Bloco do Boi do Norte |
ENTREVISTA IV*
Voltando aos bois (Blocos Carnavalescos), fora do
carnaval, os grupos fazem apresentações distintas. O Boi do Norte faz a
encenação da morte e ressurreição e o Boi Barroso dança a Balainha. Eles
representam a cidade de Antonina? Como você vê isso?
Pela pouca diversidade que temos em nossas manifestações
culturais no litoral, quando os grupos de Antonina se apresentam é um sucesso.
Sabemos fazer isso muito bem. Temos uma riqueza musical que nenhum outro lugar
do litoral paranaense tem, porque temos uma escola de educação musical que é a
Filarmônica Antoninense. As pessoas desses grupos também são direta ou
indiretamente ligadas a essa escolaridade, através de parentes, amigos. Então
temos uma musicalidade patente na cidade, como a família Graciano, a família
“Pinto Louco” entre outras. Eles têm essa vivência no sangue, e quando chegam
em algum evento fazem sucesso.
Os grupos são bonitos: o Boi Barroso é rico visualmente, as
pessoas sabem trabalhar bem as cores, composições, brilhos; já a beleza do Boi
do Norte está na simplicidade, eles têm uma cor própria, uma cor “rota” (como
diz Adalice Araújo) bem característica deles, que parece velha, gasta, e que
também é linda, mas exige um outro olhar. Os blocos são muito distintos, apesar
de serem da mesma fonte, do mesmo lugar.
Os Blocos de Boi
representam o povo de Antonina?
Acho que eles representam uma parcela, uma pequeníssima
parcela do povo antoninense. É interessante perceber que os grupos sobrevivem e
eles não fazem as apresentações por dinheiro, acho que é uma coisa da alma. Os
organizadores sabem que não terão recursos, e mesmo assim eles saem na avenida,
como o Boi do Norte, com suas limitações. Parece que são alimentados por uma
vontade de cumprir seu papel no carnaval.
Depois, o grupo “desaparece” porque o carnaval parece que é o foco deles
e porque eles não têm uma sede física, não tem dinheiro, não tem apoio político
nem financeiro. Mas ainda assim eles continuam fazendo a festa. É o desafio da
sobrevivência que parece impulsioná-los, o elemento criador que está sempre à
frente de tudo. Então tem o grupo que mantém a tradição e o novo grupo que saiu
deles e que precisa criar algo novo, fazendo releituras.
Como você vê essa
questão do “boi rico” e do “boi pobre” ?
Veja bem, eu não usei esse termo, eu me referi ao bloco que
está mais próximo de manifestações mais simples porque as pessoas que
participam do grupo são de uma classe econômica menos abastadas. Para eles, uma
camiseta é suficiente para brincar no carnaval. Eles não têm essa pretensão de
usar uma indumentária brilhante para os olhos dos outros, o seu desejo é
simplesmente de participar da festa e basta àquela fantasia. E que fantasia é
essa? Será que é a indumentária ou a fantasia da sua cabeça, o desejo de estar
na festa? Então, se o bloco foi estigmatizado como “dos pobres”, pode até ser
dos pobres, mas não dos pobres de espírito, porque eles têm sua riqueza
cultural, é uma questão de parâmetros estéticos. A indumentária do grupo
reflete a sua própria realidade, é a estética do cotidiano deles, da casa, dos
móveis, da sua economia também, claro que é, mas antes de ser econômico, é
estético e cultural.
Para finalizar, você falou que Antonina tornou-se
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Os blocos de boi podem ser
considerados patrimônios da cidade?
Sim, os dois blocos fazem parte do nosso patrimônio
imaterial.
*final da entrevista com Eduardo Nascimento (Bó) concedida a
Beatriz Helena Furianetto (doutoranda da UFPR) 18-05-2013
Veja a entrevista completa no MARCADOR/Entrevista (coluna ao lado direito do blog).
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