sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

História de carnaval: Siri de Ouro e Siri de Prata...1975.

 

Carnaval no mar/1975

HISTÓRIA DE CARNAVAL: SIRI DE OURO E SIRI DE PRATA

No ano de 1975, o prefeito Joubert Gonzaga Vieira me convidou para ajudar a organizar o carnaval. Tinha apenas 24 anos, já com alguma experiência em decoração da avenida, mas totalmente imaturo, principalmente na organização do concurso das escolas de samba.

A comissão do carnaval foi nomeada e seus ocupantes não recebiam nenhum tipo de remuneração.

Tínhamos recentemente criado o Projotur – Projeto Jovem de Turismo, a primeira tentativa de discutir possibilidades de a cidade se preparar para aquela área de desenvolvimento emergente, e aproveitamos o evento para demonstrar nossas habilidades.

Inicialmente fizemos dois bailes para arrecadar recursos. Um no Clube Literário e outro no Primavera, que rendeu alguns trocados para comprar os tecidos das fantasias do Rei e da Rainha do Carnaval.

Carnaval no Mar

O tema escolhido foi “Carnaval no Mar”, cuja decoração – paupérrima por excelência – consistia de centenas de metros de redes de pescar, que foram emprestadas pelos pescadores da Ponta da Pita e estendida por toda a avenida, fazendo parte de uma alegoria composta de uma folha de zinco e uma lâmpada incandescente de 100 watts, afixada em um poste de madeira bruta, cortado no morro do Bom Brinquedo. A maior parte do carnaval acontecia durante o dia e no mais tardar findava pela meia-noite, dando início aos bailes dos clubes.

Nossa falta de experiência nos fez procurar a pessoa que na época concentrava tal conhecimento, Wilson Galvão do Rio Apa, também presidente da Escola de Samba Império da Caixa D’Água. Prontamente, Apa nos atendeu e fez um rascunho do concurso, que consistia no julgamento do desfile como um todo, sem notas para quesitos, até então inexistentes em nosso carnaval. Também resolvemos fazer um concurso individual, com apresentações separadas por alas.

O concurso tomou noite adentro e foram escolhidos os melhores Porta-Bandeira e Mestre-Sala, Bateria, Samba-Enredo, Passista, Surdo, Frigideira, Caixeta, Tamborim e Destaque.

Siri de Ouro

Como a prefeitura não dispunha de recursos para o evento, tivemos que criar até os troféus. Por ironia do destino, encontramos o Tube vendendo uma dúzia de siri guaçu e imediatamente levamos para cozinhar, secamos as casquinhas, pintamos com um bom spray dourado e prateado e estavam prontos os troféus: Siri de Ouro e Siri de Prata, para os mais bem colocados nos concursos individuais. Para as escolas de samba vencedoras, os prêmios foram um Pilão de Ouro e uma Gamela de Ouro adquiridos em um dos “quartos” do mercado municipal.

Rei e Rainha do Carnaval

Já que o tema estava ligado ao mar, substituímos o Rei Momo por Neptuno o Rei do Mar. Que, em companhia de sua rainha, foi recepcionado pelas Escolas de Samba no Trapiche Municipal, chegando do outro lado do mar em sua bela e decorada canoa.

Concurso

O regulamento do concurso foi apresentado para todos os participantes, em reunião realizada no Clube Literário, e aprovado por unanimidade. Mas, o resultado foi surpreendente, pois passou despercebido pelos dirigentes que a escola campeã seria aquela que obtivesse a maior nota da comissão julgadora por seu desfile como um todo. E a pontuação do concurso individual não participava do cômputo geral.

Daí a Escola que levou mais Siris para casa foi a Escola de Samba da Capela e a campeã do carnaval de 1975 foi a Escola de Samba Império da Caixa D’Água.

O resultado do concurso foi imediato e o palanque oficial teve que ser cercado por policiais, pois o inconformado ganhador da tal “sirizada” queria a cabeça do Rio Apa e do pessoal da Comissão Organizadora, inclusive a minha.

Os ânimos foram ainda mais acerbados quando José Maria Storache colocou no ar na Rádio Antoninense, em seu programa, a tal farta premiação e distribuição de Siris de Ouro e de Prata e a suposta armação.

Apesar da falta de recursos e da pouca experiência, em 1975 foi realizado mais um grande e polêmico carnaval da nossa cidade. Esta é mais uma história do Carnaval de Antonina.

Texto publicado no livro “Tenho dito” Eduardo Nascimento, 2012.

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