Desfile da E.S.do Batel - Carnaval 1996 - Foto Eduardo Nascimento ( tirada no carro alegórico) |
Em 1995 fui convidado pelo carnavalesco Eduardo Machado - da
Escola de Samba do Batel, a conceder parte da minha vivência para com a cidade,
a fim de se tornar enredo da escola no carnaval de 1996. O alvitre me deixou
pasmo tal a importância da homenagem, pois completava apenas 45 anos de idade e
nem tinha uma obra meritória.
Mas aconteceu, e me envolvi em quase todo o processo de
construção do enredo, desde a pesquisa bibliográfica até o desenvolvimento das
alas, samba enredo, coreografia da comissão de frente e das alegorias.
Vem mostrar nesta avenida,
A Antonina dos meus dias,
De Eduardo Nascimento,
O grande mestre da fotografia.”
A Escola de Samba do Batel tem suas raízes no “bairro do
asfalto” do mesmo nome...Batel. E sempre foi reduto da comunidade local,
tendo como sua maior rival a Escola de Samba Filhos da Capela, que sempre
representou os moradores do centro da cidade.
Confesso que fiquei um pouco preocupado, pois não sendo
morador do Batel, e um abnegado escoteiro, grupo responsável pela fundação da
Escola de Samba Filhos da Capela, poderia encontrar resistência por parte de
alguns “apaixonados” componentes da Batel.
Se algum murmurinho deva ter acontecido, foi totalmente
resguardado. Não somente a escola, como toda a comunidade batelense, me acolheu
com o maior carinho possível durante todo o processo.
“Que deixou os seus pincéis,
Pela arte de fotografar,
Trocou as emoções da cores,
Pelas lentes do seu coração.
Olhou, gostou,
Seu ‘flash’ então brilhou,
Esta cidade o seu ‘clic’ eternizou!”
Acredito que o fator preponderante para receber tal
honraria, tenha sido minha participação efetiva nos Festivais de Inverno da
UFPR, realizados na cidade desde 1991.
Sendo um de seus idealizadores, tínhamos como princípio
consultar as comunidades culturais da cidade, para a elaboração da grade de
cursos ofertados no festival, que deveria contribuir para o aperfeiçoamento do
fazer artístico dos envolvidos. No caso da Batel, realizamos inúmeras oficinas
de carnaval, com os melhores mestres das escolas de samba do Rio de Janeiro, e
as melhorias eram visíveis a cada ano quando a escola desfilava na avenida.
O que reforça ainda esta convicção, é que no mesmo ano de
1996, a escola rival Filhos da Capela, apresentou o enredo inspirado no próprio
evento... O Festival de Inverno da UFPR.
“Retratando...Carnavalgrafia
Foi a sua grande exposição,
Relembrou velhas folias,
Seus ‘cartemas’ delirantes,
Extasiantes são a maior sensação.”
O desfile da escola foi maravilhoso, naquele domingo de carnaval antoninense.Mais de oitocentas pessoas participaram das alas que contavam um pouco da minha modesta trajetória. A comissão de frente foi impecável e inovou com uma coreografia pontuada e indumentárias homenageando o magistério.
Porta-bandeira e mestre-sala. Ala dos escoteiros, dos pacoteiros, dos apaixonados, do mar- arte e do amor, dos fotógrafos, dos manguezais...E para encerrar a ala do Festival de Inverno, com suas bandeirolas alegres e coloridas saudavam o público. Cinco carros alegóricos foram montados, o carro abre alas com os símbolos da escola – os cavalos marinhos e o escudo, e no final o carro de encerramento, com o homenageado. A bateria cadenciava o samba enredo cantado pelos empolgados puxadores.
“ Sempre alerta! Flor de Liz,
O amor em sua vida é devoção,
Gigante pela própria natureza,
Bravo guerreiro,
Defendendo o seu rincão.”
A sensação do desfile na avenida é indescritível, o cenário
maravilhoso. Um tapete vivo de alegria, história e emoções se desenrolavam a
minha frente. Nas laterais, amigos aplaudiam, alguns ignoravam, pois não sabiam
o que o Bó estava fazendo encima daquele carro alegórico. Muitos acenos e
flashes, pois ainda tive tempo de fotografar todo o desfile, que guardo até
hoje, como registro da mais emocionante homenagem que recebi. Obrigado
Batel...Obrigado Antonina!
“ Inverno vai e vem,
E o festival taí,
Tem arte pro meu povo assistir.”
(bis)
Samba enredo - Autores: Eduardo Machado, Augusto, Lúcio e
Iomar.