a época.

Esses três bares, fazem parte da nossa memória afetiva, participaram dos nossos momentos de entretenimento, informação e laser. Era pouco, mas tudo que tínhamos para compartilhar.

Além de suas funções comerciais, também tiveram um papel altamente social. Na época era comum morar no mesmo imóvel comercial, ou seja, se vivia, se cuidava e se trabalhava no mesmo lugar, o dono e sua família. Com isso, as famílias se integravam a comunidade...e vice e versa. Muito namoros, casamentos e até desavenças. Tudo muito normal...Que saudades dos bares de outrora!

Histórias que valem a pena ser contadas, dos bares mais importantes das nossas convivências...sem esquecer os outros também importantes, como o Bar e Restaurante Cruzeiro, o Bar do Marreiro, Do Levi, Sorveteria Atlântico..., mas essa é outra história.

Eduardo Nascimento 20 mar 2023

O Divã do Jekiti é uma coluna publicada no Blog Palavradobo, com causos e histórias contadas pelos frequentadores do Jekiti, lugar de convivência social – ponto de ônibus com dois cafés em Antonina. As conversas-histórias são gravadas, subscritas e postadas pelo editor do blog.

terça-feira, 14 de março de 2023

TRÊS HOMENS SEM MEDO... mais uma do Divã do Jekiti. Leia e compartihe.

 TRÊS HOMENS SEM MEDO

Programa radiofônico transmitido pela Rádio Antoninense entre 1977/1978

Conta aí Celso Vieira:

 “O programa acontece com objetivo de marcar oposição ao prefeito Paulo Virgílio Savarin. Tínhamos um programa de esporte, eu - Celso Vieira, Paulinho Sabico e João Bang. Criamos o programa Três homens sem medo, programa político...que deixou de ser esportivo. Isso lá nos anos de 1977/78.

O programa transmitido pela Rádio Antoninense, começou a questionar fatos da administração e criou ‘corpo’ por acontecer em horário nobre, diariamente as 11 horas. Naturalmente, o programa começa a questionar as atitudes do prefeito e sua administração - sem medir consequência, pois o próprio nome - Três homens sem medo...nos dava notoriedade e independência. Comentávamos sobre os problemas da cidade...e virou um canal de credibilidade junto aos ouvintes. Todo mundo ouvia diariamente a Antoninense as 11 horas.  Pois era um certo canal do povo...Foi um sucesso!

Daí, surge a história do Deputado Federal Pedro Lauro, que enviou verba para a compra de uma ambulância – o caso mais polêmico do programa - mas no lugar da ambulância o prefeito comprou uma Rural Willys - carro utilitário.

O caso virou assunto na cidade e aumentou ainda mais nossa audiência. Cobramos com rigor explicações do prefeito, pois a população queria saber a verdade.

O programa sempre garantiu espaço ao prefeito para se defender e dar suas explicações, nunca tendo ocorrido. As notícias eram filtradas pelo gabinete, que desviava atenção.

A notícia-denuncia virou uma bomba para a administração, chegando até a televisão da capital. A TV Iguaçu – a maior emissora de Curitiba na época, através do Programa Ari Soares solta a notícia, e o prefeito Savarin vai a televisão explicar o ocorrido. Na tentativa de nos desmentir.

Estou na rádio e recebo um telefonema dizendo que o prefeito iria participar do programa. Pego meu carro, vou a Curitiba e chego na TV Iguaçu com o programa no ar... Fui lá confirmar nossa denúncia e confrontar com o que disse o prefeito.

Confronto declarado, a prefeitura entra em contato com a administração da Radio e oferece patrocínios. Na época o diretor – de Paranaguá, era Ludovico Mikus, que imediatamente manda retirar o programa do ar. Naquele ‘andar da carruagem’ dos três eram dois, pois Bang, tinha deixado o programa, devido a gafe que cometeu. O tal 'cadáver morto'. Que virou total gozação na cidade.

Paulinho Sabico, sendo funcionário contratado pela emissora, também foi afastado. Ficando apenas eu – único homem sem medo. Cumprindo ordem da direção, solitariamente fomos – fui, ao ar pela última vez do programa ‘Três homens sem medo”. Fundo musical: ‘Homem sem braço’. E simplesmente acabou!” Ordem da gerência.

O blogueiro e Celso Vieira. Foto: Beto Lopes

Celso Vieira – Máscara 09 fev. 23 Oralidade –

Gravação, transcrição e corpo: Eduardo Nascimento (Bó)

O Divã do Jekiti é uma coluna publicada no Blog Palavradobo, com causos e histórias contadas pelos frequentadores do Jekiti, lugar de convivência social – ponto de ônibus com dois cafés em Antonina. As conversas-histórias são gravadas, subscritas e postadas pelo editor do blog.

sexta-feira, 10 de março de 2023

O 11 DE MARÇO DE 2011

 

Bairro da Laranjeira 11.03.11 
O 11 de março de 2011

O dia 11 de março de 2011 foi marcado pelos episódios naturais ocorridos em nossa cidade. A bela “deitada-à-beira-do-mar”, como dizia o poeta, acordou assustada com as notícias nunca divulgadas de enchentes e deslizamentos de morros em seu ventre e entorno, causados pela quantidade de chuva torrencial que se abatia.

No dia anterior, a natureza já havia traçado um desenho do que estava para acontecer, quando começou chover em quantidade e volume nunca vistos, descendo dos morros, alagando os pontos mais baixos e dando o primeiro indício com o deslizamento no Morro do Bom Brinquedo, no coração da cidade.

Mas foi na noite do dia 10, quinta-feira, e amanhecer do dia 11, sexta, que presenciamos o maior volume de chuva aqui registrado.

A quantidade e a força da água foram tão intensas que os telhados das casas indicavam que todos iriam desabar. As centenárias telhas de algumas casas históricas não resistiam a tal quantidade de água e gotejavam por inteiro, causando pânico aos moradores. As luzes se apagaram, os telefones ficaram mudos e o abastecimento de água potável foi interrompido.

Leia matéria completa: https://palavradobo.blogspot.com/2013/03/o-11-de-marco.html

Imagens de arquivo:








P.S. Doze anos após a ocorrência, em 2023, e com enormes desastres naturais acontecendo em nossa região e no país inteiro – São Sebastião, litoral paulista... pergunta-se como estão às atividades da Defesa Civil de Antonina? Os equipamentos de alarme instalados pós-tragédia para alertar as comunidades de risco ainda existem e funcionam? Aliás, como estão as áreas de risco do município e sua população?