Hoje quem está no Divã, sou eu mesmo. Com esta chuva refrescante, nada melhor que recordar os causos da nossa infância. E lá vai:
DOMINGO É DIA DE MATINÊ
Domingo era dia de ir a matinê das 14h no Cine Ópera em
Antonina, na minha infância nos anos sessenta. Não importava qual filme iria
passar, mas o programa estava garantido.
Meu padrasto, seu Acrízio, garantia
o dinheiro para os ingressos, meu e de Acrizinho – irmão de afinidade e convívio.
Mas, como todas as crianças da época, gostávamos de uns docinhos ou pipoca para
degustar enquanto assistíamos a película, mas era aí que começa essa história.
Nosso dinheiro dava apenas para comprar o ingresso.
Antoninha, madrinha de Acrizinho, “morava”
em umas das casas da Rua do Esteiro – conhecida como Rua da Zona, dona de umas
das Casas de Tolerância, onde nós menores éramos proibidos de entrar, pois,
falavam que lá tinha mulheres “maldosas”.
Como faltava dinheiro para nossas guloseimas,
Acrizinho resolveu ir “pedir a benção” da madrinha, e íamos nós, bem trajados
até a casa da madrinha. Fichávamos na porta, Acrizinho batia palmas bem alto
até alguém escutar e nos atender. Sempre vinha umas das “meninas proibidas” nos
atender: - Madrinha está? - Espere um pouco vou chamá-la!
E vinha Dona Antoninha, toda
descontraída, com um vestido estampado bem degotado. - Abença madrinha. – Deus que
te abençoe meu filho! Eu na condição de coadjuvante, ficava na torcida para que
a visita rendesse alguns trocados, e não dava outra.
Antoninha botava a mão no sutiã –
de seios generosos, e retirava algumas notas de cruzeiro – moeda da época, e
agraciava meu irmão com alguns deles – uns CR$2,00. Suficientes para comprar
umas balinhas e garantir nossa guloseima na matinê.
Obrigado madrinha! Era o
agradecimento pela cortesia da visita...E meu sorriso de satisfação.
A visita a Dona Antoninha virou rotina,
pois todos os domingos antes da matinê, lá íamos nós até a Rua do Esteiro (Dr.
Melo), ganhar a benção da madrinha.
Minha presença nunca foi ignorada
e em algum momento, Antoninha virou também “minha madrinha” e comecei a ganhar
não só sua benção como também um troquinho para comprar nossas balas.
Domingo era dia de matinê, mas
antes tínhamos que pedir a benção da madrinha Antoninha. Com o dinheirinho
extra, íamos até o Bar do Feliscindo- ao lado do cinema, e comprávamos os doces
para saborear durante a seção.
As quatro horas da tarde chegávamos
em casa, felizes e satisfeitos. Pois tínhamos idos a matinê, assistido um filme
acompanhado de ótimas guloseimas. Coisas de crianças da época, abençoadas por
uma madrinha benévola. Salve a história.
Antonina, 29 janeiro 2022.
O Divã do Jekiti é uma coluna publicada no Blog Palavradobó, com causos e histórias contadas pelos frequentadores do Jekiti, lugar de convivência social – ponto de ônibus com dois cafés. As conversas-histórias são gravadas, subscritas e postadas pelo editor do blog. Mas, em tempo de pandemia do Covid-19, para evitar aglomerações, os frequentadores enviam suas histórias por rede social... E a gente divulga!
Valeu Eduardo
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