EM SUPERAGUI...VOU BUSCAR
A CHAVE
Nas décadas de oitenta e
noventa, André Carraro foi meu amigo e companheiro de viagens de aventura pelo
litoral. Em 1986 resolvemos visitar a Ilha de Superagui/Guaraqueçaba-PR. Dininho, amigo nosso e de nossas famílias –
gerenciava uma empresa na ilha, Capela Pastoril. Nos ofereceu uma casa para nos
hospedar durante estada na ilha. Bom salientar, que desconhecíamos a
relação dos moradores da comunidade com o empreendimento da tal Capela.
Nos preparamos para a tal
aventura, pois na época não existia pousada ou qualquer tipo de atendimento aos
visitantes. Levamos uma pequena barraca, alimentos e apetrechos para preparar a
comida. Pegamos a lancha em Paranaguá e seguimos caminho.
Chegamos em Superagui por
volta do meio-dia, e nos foi dado um bilhete que deveria ser entregue para um
morador da ilha – não lembro o nome, responsável pela manutenção e
administração da casa que nos foi oferecida. Vou tratá-lo como João.
Chegando lá, fomos ao
encontro do João da Capela, que rapidamente foi encontrado, por se tratar de
uma pequena comunidade de pescadores. Nos apresentamos como amigos do Dininho e
entregamos o tal bilhete autorizando nossa hospedagem.
João, gentilmente nos
cedeu um carrinho de mão para ajudar a carregar nossa bagagem e pediu para
irmos caminhando pela praia que há uns três ou cinco quilômetros estaria nossa
hospedagem. Ele seguiria de bicicleta por uma trilha até nos encontrar.
Aportamos em tal casa e o
João estava a nossa espera. Fomos comunicados que precisava se comunicar com o
senhor Dininho para confirmar a autorização, mas que não havia conseguido tal
comunicação via telefônica. Assim retornaria ao conseguir tal contato.
A casa era bem ampla e
continha uma área na frente. Nem nenhuma pressa, nos organizamos naquele espaço
externo e preparamos um “rango” rápido a espera da chave. João aparece pela
segunda vez e nos comunica que ainda não conseguiu se comunicar e continuamos “acampados”
na área da casa, mas agora preocupados com a situação.
Após várias tentativas
sem êxito de contato entre João e a base em Curitiba, continuávamos a esperar
João com a chave da casa para nos hospedar e realmente aproveitar nosso
passeio. Como em todas as tardes de verão, naquela não foi diferente e desabou
um aguaceiro com muito trovão e raios. O ‘tempo fechou’ e nós apenas protegidos
em uma área externa da casa. Mas, eis que surge envolto aquele temporal um
vulto de bicicleta e capa amarela... Era o João. Ufa...parece que finalmente
conseguiu autorização. Mas para nossa surpresa, ainda não tinha conseguido
contato e decidiu que não nos acolheria.
Nesse momento, o André
virá e questiona a posição do encarregado: Não vai abrir a casa? O senhor está
desobedecendo uma ordem do gerente e estamos aqui desde meio-dia esperando pela
hospedagem. Se isso não ocorrer agora, vamos falar com nosso amigo Dininho e o
senhor poderá ser prejudicado. Isso é uma desobediência!
Perante aquela situação
de impasse, o encarregado se viu em dificuldades resolveu mudar de posição: – Está bom, vou abrir..., mas fica sobre
responsabilidade de vocês.
Ufa...então abra!
Reforçamos. – Vou buscar a chave que está lá em casa! Bradou o encarregado, e
seguiu de bicicleta pela quarta vez a distância entre a tal desejada casa e sua
moradia.
Bom salientar que a casa
do encarregado era no povoado e a casa da Capela ficava a cinco quilômetros,
percurso que ele já tinha feito umas quatro vezes.
O João retorna em menos
de meia hora, isso abaixo de muita chuva e escuridão e finalmente abre a
casa. Liga o gerador de energia e mostra
todos os cômodos, instalações e utensílios que poderíamos utilizar durante nossa
estadia. Apenas salientou que não deveríamos adentrar em um aposento.
Não entre
Acolhidos, a primeira
coisa que desejávamos era tomar um banho de água doce. Caixa d’água abastecida,
fizemos fogo em um fogão a lenha, pois a água do chuveiro era aquecida em uma
serpentina do fogão. Difícil foi controlar a temperatura da água, mas o banho
nos rejuvenesceu. Preparamos uma janta rápida, mas comemorativa, pois agora era
planejar nossa estadia na ilha, passeios e conhecimento.
Antes de recolhermos em
nossos leitos, como todo jovem curioso e desafiador, resolvemos ultrapassar o
limite atribuído, de não adentar em um aposento. Então, resolvemos ver o que
continha naquela sala que nos foi negado o acesso. Porta sem chaveamento, adentramos
e encontramos um equipamento de radiotransmissor, mapas, documentos e um
armário embutido no qual continha algo que, por mais honestos que fossemos e
sem vicio de bebidas, não tornar-se-ia despercebido: alguns litros de whisky
Grant.
Como tínhamos amizade
intensa com o gerente Dininho, achamos que deveríamos burlar a bebida,
principalmente o litro que estava aberto...e caso ele tivesse conhecimento,
tudo não passaria de uma brincadeira.
Então saúde...e boa estada em Superagui.
Retornando a Antonina,
era tempo de carnaval e saímos fantasiados pela avenida, com um cantil cheio de
Grants, e encontramos Dininho com sua esposa assistindo a festa. Oferecemos a
bebida e falamos: É whisky! E ele não deixou por menos e deu um gole.
Passaram-se alguns dias,
Dininho foi a farmácia e falou com o André que o encarregado da empresa, o
João, o comunicou que tínhamos retirados um litro de whisky do quarto secreto
da casa do Superagui. E André salientou: E aquele whisky que você tomou na avenida
durante o carnaval, acha de quem era? Seu mesmo! E tudo virou uma grande
chacota.
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