terça-feira, 6 de setembro de 2022

ESCOTEIROS NO SETE DE SETEMBRO...1960/70

 

ESCOTEIROS NO SETE DE SETEMBRO...1960.

Ontem, contei mais esta história aos amigos frequentadores do Jekiti. Para não se perder, escrevi e estou postando no blog. Mais uma no Divã do Jekiti.

A data de 7 de setembro, no meu tempo de escoteiro, além das comemorações ao Dia da Independência, também comemorávamos o aniversário da tropa – Escoteiros Vale Porto, fundado a 7 de setembro de 1936. Manoel Eufrásio Picanço, Seu Maneco, preparava o grupo para todas as festividades e mais ainda do dia 08, a padroeira de Morretes, N. Sra. do Porto.

A programação era intensa. Abríamos as festividades com alvorada as 5 horas. Pernoitávamos na sede – Caserna, e saíamos com nossos velhos instrumentos de percussão pelas principais ruas da cidade, acordando os moradores para a grande data.

O 07 de setembro era comemorado com desfile escolar, e a concentração acontecia na Praça Coronel Macedo, com discursos e hasteamento da bandeira...e lá estávamos nós. Mas, antes da concentração, saíamos em marcha para uma visita ao cemitério Bom Jesus do Saivá, prestar homenagem os escoteiros falecidos, pois a data também era comemorativa a fundação da tropa.

Após a concentração na praça, iniciávamos o desfile comemorativo e sempre fomos destacados abrindo o evento. Depois surgiam as escolas e instituições cívicos e militares. Era realmente emocionante aquele ato simbólico de civismo e cidadania...a festa.

Após apresentação ajudávamos no balizamento da avenida, orientando as pessoas no limite dos espaços marcados. O fechamento do desfile sempre ficava a cargo da comunidade do Ginásio Moysés Lupion, isso lá pelas 13h30. Em seguida a tropa era dispersada, mas deveria retornar para participar dos jogos programados em nossa sede, que aconteciam até as 18h, pois éramos - os escoteiros, responsáveis em arrear a bandeira, no coreto da praça.

Retornávamos a sede e nos preparava para o dia seguinte, com viagem marcada a Morretes, para participar das festividades alusivas à padroeira daquela cidade vizinha.

A festa de Morretes

A viagem dos escoteiros a Morretes era uma odisseia. Apesar da pouca distância entre as duas cidades, as dificuldades econômicas do grupo eram enormes. Certa vez fomos de trem, pois na época a linha férrea funcionava normalmente com cargas e passageiros. Como não tínhamos recursos para pagar, seu Maneco conseguiu com o Agente da Rede, a isenção de cobrança das passagens, mas nos foi disponível apenas um vagão de cargas destinadas aos Correios. Lá fomos nós, sentados no chão do vagão. Como tudo era uma aventura, no trecho do famoso Machadinho, onde a Maria Fumaça tinha dificuldades em alçar, fazíamos repicar de tambores até o trem alcançar o nível normal. Isso na ida e na volta. Era muito divertido.

Outras vezes fomos de caminhão pela Estrada do Sapitanduva - caminho mais curto entre as duas cidades. A família Gusmão proprietária de distribuidora de bebidas na cidade, nos cedeu seu caminhão para nos transportar. Veículo arrumado com tabuas, fomos nós de pau-de-arara transitando por aquela via secundaria e estreita, na boleia o motorista Onildo Gusmão, que também gostava de uma aventura e parecia nem perceber os buracos da estrada. Chegávamos baqueados ao destino, apesar de gostar da paisagem que era muito bonita, pois naquela época a estrada passava pelos canaviais na antiga fábrica de açúcar e cachaça dos Antunes e pelo belo Nhundiaquara.

Em Morretes a programação estava garantida. Os Cavagnolli, amigos do Seu Maneco, sempre nos cedia um espaço e garantia um lanche para a garotada. La pelas 15h - na praça da estação, fazíamos um Quebra-Coco, animada cantoria escoteira de desafios entre os participantes:

 Quebra-coco, quebra-coco;

Na ladeira do riacho;

Escoteiro quebra-coco;

E depois vai trabalhar.

E alguém completava o desafio:

Em cima daquele morro;

Tem um velho gaioleiro;

Quando vê moça bonita;

Faz gaiola sem poleiro.

La por tantas trovas...um “engraçadinho” já escolhido entre a turma, soltava:

Namorei uma menina;

Que tinha dezoito anos;

Ela não tinha peito;

E fazia peito de pano.

Imediatamente alguém acenava em fechar a boca do atrevido.

Todos achavam muito engraçado e a plateia aplaudia nossa apresentação.


Em particular, fui escolhido para cantar a tradicional “Árvore da montanha”. Uma cantoria longa de muita decoreba para nossa idade. Mas fazíamos o possível e novamente soavam os aplausos.

E a árvore da montanha...o le ia o;

E a árvore da montanha...o le ia o;


Esta árvore tinha um galho;

Ai que galho, belo galho;

Ai, ai, ai que amor de galho;

O galho da árvore.

 

E a árvore da montanha...o le ia o;

E a árvore da montanha...o le ia o;


E iam surgindo coisas na árvore... Galho, broto, folha, ninho, pássaro, pena, índia, arco, flexa...e finalmente a árvore.

Após o encerramento da concentração artística na praça, ainda participávamos da procissão da santa padroeira, Nossa Senhora do Porto de Morretes.

Essas eram as nossas atividades comemorativas. Isso entorno de 1960/1970. Boas recordações.


Eduardo Nascimento

06 setembro 2022