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Roberto Fernandes é Cara-de-Relógio.
Por que,
ninguém sabe.
Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo
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Além dos atrativos naturais, cidade do litoral leva fama
pelos codinomes dos moradores, que querem transformar as alcunhas em atração
turística05/02/2013, 00:12 GISELE BARÃO, ESPECIAL PARA
A GAZETA DO POVO
Marquinho Pé-de-Mola, Luiz Pirulito, Pelicano,
Cara-de-Relógio, Boca-de-Caçapa, Pé-de-Pano. Em Antonina, no Litoral do Paraná,
todo mundo se conhece pelo apelido. O costume é uma das marcas da cidade e não
gera intriga para ninguém. A origem pode ser a personalidade, uma
característica física chamativa, um sobrenome diferente, uma história de
infância ou, simplesmente, uma brincadeira sem explicação. E, se o apelido
pegar mesmo, o nome verdadeiro pode virar história. É o que conta João Peixoto.
Quem? O João Foró. “Se perguntar por João Peixoto, ninguém sabe quem é”, diz.
Roberto Fernandes, vereador em Antonina, é conhecido como
Cara-de-Relógio desde os 19 anos. A origem não tem nenhuma explicação lógica,
mas pegou. “Quem me deu esse apelido foi o Pé-de-Pano”, conta. Famílias
inteiras também ganham nomes diferentes. Tem os Araponga, os Boca Larga, a
família Garça, família Maravilha e os Pinto Loco, conhecidos assim por causa da
tradicional participação nas folias de carnaval.
Virou
moda
São tantos codinomes que a cidade os assumiu como
característica. E há quem se preocupe em registrar a criatividade dos moradores
na invenção dos apelidos. O cantor e compositor Rui Graciano, filho da famosa
dupla caipira Belarmino e Gabriela, mora em Antonina há cerca de 30 anos e já
fez músicas sobre o costume. A “Moda dos Apelidos” foi composta na década de
80. “Depois do sucesso, algumas pessoas vieram me cobrar, porque o apelido
delas não estava na letra da música”, conta.
Um dos personagens citados na “Moda dos Apelidos” é o
professor aposentado Eduardo Nascimento, o Eduardo Bó. Ele mantém um blog há
cerca de dez anos, no qual já contou casos divertidos sobre o tema.
Também há preocupação em transformar os nomes alternativos
em uma marca cultural da cidade. Para algumas pessoas, o costume poderia ganhar
um espaço de homenagem em Antonina, funcionar até como atrativo turístico.
Nascimento conta que, junto com outros colecionadores, já buscou projetos para
consolidar a ideia. “A cidade tem essa essência e queríamos transformar em
produto cultural”, conta. Mas o município não tem nenhum projeto oficial que
garanta ao menos a catalogação.
Rui e a esposa, Soraya Valente, formam uma dupla caipira.
Nos shows que fazem pelo país, eles contam histórias dos apelidados de
Antonina. Os dois já catalogaram mais de 900 nomes diferentes. A intenção é
reunir alguns e publicar em livro. “As pessoas trazem apelidos na nossa casa, ou
me encontram na rua e contam uma história”, diz. Curiosamente, eles escaparam:
não têm nenhum apelido. Ainda.
Na boca do povo
Conheça mais
histórias de personagens de Antonina:
Dalila Bú
Uma senhora chamada Dalila, que perambulava pela cidade até
os anos 80, descalça, com roupas velhas e uma cesta de cipó ganhou dos
moradores o apelido de Bú. Cada vez que passava e era chamada assim, Dona
Dalila Bú praguejava: “Bú é a mãe”, dizia. Mas, no fundo no fundo, Bú gostava
do novo nome. Se as pessoas ficavam em silêncio quando ela passava, Bú
insistia, até ouvir o chamado. E aí, enérgica, voltada a distribuir
xingamentos.
Aposta de curitibano
Um curitibano, certa vez, apostou com amigos que iria até a
cidade e conseguiria voltar sem apelido nenhum. Chegando a Antonina, o homem se
isolou em um hotel e apenas olhava pela janela de vez em quando. Na hora do
retorno, ao sair do estabelecimento, ouviu como despedida dos moradores:
“Tchau, Cuco!”.
Eleições
Em eleições municipais, candidatos também apostam em nomes
populares para ganhar um voto ou outro. Zé da Verdura, Zé Boiadeiro, Clayton
Galo Cego, Jessé Papai Noel, Marquinhos da Quiboa, Mario Malária, Jorge Gato e
Vera do Castelinho concorreram ao cargo de vereador nas eleições do ano
passado.
Casamento
Uma composição de Rui Graciano conta a história do casal
antoniense Pedro e Maria. Segundo ele, o romance deu certo porque os apelidos
combinaram: Pedro Perereca e Maria Tararaca.