sexta-feira, 11 de março de 2022

11 anos da calamidade de 11 de março de 2011

 

Texto publicado no blog e no livro “Tenho Dito-Antonina...crônicas, casos e acasos” 2012.

O 11 DE MARÇO

O dia 11 de março de 2011 será marcado pelos episódios naturais ocorridos em nossa cidade. A bela “deitada-à-beira-do-mar”, como dizia o poeta, acordou assustada com as notícias nunca divulgadas de enchentes e deslizamentos de morros em seu ventre e entorno, causados pela quantidade de chuva torrencial que se abatia.

No dia anterior, a natureza já havia traçado um desenho do que estava para acontecer, quando começou chover em quantidade e volume nunca vistos, descendo dos morros, alagando os pontos mais baixos e dando o primeiro indício com o deslizamento no Morro do Bom Brinquedo, no coração da cidade.

Mas foi na noite do dia 10, quinta-feira, e amanhecer do dia 11, sexta, que presenciamos o maior volume de chuva aqui registrado.

A quantidade e a força da água foram tão intensas que os telhados das casas indicavam que todos iriam desabar. As centenárias telhas de algumas casas históricas não resistiam a tal quantidade de água e gotejavam por inteiro, causando pânico aos moradores. As luzes se apagaram, os telefones ficaram mudos e o abastecimento de água potável foi interrompido.

Mas foi em torno das 14h que começamos a perceber a verdadeira consequência das intensas chuvas, quando aconteceram os deslizamentos no bairro das Laranjeiras. Dois morros no seu entorno não suportaram tanta água, deslizaram e levaram árvores, pedras e lama, soterrando grande parte das moradias e fazendo uma vítima fatal. Em outras localidades também aconteciam deslizamentos, como na Graciosa de Cima, no Bairro da Caixa D’Água, Buraco da Onça e no km 4. Somente não houve mais vítimas fatais nos soterramentos devido ao trabalho dos policiais do Corpo de Bombeiros, que, aos primeiros sinais, retiraram os moradores. As ruas centrais se transformaram em verdadeiros rios e todas as casas abaixo do nível das ruas foram tomadas pelas águas. Bairros inteiros foram alagados.


Fomos vítimas, independente de grau de perda. A noite foi longa, mais ainda para os desabrigados que perderam tudo e para centenas de desalojados que foram acolhidos em igrejas e escolas municipais. O momento era indescritível de pura tristeza, choro, pânico e desalento. Ninguém acreditava que tudo aquilo estava acontecendo conosco, pois estávamos acostumados a ver este tipo de cenário somente pela televisão. Em outras comunidades.

As autoridades constituídas começaram imediatamente suas tarefas de abrigar as pessoas, cadastrá-las e coletar doações para minimizar o sofrimento. A Defesa Civil fez sua parte e a maioria da comunidade não mediu esforços para ajudar. Um enorme mutirão aconteceu. Parecia que estávamos em guerra. Som de helicóptero tangia nosso amargo silêncio e dezenas de veículos cruzavam nosso olhar, carregando móveis, mantimentos e distribuindo água potável para a população. Autoridades de todos os escalões nos visitaram e viramos noticiário nacional.


O dia 11 de março das tão cantadas chuvas nos pegou de maneira diferente, de surpresa, sem estarmos preparados, apesar de “termos consciência” da natureza do nosso hábitat e da fragilidade do nosso solo. A natureza reagiu e mandou seu recado. Espero que tenhamos ouvido, visto e refletido para agirmos com mais sabedoria e respeito. Nossa cidade não é mais a mesma depois do dia 11 de março de 2011.

 



Leia esta e outras pérolas da nossa cidade, através dos livros textuais do Bó: “Crônicas da Capela”, “Tenho dito” e “Antonina frag-men-tos” Solicite por WhatsApp 41 99906-4081.


Um comentário:

  1. Tudo isso mesmo... Os mais antigos com 80, 90 anos na época diziam não terem visto calamidade igual. Muitos até diziam que era por conta do coincidente tsunami que ocorreu no Japão no mesmo dia.
    Eu, mesmo morando numa casa considerada em nível mais alto, da rua, não deixei de sentir as consequências do toró.
    Sai de casa inundada e fui abrigado (eu e a Helena) na casa dos amigos Cândida e César. Ao lado da casa deles o morro do Bom Brinquedo vindo ao chão... Ainda sim consegui dormir.
    A cidade nunca foi tão unida quanto aquele mês. Todos foram atendidos e ajudados. As igrejas, escolas, poder público, defesa civil... Todos ajudaram. Muita doação de cestas que não eram nem básicas de tanto item que vinham. O ser humano é bom, quando é solicitado.

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