ANTONINA AINDA TEM CARNAVAL
Publicado no livro "Crônicas da Capela" 2006 e no blog "Antoninaonline"13 de março de 2003
Apesar das forças visíveis e invisíveis contrárias a nossa maior festa popular e turística, o nosso carnaval vem resistindo e pede para sobreviver, apesar do descaso da atual administração, que nem sequer sabe da importância desta manifestação para a nossa cultura e para o aquecimento da nossa paupérrima economia.
São visíveis as diferenças dos nossos últimos carnavais com os reinados de dez anos atrás. Enquanto nossas cidades vizinhas investem em melhorias e promoções, por aqui não presenciamos nenhum investimento e as coisas continuam acontecendo sem nenhum planejamento, muito improviso e uma total incapacidade. Mérito maior fica com o nosso povo que gosta de ir para a avenida e brincar das mais diversas maneiras, nos Blocos, nas Escolas, com o Trio Elétrico ou como folião solitário. O povo reage e não deixa morrer o nosso carnaval.
A boa novidade deste carnaval foi a Escola de Samba Brinca Pra não Chorar do bairro do Itapema, que apesar de ainda pequena, mostrou muito bem para que veio e deu um brilho todo especial pela garra e muita animação. A Batuqueiro do Samba que levou para a avenida o tema Com a Cara e a Coragem, mais uma vez se fez presente contribuindo com a festa. Mas foi a Leões de Ouro que nos fez recordar pequenos momentos dos nossos grandes carnavais, com destaque para o casal de Mestre Sala e Porta Bandeira...Impecáveis. Os blocos tradicionais também abrilhantaram a festa, os índios Guaranis, o Dragão e o centenário Bloco dos Apinagés.
Apesar dos esforços e do pequeno número de Blocos e Escolas, ainda o problema crucial ficou a cargo da comissão organizadora, que, como nunca, soube cronometrar os desfiles. O povo espera uma hora para ver passar uma pequena Escola que dura 15 minutos, e começa tudo de novo. Quando que iremos aprender métodos de organização?
Mas o melhor da festa sempre fica com a animação do folião antoninense, que na segunda-feira se veste ao contrário e sai pra rua comemorar a sua verdadeira carnavalização. E é aqui o nosso momento mais importante, a criação de blocos de rua, blocos familiares, blocos de vizinhos, de clubes de futebol, turma de mascarados, o Beco do Mijo, Preserve as Velhas...Coma as Novas, a Mocréia e as tradicionais Escandalosas.
A família Ruprecht se vestiu de índio e saiu brincar na avenida em qualquer “tribo”que passou por perto. O importante é aproveitar a festa. O Bloco do Mijo, formado em sua maioria pela família Araponga, já faz parte da história do nosso carnaval. Até o nosso mais conhecido animal canino, que passeia diariamente pela cidade com o seu “ray-ban” esteve impecável na avenida, e soube se comportar muito bem.
Mas o carnaval não é só festa. O povo vai pra rua, brinca e se diverte. Centenas de pessoas se organizam como podem e com muito sacrifício tentam tirar suas Escolas de Samba, seus Blocos. Os comerciantes esperam faturar um pouquinho com o evento. Todo o mundo espera alguma coisa do carnaval. É preciso a cidade como um todo estar preparada para o evento e é aqui que começam os problemas. O carnaval acontece na cidade, em suas ruas, praças, logradouros, hotéis, restaurantes, rodoviária, estradas, casas, lanchonetes, clubes e até em algumas igrejas. É preciso que o poder público entenda a lógica do evento e trate-o como algo benéfico para a cidade, algo que não só é importante como brincadeira ou simples manifestação popular, mas como gerador de receita para o município.
Na sexta-feira que antecipou o carnaval e a prefeita entregou a chave da cidade ao Rei Momo, senti uma pena enorme do mesmo, pois deveria também receber uma lanterna e um facão, que os ajudariam a sua melhor performance ao andar pela cidade, pois nem sequer a própria “avenida do samba” estava totalmente iluminada, em seus extremos e até na área da concentração das Escolas sequer tinha lâmpada nas luminárias. As ruas perpendiculares estavam quase em escuridão total. Nas praças era a escuridão que se fazia presente. E os Banheiros? Ah, nem se fala. Durante a festa é normal a degustação de milhares de latinhas de cerveja e haja banheiro pra turma “mijar”. Os únicos públicos são os da Praça Cel Macedo e ao lado do Teatro, que durante as festas a prefeita delibera para um necessitado “amigo” cuidar e explorar o “mijador”. A prefeitura que deveria motivar as pessoas a utilizar os banheiros, colaborando com a limpeza da cidade, deixa ilegalmente, por conta de terceiros, que cobram uma taxa para o seu uso. É o fim da picada.
O nosso comércio, que vem sobrevivendo à duras custas o ano todo, durante as festas e principalmente no carnaval, se defronta com barracas que são montadas pela prefeitura e alugadas a “estrangeiros” que vem até aqui, sem nenhuma condição de higiene e qualidade, explora as pessoas e vai embora. Este ano a coisa ainda ficou pior, pois a prefeitura não condicionou aos locatários nenhum regulamento, e o pessoal dormiu com a família toda em plena praça. A Associação Comercial da cidade poderia muito bem questionar este tipo de atividade que só vem em prejuízo do nosso comércio e na degradação dos nossos valores. Também se faz necessário uma melhor fiscalização por parte da Vigilância Sanitária. O melhor mesmo seria acabar com este tipo de comércio.
O clima político durante a festa não esteve muito favorável a nossa ausente prefeita, que por sinal tomou sumiço e não apareceu. As próprias Escolas saíram com enredos de protestos, como Brincando Pra Não Chorar e Com a Cara e a Coragem. Centenas de pessoas desfilaram com camisetas impressas “Nosso carnaval pede socorro” e teve até bloco carnavalesco que a alegoria de mão era a alça de um possante e verdadeiro caixão de defunto, simbolizando o estado em que a atual administração tenta deixar o nosso carnaval.
Protestando é uma maneira de mostrar às autoridades o descontentamento da nossa população e abrir nossos olhos para que possamos no futuro próximo, resgatar a verdadeira fama em ter o melhor carnaval do Paraná.
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