terça-feira, 30 de maio de 2023

RUBENS E AS BRINCADEIRAS DA SÃO BENEDITO...Mais uma do Divã do Jekiti

 

RUBENS E AS BRINCADEIRAS DA SÃO BENEDITO

Dia desses, fazendo minha caminhada matinal, encontrei dois irmãos amigos sentados de fronte sua casa: Maneco e Zacarias. Aproveitei e fiz uma foto deles...e não poderia deixar de perguntar sobre seu outro irmão Rubens - que há vários anos perdeu a visão, pessoa participativa do nosso espaço de brincadeiras, que foi a Rua de São Benedito, hoje Vicente Machado, atras da igreja do mesmo santo.

 A família Sérvulo reside na mesma rua e casa, acredito que há mais de cem anos.

Quando a gente era criança, o imóvel, além de moradia da família funcionava uma ferraria. Local onde além de forjar alguns tipos de ferragens, as mais comuns eram as ferraduras. Ficávamos encantados ao ver a colocação das ferraduras nos animais, na época responsáveis por boa parte da tração do transporte na cidade. Desde cargas, passeios até funerais – a prefeitura tinha um carro funeral puxado a cavalo.

A rua de São Benedito era nosso espaço recreativo, que além de um amplo e sem calçamento, ainda possuía o parquinho da Liga, que abria diariamente as 15h, com mais de uma dezena de brinquedos disponibilizados a todos, sempre sob o olhar astuto do seu Zequinha – responsável em abrir, fechar e manter o local limpo e seguro para a criançada.  Na rua acontecia de tudo, sempre em cada temporada. Tínhamos a temporada da pipa, da bolinha de gude, do pião, do bete-ombro, do carrinho de rolimã e dos carrinhos feitos com latas vazias de “leite ninho”. Ainda mais as brincadeiras de polícia e ladrão, malha e trinta e um...entre outras.

Dos amigos, Rubens sempre era o inventivo e aparecia com um novo brinquedo, desta vez, pegou uma roda qualquer – aro de bicicleta ou de pneu de carro e com uma vareta e um gancho na ponta, rodava aquele brinquedo  e saia pelas ruas da cidade, com a maior alegria e diversão.

Em minha memória tenho o brinquedo que ele mais gostava - muito simples e cênico, quando se apoderou de um aro e o tornou volante de automóvel. Brincava com aquele volante por toda a parte, andava pelas ruas da cidade como se realmente estivesse dirigindo um carro. Virava para direita, esquerda... chegava até a parar-frear nas esquinas, olhar para os lados, engatar marcha e seguir adiante - no seu incrível universo imaginário. A encenação ia além do mecânico, pois também imitava o som do motor e das freadas. Tão parecido que às vezes achávamos que realmente era um carro que estava chegando, mas era Rubens.

Quem passou a infância no centro da cidade com certeza foi mais um brincante da rua de São Benedito e conviveu com Rubens e a família Sérvulo. Eta coisa boa de contar.

Eduardo Nascimento  30 mai.2023

O Divã do Jekiti é uma coluna publicada no Blog Palavradobo, com causos e histórias contadas pelos frequentadores do Jekiti, lugar de convivência social – ponto de ônibus com dois cafés em Antonina. As conversas-histórias são gravadas, subscritas e postadas pelo editor do blog. www.palavradobo.blogspot.com.br 

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domingo, 14 de maio de 2023

ATLETIBA, rivalidade entre os irmãos Fayad. Mais um no Divã do Jekit


Jamil Fayad JR -Polaco no Divã do Jekiti

ATLE-TIBA/ rivalidade entre os irmãos Fayad.

Jamil Fayad e Tico Fayad, dois irmãos bem conhecidos e populares na cidade, descendentes de libaneses, apesar do grau de parentesco muito próximo, quando a assunto era futebol paranaense, os dois eram rivais e dos extremos. Jamil, comerciante e irmão mais velho, era doente torcedor do Coritiba, coxa roxo. Enquanto Tico, funcionário da Receita Estadual fanático torcedor do Clube Atletico Paranaense.

Jamil Fayad Junior, Polaco, sobrinho de Tico Atleticano e óbvio filho do Jamil Coxabranca, nos conta um pouco do comportamento dos dois, nos preparativos, durante e após um jogo entre as duas equipes, o famoso AtleTiba:

“Bem...eu chegava de Curitiba na sexta-feira, final de semana, a fim de gozar da tranquilidade da nossa cidade. Quanto percebia os preparativos do meu pai para o AtleTiba de domingo. Sou atleticano, mas meu pai era coxa roxo. E o meu tio, Tico, que morava a meia quadra da nossa casa no outro lado da rua, era atleticano fanático. O que eu achava bem interessante, eram os preparativos para a festa, o jogo. Não em comemoração aos times, mas um querendo menosprezar o time do outro...um tipo de gozação e vingança. Hehehe!!! Isso que era interessante...Meu pai era assim, quando o Coxa perdia o jogo ele jogava o rádio na parede – se hoje sou técnico em eletrônica, foi de tanto consertar os rádios vítimas dos atléticas. Quando chegava na sexta-feira, vinha meu pai com um maço de fogos de artifícios que eram colocados apostados para a casa do tio Tico. Criávamos um suporte de madeira, regulável e direcionado para o alvo atleticano. Os fogos eram estourados lentamente após os gols e caso o Coxa fosse vitorioso, era um só rojão.

Sem esquecer que de outro lado a artilharia era a mesma, mas com os gols atleticanos. Assim tramava-se uma batalha entre os irmãos Fayad, uma batalha futebolística entre rivais apaixonados. Conhecida e esperada pelos moradores do centro da cidade, em dia de Atletiba.

Curioso é que se o Coxa não ganhasse, meu pai não abria o Armazém na segunda-feira e o Tico trancava-se em casa na derrota do Atletico. Em caso de empate, se fosse no campo do adversário, também tinha foguetório. Pois, empate em casa alheia representava vitória.

O mais importante era que apesar da rivalidade como fanáticos torcedores, o relacionamento entre os irmãos Jamil e Tico, era de maior respeito e de uma paixão impressionante.” Completa Jamil (Polaco).

Jamil Fayad Junior 13 mai.2023

 


O Divã do Jekiti é uma coluna publicada no Blog Palavradobo, com causos e histórias contadas pelos frequentadores do Jekiti, lugar de convivência social – ponto de ônibus com dois cafés em Antonina. As conversas-histórias são gravadas, subscritas e postadas pelo editor do blog. www.palavradobo.blogspot.com.br 

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terça-feira, 9 de maio de 2023

SEU DELFINO...Mais um causo do Divã do Jekiti.

SEU DELFINO

Sou de família religiosa cristã e durante a infância e adolescência, frequentei assiduamente a igreja da minha cidade, especialmente a matriz de Nossa Senhora do Pilar da Graciosa. Fui coroinha, tocador de sino, vendedor de artigos religiosos, bibliotecário e até membro de um grupo conhecido como TLC – grupo de jovens paroquianos que passava por uma espécie de retiro espiritual nos anos sessenta.

Entre os personagens marcantes deste período, se encontra seu Delfino Fontoura, figura diuturnamente presente em todas as cerimônias religiosas realizadas na matriz e em toda a paróquia.

Seu Delfino como era chamado, era um pequeno comerciante de aviamentos (artigos que servem para complementar vestimentas: botões, zíper, linha de costura, alfinete, fita, fivela...) com loja na Rua da Campo – Conselheiro de Araújo. Local também muito por mim frequentado, pois sendo minha mãe costureira, sempre me mandava comprar na loja do seu Delfino. E lá estava ele prestativo e muito ativo.

Durante a missa nos cânticos religiosos - sendo portador de uma voz aguda e estridente, impunha o ritmo e muitas vezes lembrava a ‘esquecida’ letra da canção, fazendo coro e envolvendo todo o templo. Sua figura se destacava ainda mais na hora da oferta, e lá vinha seu Delfino com uma vareta que continha uma sacola vermelha de veludo na ponta, onde os fiéis deixavam suas ofertas – dinheiro...quase sempre puxado por um bom e sonoro: Queremos deus, homens ingratos...

Não lembro missa sem a presença marcante do seu Delfino.

Também sua voz era destaque nos cânticos das cerimonias externas, as procissões, principalmente do dia de Corpus Christi e a maior de todas a da Festa de Agosto, em homenagem à padroeira do Pilar.

Um dos últimos e marcantes momentos, aconteceu durante a procissão de encerramento da semana em louvor, conhecida como Missões. Iniciada na matriz, os fiéis carregaram uma cruz de madeira pelas ruas da cidade, que deveria ser fixada como marco da cristandade, no alto do Morro do Bom Brinquedo. Tarefa de média dificuldade, pois, para chegar até o local previsto tinha um caminho lateral mais longo e menos dificultoso. Mas, poder-se-ia chegar mais rápido por um atalho, com aclive bem acentuado. E aí aparece seu Delfino, homem de fé, de pequena estatura e muito ávido, seguiu o atalho e não deu outra, escorregou e desceu morro abaixo, para a preocupação de todos.

A caminhada foi interrompida devido o tombo do seu Delfino e todos foram ao seu encontro, mas, rapidamente se levanta, todo empoeirado e segue sua missão em chegar ao local onde seria colocada a cruz. Missão cumprida, todos oram e seu Delfino inicia um cântico final e dá se por encerrada a cerimônia.

Eduardo Nascimento 09 mai 2023

 

É O CARRO DOS SONHOS...

Quem quer sonhos?

Tenho recheados doces e salgados. Quem quiser é só pedir que entregarei em sua casa. Quem quer sonhos? É gratuito.

Para não desperdiçar vou aguardar os pedidos, mas é até o dia trinta.

Quem quer sonhos? Opa…um pedido. Vou preparar a massa e alguns recheios. Ufa…como dá trabalho, mas adoro fazer sonhos e distribuir.

Uma parte pronta. Opa, cancelaram o pedido.

Mas ainda há tempo para novos pedidos.

Quem quer sonhos?

Agora é só rechear, pois a massa está pronta.

Acabou o prazo, a massa e os recheios prontos, mas ninguém gosta de sonhos. O que fazer?

Opa, solicitaram para prorrogar o prazo. Mas quem quer sonho, doces e salgados?

Tem um que quer…ótimo! Vou aproveitar a massa e os recheios prontos e caprichar ainda mais quando for entregar. Pode marcar o dia da entrega…está bom!

É hoje, tudo pronto, vou colocar em uma bela embalagem e até levar o livro de receitas.

Hora e local marcados, e eu lá com os sonhos. Indumentária caprichada, aquela roupa de chef confeiteiro que parece um painel de elevador - cheio de botões, com os sonhos todos enfileirados de olhinhos vibrantes a espera de bocas devoradoras.

Boa tarde. É aqui que pediram sonhos? Pediram para fazer uma entrega, e os trouxe.

Mas não houve interesse em sequer ver os sonhos.

Sem tirar os sonhos da mochila, fui saindo do local…lentamente, triste e decepcionado.

Será que um dia vou encontrar alguém que goste de sonho?

Olha o sonho…tem doces e salgados, agora custa apenas vinte reais.

É o carro dos sonhos…aproveite.

 

Eduardo Nascimento 04/05/2023