quinta-feira, 12 de agosto de 2021

O Bó no Divã do Jekiti: O quadrinho da padroeira.

Agora é a minha vez de “paciente” em ocupar o Divã do Jekiti, e contar uma história:

O QUADRINHO DA PADROEIRA

Durante minha adolescência, entre meus 14/17 anos – anos sessenta, fui fervoroso frequentador da igreja matriz de Nossa Senhora do Pilar, em Antonina. Além de pertencer ao grupo de jovens, ajudava nas cerimônias religiosas e em diversas atividades. Entre elas, durante as missas e novenas, sempre na companhia do amigo Alfredo Jacob Filho, éramos encarregados de vender os artigos religiosos na porta da igreja.

Nesse período, era a Congregação Redentorista – os padres americanos, que dava os sermões, todo voltado a implantar a devoção de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro em seus redutos de domínio. Aqui, não ficou por menos. “Recebemos” milhares de lembrancinhas com a imagem da nova-santa.

Mês de agosto se aproximava, e notamos – eu e o amigo – que não teríamos nenhuma lembrança com a imagem da nossa padroeira a ser comercializado entre os devotos e romeiros. Mas tínhamos dezenas de caixas com quadrinhos, porta-retratos, com a imagem da Perpétuo Socorro.

Na época, o senhor Cavagnolli da gráfica de Morretes, gentilmente doava uma certa quantidade de impressos com a estampa e hino da padroeira do Pilar. Então, tive a ideia em abrir os porta-retratos e substituir a imagem da Socorro pela do Pilar. Inicialmente, fiz apenas um quadrinho – escondido dos padres, e em questão de minutos vendeu.

Com uma boa expectativa de venda, falamos com o vigário e ele nos autorizou a trocar a imagem, sendo que o objetivo maior era mesmo vender e obter lucros. Mudamos todo o estoque e colocamos a venda nas novenas preparatórias.

No dia da festa - 15 de agosto, todos os quadrinhos foram vendidos. E na hora de entregar a “grana” para o vigário – foi o maior montante entregue - combinamos em retirar uma pequena comissão, como parte de nosso trabalho e ideia, já que nunca fomos contemplados com nenhum tipo de benefício. Apenas...O “muitobriiiiiigado!” com sotaque americano.

Além do desejo em proporcionar aos fiéis e romeiros, uma lembrancinha da festa da nossa padroeira, tínhamos um desejo famélico maior que era saborear o cheiroso e suculento churrasco da Barraca do Ferreira – que nos perturbava em todos as festas - instalada entre a praça e a igreja. Nossa situação econômica e idade não possibilitaria tal intento. Daí a ideia em trabalhar para conseguir.

Fizemos a apropriação amedrontados, pois como falaríamos em casa que almoçamos na Barraca do Ferreira, se não tínhamos dinheiro?

Uma coisa eu garanto, foi o melhor churrasco que comemos em nossas vidas. Sentamos nos bancos de tabuas das mesas da barraca, fizemos os pedidos: dois churrascos faça o favor! E logo nossos olhos se encheram de alegria ao ver aquele “encantado” prato de papelão, com um baita suculento filé, salada e farofa. Comida típica de festa de igreja da época. Uma benção!

Na semana seguinte, durante a confissão, contamos para o padre nossa façanha. Nada que umas orações, meia dúzia de pais-nossos e dezenas de ave-marias, aos pés do altar não nos perdoa-se. Amém! E ainda sobrou um dinheirinho para gastar nas barracas de brinquedos. Desejo de criança.

Eduardo Nascimento   11 de agosto de 2021

Eduardo Bó Nascimento 

Em tempo de pandemia, escreva uma das suas histórias, me envie que divulgo. Assim vamos construindo nosso repertório popular.

O Divã do Jekiti é uma coluna publicada no Blog palavradobó, com causos e histórias contadas pelos frequentadores do Jekiti, lugar de convivência social – ponto de ônibus com dois cafés. As conversas-histórias são gravadas, subscritas e postadas pelo editor do blog. Mas, em tempo de pandemia do Covid-19, para evitar aglomerações, os frequentadores enviam suas histórias por rede social...E a gente divulga!

3 comentários:

  1. Gostei muito da crônica, confrade. Saborosa como um churrasco roubado! Kudos!

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  2. KKKKK....deu vontade de pedir um churrasquinho pra comer com voces ali no banco da praça...

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  3. Belíssima estória. Tão bem narrada que nos transportamos para ela. Como as crianças eram felizes nesse tempo. Qualquer coisa era uma alegria intensa. Hoje tem-se demais e não damos o valor que dávamos antigamente. Adoro ter sido criança nessa época.

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