quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

VOCÊ PASSA.

Você passa por aqui…Mas… 

Dalila Bú não passa mais aqui, xingando todo mundo que o apelidava; 
Felipe Bueiro não passa mais aqui, assoviando sempre um dobrado; 
Maneco Perplexo, apesar de ser cego, também não passa mais aqui, cantando músicas acompanhadas ao som de um pente Flamengo, com papel celofane; 
Tube, certa vez poeta, pintor ou pastor, também não passa mais aqui; 
Joubert Vieira não passa mais aqui, ora promotor, prefeito popular, não mais solta foguete quando chega navio no porto; 
Dodo Picanço de dentista e vereador, sempre querendo saber onde está o relógio da estação? Mas não passa mais aqui; 
Também não passa mais aqui Ademaro Santos distribuindo seu jornal; 
Wilson Rio Apa não passa mais aqui, falando de teatro, literatura e cultura; 
Camelo não está mais no Cruzeirão, nem Dona Rosinha no mercado… Não passam mais aqui; Belarmino e Gabriela não passam mais aqui, cantando “As mocinhas da cidade”; 
Maria Alice com o Grupo de Seresta não passam mais aqui... Nem Nerea Sarmento, vendendo rifa pra “salvar” a maternidade; 
O violão de Pelicano emudeceu, e meu amigo Antônio não passa mais aqui; 
Moça não passa mais aqui vendendo bacucu; 
Relem o alfaiate, poeta e compositor não passa mais aqui pra mostrar os versos do novo samba-enredo; Também não passa mais aqui Zeco Pinto Loco, nos contando sobre suas pretensões e peripécias; 
Nenê Chaminé não sai mais no carnaval com seu pinico…não passa mais aqui; 
Acrizinho não passa mais aqui, com sua Brasília amarela, protegida pelos seu batalhão angelical; 
João Renato não senta nas escadarias da igreja de São Benedito, pois não passa mais aqui;
Mariquinha Bó não está mais na janela, querendo saber as novidades…Nem seu Acrizio conserta mais sapatos. 
 
Essas e muitas outras pessoas incríveis passaram por nós e deixaram suas marcas, que lembramos com nostalgia. Saudades! 
Amanhã, também não passaremos mais por aqui! 

(Escrito sentado nas escadarias da Igreja de São Benedito/Antonina...em meu celular)
Eduardo Nascimento 
22.02.2022

domingo, 13 de fevereiro de 2022

Mais uma no Divã do Jekiti...Espanto no funeral.

Hoje nossa "paciente" é uma querida amiga, artista e educadora, que nos enviou este conto interessante. Fala aí Marília Diaz: Espanto no funeral: a homenagem inesperada Antes de mais nada, é preciso esclarecer que não sou freqüentadora do Jekiti por morar em Curitiba e Seichal em Portugal, no mar de lá. Por amar Antonina e sua gente, tão afeita a histórias, me atrevo a fazer parte desse alfarrábio com essa página. Como professora da UFPR participei de dezesseis versões do Festival de Inverno de Antonina, ministrei cursos, oficinas, fui júri e supervisora de eventos, proferi palestras. Fiz fogo e fumaça, desfilei na Rua Dr. Carlos Gomez da Costa, cantando o nome do Turíbio e do Cabeção, ouvi serenatas e tiro de canhão.... Convivi com artistas renomados e dormi ao lado de quem roncava muito. Escutei a historíola da cigana afogada e do cavalo, que ainda espera por ela a beira da água, da noiva presa no porão e tantas outras... Nesse vai e vem passei também a trabalhar no Projeto de Extensão O Fazer Ceramico em Antonina e a visitar semanalmente a comunidade. Em uma dessas viagens, ao adentrar a cidade e passar pela casa de Dona Iza Azim, braço direito do projeto, estranhei a gentarada. Na APAE, onde a ação se dava e todos esperavam com a argila na mão, me informaram que a sua progenitora havia falecido. Pela relação afetuosa que construímos, fui até a casa para prestar minhas condolências. Abracei Dona Iza e fiquei por ali, em frente ao esquife pensando na dor de perder a mãe. De súbito as pessoas que estavam atrás foram abrindo caminho e como se entrasse com ele uma golfada de vento, surgiu Jourbert, prefeito do município por mais de uma vez. Cabelos longos e bigode pintados de preto retinto, já deixando ver a cor original, terno e gravata do mais profundo negro. Em passadas largas e rápidas, afastou os candelabros prateados para o canto e chegou com facilidade até a defunta. Negligenciando o arrumado do tule encaixou as duas mãos grandes e pálidas por trás da nuca da finada e puxou seu corpo em direção a si. Bradou o seu inconformismo com a perda. Seu peito recebeu a falecida rija e todas as flores e tecidos que adornavam o seu entorno. O suporte do ataúde estremeceu. Não sou afeita a essas indelicadezas mas, espantada com a cena, com vergonha alheia, lembrei de Odorico Paraguaçu, personagem conhecido da novela brasileira e sai rapidamente com crise de riso. Não pude me conter. Peço perdão aos vivos e aos mortos. Ao final do cortejo, dentro da casa, talvez como resposta ao fato, a cristaleira tombou e todas as louças foram quebradas. Restou só um potinho de vidro lapidado. Tempos depois, Dona Iza envolveu-o em papel alumínio e me presenteou. Guardo comigo o mimo, suas palavras bem como as narrativas fantásticas. Ah, se Borges e ou Calvino soubessem! Marília Diaz
Eu e a Marília na Livraria Da Barca.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

A Estrada da Graciosa.

ESTRADA DA GRACIOSA...um recorte da história. O caminho mais antigo que liga Antonina a Curitiba é a Estrada da Graciosa. Tudo indica que o seu nome é fruto da nomenclatura da antiga Vila Antonina, antes Freguesia de Nossa Senhora do Pilar da Graciosa, Pilar da Graciosa...Ou Sítio da Graciosa. Local do então Capitão Mor Manoel do Valle Porto, português, considerado seu fundador, que por aqui aportou em 1712, e doador do terreno onde foi erigida a capela em louvor a Santa do Pilar. Placas comemorativas a construção da estrada. Portal da cidade. Contexto Com a expansão econômica da região e principalmente da Vila Antonina (1797), os caminhos eram árduos para se chegar ao primeiro planalto, ou seja, a Curitiba. Comumente, cargas e passageiros deveriam embarcar e desembarcar suas canoas nos portos de Porto de Cima e Morretes e a viagem pelo Rio Cubatão (Nhundiaquara), era considerada perigosa. Sem considerar ainda a jornada serra a dentro, através do Caminho do Itupava, em lombo de animal, até chegar a Curitiba. As canoas faziam a travessia de Morretes aos Portos de Antonina e Paranaguá e abasteciam as cidades. Tal era a importância deste entreposto que o encarregado era nomeado pelo Ouvidor da Comarca e cobrava altas taxas para movimentação das cargas. Incansáveis lutas Enquanto nossos vizinhos, Paranaguá e Morretes lutavam para melhorias do antigo Caminho do Itupava, os antoninenses lutavam pela abertura do Caminho da Graciosa, que iria facilitar o acesso ao seu porto e reduziria a árdua tarefa de travessia das canoas. A luta até certo ponto e momento parecia em vão, devido ao poder dos envolvidos. Segundo o historiador Ermelino de Leão (1), logo após a instalação da Vila Antonina, a primeira Câmara tratou de realizar a legítima aspiração dos seus munícipes: a reabertura do caminho da Graciosa. E teve a acolhida da comunidade e das autoridades curitibanas. “O Capitão-mor de Curitiba, Lourenço Ribeiro de Andrade prontamente atendeu ao apelo dos capelistas, mandando consertar a picada até o cume da serra, para encontrar-se com a turma que a Câmara de Antonina tinha enviado para a restauração do histórico caminho.” A 17 de novembro de 1738, os curitibanos enviaram a primeira equipe para a reabertura do caminho: “Essa bandeira levantou...Uma grande cruz, para que servisse e fosse público”. Mas não foi fácil não, embargos foram feitos por parte dos vizinhos, chegando até a proibir o trânsito pela estrada, conforme edital de 12 de junho de 1798, do Ouvidor Geral Dr. Branco (2), sob penas severas. Mas a decisão do embargo foi derrubada em 1807, pelo Governador de São Paulo, que ordenou a abertura da estrada ao público (3). Primeiras passagens A 16 de agosto de 1807, romeiros a Nossa Senhora do Pilar fizeram a primeira viagem pela estrada, para testar sua viabilidade, apesar de ainda não estar concluída e afirmaram: “Transpusemos com a maior felicidade, com mais de sessenta animais carregados, sem que qualquer um ficasse mutilado e ferido. E que a distância da Villa até Borda do Campo seria de sete léguas, que o terreno era muito mais vantajoso que o do Itupava, porque evita os perigos do rio Cubatão (Nhundiaquara) e os despenhadeiros da serra.” (4) Ação definitiva Ermelino de Leão, (5) nos atenta ainda que: foi certeiro o movimento reivindicatório das comunidades de Antonina, Paranaguá e Curitiba, quando informaram ao Governo Imperial a lastimável situação das vias de comunicação da comarca. “Então, o Governo Real julgou acertado intervir, baixando a carta régia de 17 de julho de 1820, que mandava proceder a reconstrução da Estrada da Graciosa, incumbindo o serviço ao Tenente Coronel Inácio de Sá Soto Maior...” Data da qual podemos considerar como definitiva para sua abertura. Veja matéria completa no livro 'Antonina frag-men-tos" Adquira pelo Whatssap 41 99906-4081