segunda-feira, 27 de julho de 2009

VALE A PENA LER DE NOVO


Publicado no Blog em 11 de novembro de 2002 e no livro "Crônicas da Capela" 2007.

BÚ...é a mãe!
Quem tem mais de trinta anos e viveu este tempo em nossa cidade, deve ter ouvido, por inúmeras vezes esta frase afirmativa: Bú...é a mãe!

Resposta contundente para quem abusava, digo, apelidava uma velhinha, que andava perambulando pela cidade, com sua roupa gasta, descalça e com uma velha cesta de cipó. Era Dona Dalila Bú, que durante muitos anos fez parte do nosso folclore popular, pois esbravejava quando a criançada chamava pelo apelido de Bú. Dalila no fundo adorava ser apelidada, pois é do nosso conhecimento, que em determinada situação o pessoal combinava em não apelidar Dona Dalila, e deixava a velhinha passar naturalmente, mas isso não bastava, ela voltava a passar inúmeras vezes pelo mesmo lugar, até que então alguém falasse o seu apelido Bú. Ora, era o que bastava para que ela solta-se o já ensaiado vocabulário de palavrões: é a mãe!...Etc...Etc...Etc. Só assim seguia o seu caminho xingando todo mundo, até chegar a sua pequena morada na Rua Riachuelo. Não tenho precisão, mas a figura de Dalila conviveu conosco até o início dos anos 80, quando bem velhinha, já com seus cabelos brancos, foi levada para um internato em Paranaguá, onde anos depois veio a falecer.
Dalila Bú faz parte do nosso folclore popular, junto também com personagens de sua época como Barreano, Genésio, Mediato, Caninana, Tucum, Maínho, Valdívio e Albari, todos já falecidos. Hoje ainda convivemos com algumas figuras bem populares, mas em número bem reduzido, comparado com as décadas de 60 e 70. Temos ainda Tube e Moça, figuras que fazem parte do nosso dia a dia, e que com os seus jeitos de ser, enriquecem a nossa cultura popular.
Mas o interessante é que todas estas pessoas não são conhecidas pelos seus nomes, e sim pelos apelidos. Dificilmente alguém saiba qual é o nome de Moça, ou de Tube, ou qual era o nome de Barreano, Caninana, ou até da Dalila Bú. Claro, aí é que vem a pergunta: em Antonina as pessoas são conhecidas pelos nomes ou pelos apelidos? Posso garantir que a maioria só é reconhecida pelo apelido.
Pra começar, a matéria que está lendo é a “Palavra do Bó”. Todos sabem que meu nome é Nascimento, mas quem me conhece em Antonina com o nome Nascimento? É o Bó mesmo.
Apelido é uma marca da nossa cidade e da nossa cultura. Temos famílias centenárias que preservam os seus apelidos como nomes verdadeiros. Algumas até posso citar: as famílias Garça, Chico Loco, Sabiá, Galo Cego, Polenta, Guanandi, Come Vela, Siri, Lambança, Araponga, entre outras. Apelido é o que não falta. Todo o mundo sabe da história do Cuco, fruto da fama da nossa cidade com os apelidos.
Certo dia um cidadão curitibano apostou com um amigo que ele iria até Antonina, ficaria somente algumas horas e voltaria sem pegar apelido. Claro que ele perdeu. Apesar de ter se fechado todo o tempo em um quarto de hotel a espera do horário de retorno do trem, de vez em quando abria a janela para apanhar um ar e dava uma olhada para a rua. Quando chegou a hora do embarque, saiu lentamente de seu aposento com destino a estação, mas não escapou sem ouvir tchau Cuco, já vai hem! Exclamado pelo pessoal da esquina.

Moda dos Apelidos
Para não ter que relacionar os inúmeros apelidos, vou me apropriar da letra musical composta pela dupla Rui Graciano e Soraya Valente, artistas da nossa cidade, autores da Moda dos Apelidos: “Se você esteve passeando em Antonina., deu uma volta na Praça e parou pelas esquinas. Em rua estreita admirou as ruínas, e ficou impressionado com a beleza das meninas. Eu te garanto e disso eu não duvido, que você já é mais um que pegou um apelido.
Tem o Lauro Sapo, também o Johnny Sacy. Tem o Nene Rolinha que nem mora mais aqui. Tem o Paulinho Sabiá e a família Siri. Tem o Joel Motor-de-Popa, o João Bang e os Carambolas. Tem o Forma-de-Diabo e o Marquinho Pé-de-Mola. Tem o Sandro Baronesa, o Pimenta e o Bambu. O Muamba e a Nenega, o Totoca e o Tatu. O Araponga e o Chorão que vive só. Tem o Tube o Lobisomem e o Eduardo Bó. Tem o João Barbeiro e o seu filho Nélio Porco. A família Boca Larga e a família Maravilha. Zé da Malária e o Pedro Perereca. O Badejo, o Caranguejo e o Tenente Careca. Tem o Peito de Pombo, tem o Cara de Relógio. Tem a Denise Gata, o Guaxica e o Sagüi. Pois apelido é coisa que não se disfarça, veja o tamanho da perna de toda a família Garça. Tem Alceu Macaco e o Alceu Cachorrinho, o camelo, o Helio Corvo, o Canário e o Paulinho que é o mesmo Paulo Perneta. Pois aqui ninguém escapa nem o Didi Cara Preta e o Tico Boca de Caçapa. E aqueles que já partiram mas fizeram a sua história. Nós guardamos na memória e vale a pena recordar. De Bento Cego, Agnaldo o profeta, do seu Nenê Chaminé que alegrava os carnavais. Se por acaso houver no céu uma janela, Dona Mariquinha Bó ta nos cuidando através dela. Se por acaso houver festa dentro dela, com certeza estão cantando Belarmino e Gabriela.”
Milhares são os apelidos que compõem o nosso saudável repertório . Dizem que para se pegar um apelido é necessário alguns ingredientes, como identidade física com o suposto cognome, ou no mínimo algum sinal referente. Mas o importante mesmo é quando a pessoa portadora se zanga quando chamada, aí é que realmente pega. É só dar continuidade, que começa a fazer parte da identidade coletiva. Raros são os apelidos que também são sonoros. É o caso da família Araponga, quando chamada pelo apelido/nome Araponga, as pessoas atendem numa boa. Mas se o apelido for sonoro “Tém”, o pessoal vira uma fera.
Mais alguns apelidos populares: Macuco, Tiriça, Ninoca, Canduca, Dodo,Galo, Pé-de-Pano, Banana, Chulé, Pé-de-Valsa, Deixe que Eu Chuto, Garrafa Nagua, Pilha Fraca, Cara no Vidro, Tingo, Gorgó, Pórvinha, Cateto, Capivara, Pelicano, Goiaba, Muçum, Cabeça de Ovo Podre, Garrafa Nagua, Siri Mole, Caga Telha, Areia Mijada, Pinto Loco, Cabeção, Pinga, Mamador, Mão de Vaca, Pé de Anta, Peitudo, Pardal, Chico da Funerária, Totola, Gibe, Maneco, Zoa, Braço de Boneca, Peixe Frito, Cara de Pudim, Mamanga, Baiana, Maionese, Cobra D’agua, Galinha, Tiririca, Cheirosa, Torneira, Bambino, Boquinha, Macaca, Bira, Piriquito e muitos outros.
Os políticos não poderiam ficar de fora. A prefeita para se eleger é Mônica. Na Câmara Municipal temos entre os vereadores o Cara de Relógio, Melsinho, Pirulito, Miro, Valdo, Polaco, Tutico e Calhambeque.
Aqui em Antonina apelido é coisa séria. O político usa o seu apelido para se eleger, pois é mais fácil ser identificado pelo eleitorado, e ninguém fica bravo. Ter apelido em nossa cidade é estar sintonizado com a cultura popular do nosso povo. Assim quero fazer uma apologia aos apelidos, que eles se perpetuem por muitos e muitos anos, e que estejam presentes nas cabeças criativas dos seus autores e que venham emoldurar de alegria e personalizar os seus portadores, de agora e para sempre. Amém.
N.E.do Blog: Em março passado, apresentamos (Eu,Rui e Soraya) um projeto de Turismo Cultural para o prefeito Canduca, sustentado nos apelidos. Inicialmente foi "aprovado"...Mas até o momento aguardamos a disposição do alcaide em nos receber e iniciar as ações propostas. Ou???

Um comentário:

  1. Super legal a matéria sobre apelidos , mais... que peninha vc esqueceu dos BORRACHUDOS RSRSRS


    CALUDINEIA A. SKROCH (CARDOSO)

    oestesulprojetos@yahoo.com.br

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