Heitor Vieira, mais conhecido
como Rellen Salu Berght, de nome complicado e difícil de escrever, é uma das
figuras populares da nossa cidade e de inegável importância para a nossa contemporaneidade
cultural. Heitor, digo Rellen - como
faz questão de ser chamado - nasceu por aqui mesmo, no bairro do Batel aos 28
dias do mês de maio do ano de 1931. Filho de Francisca e Irineu Vieira, comerciante, escolheu o
nome de Heitor em homenagem ao prefeito da cidade, o Engenheiro Heitor Soares
Gomes. Mas como ele mesmo conta, a sua mãe não se contentou com aquele nome e
nos primeiros dias de vida apresentou o novo herdeiro a um assíduo freqüentador
do seu empório, o escravo Fanor, que ao olhar a criança disse: ele vai se chamar Rellen Salu Berght. E assim se
cumpriu.
Rellen, poeta, compositor é
um dos maiores contadores de histórias da nossa cidade, alfaiate de profissão,
trabalha em seu próprio domicílio. Mas é durante o carnaval que vive e revive
os seus maiores momentos de glória. Salu-berght se transforma na figura
discreta e central do evento, pois quase sempre tem um ou dois sambas-enredos
de sua autoria sendo versados na avenida, por uma ou mais Escolas de Samba da
cidade. Com passagens como autor de
peças teatrais lá pelos anos 70, quando incentivado por Gerson Machado, no
Grupo de Teatro Amador do Clube Primavera, encena inúmeras peças de sua autoria
como: A mulher que eu pedi a Deus;
Bastante Vingado e Lágrimas de Mãe, entre outras.
Como compositor carnavalesco, faz sua primeira criação para a Escola de
Samba Batuqueiros da Caixa Dágua, em 1975. Que por ironia do destino o tema da
Escola foi “ Homenagem a Heitor Soares Gomes”. No mesmo ano compõe para a
Escola de Samba do Batel o samba enredo “Homens e Fatos de Antonina”. Daí
seguem outros grandes sucessos como “O Trem” e “Rainha das Cachoeiras”. Em 1980 muda de camisa e veste a azul e
branca da Escola de Samba Filhos da Capela e compõe o samba enredo “Fonte da
Carioca”; em 82 “A lenda do bosque encantado”; em 83 arrasa na avenida com o
seu maior sucesso “Carnaval sonho e nobreza” ...Sonhei que era carnaval,
festa do povo...Que bom seria sonhar tudo de novo. Em 84 levanta o “caneco”
do tricampeonato pela Escola de Samba Filhos da Capela com o samba enredo
“Astro Rei”. Outros sambas e marchinhas alegraram muitos carnavais da nossa
cidade, todos saídos da fértil criatividade dos versos do grande compositor da
nossa cidade, mas foram os das décadas de 70 e 80 os mais importantes da
carreira do compositor. Rellen também gosta de dedilhar suas poesias, fala
sempre da sua amada e das coisas da nossa cidade. Seus versos simples quase
sempre rimados, nos remetem à momentos
da nossa história e nos despertam para uma reflexão.
Rellen é o nosso maior poeta
vivo. E quando indagado fala que sente
falta dos grandes carnavais da nossa cidade, que se tornaram apenas lembranças.
Também cobra uma maior atenção por parte das autoridades que estão deixando a
nossa história morrer, quando questiona a falta de promoção de eventos que
possam reunir as pessoas, os artistas e as nossas crianças em uma troca de
experiência cultural.Rellen é um dos poucos protagonistas da história viva
da nossa tão querida Antonina.
“Antonina, berço de homens
ilustres.
Escritores, pintores e
poetas;
Seus monumentos,
Relíquias de uma geração,
Que foram construídos
Na época de sua evolução;
Igrejas, Fonte da Carioca e
Theatro Municipal
Velho portão.
Que a linda avenida
enfeitava...
Um dia foi destruído,
Jamais será esquecido...
Antigo Mercado.
Antes de ser derrubado,
Pelas ondas do mar foi
beijado.
Antonina, banhada pelas
águas temperadas
Nem doce e nem salgada.
Molhando o corpo da mulata
capelista
Quando banha-se lá na Pita.
Praça Coronel Macedo.
Onde os pássaros despertam
bem cedo;
E na Feira Mar.
Que maravilha as noites de
luar...
Quando Deus criou Antonina.
A sete chaves a cópia ele
escondeu.
Lugar igual a este
Ainda não apareceu...
Fundada por Manoel de Valle
Porto.
Luso viajante, que aqui
chegou.
Antonina joia pequenina.
Que a Virgem Santa
abençoou...
Publicado no blog em 10 de dezembro de 2002 e no livro “Crônicas da
Capela” 2006.
P.S. O poeta Rellen Salu
Berght, faleceu no dia 11 de fevereiro de 2004, sentado em um banco na Praça
Coronel Macedo de Antonina, a sombra de uma Tamarineira, por ele mesmo
plantada. Coisa de poeta!
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