“Até parece que tem cabeça de bode enterrada!”
Este é um ditado popular que ouvimos em muitas esquinas das
pequenas comunidades brasileiras, quando a crença popular está mais voltada para
o erro do que para o acerto, de uma ação que teria tudo para ser concretizada.
Ser um sucesso.
Até parece que a tal “urucubaca” deve mesmo existir,
e toma conta do imaginário popular.
Aqui em nosso rincão Guarapirocabano, o último “não deu
certo” a ecoar por toda cidade, foi referente à instalação da empresa Techint
junto ao falecido Porto Barão de Teffé - que há muitas décadas não aporta
nada - de propriedade do Governo Estadual.
A tal empresa já estava treinando funcionários, e não é que uma quebra de contrato interrompeu o percurso... e de
novo “ficamos a ver navios...” Agora foram plataformas.
“Crer em bruxas não creio... mas que elas existem...
existem!”
Revendo nossa história, deparamos com fatos interessantes e
até intrigantes, mas que certamente poderiam ter influenciado esta
desconcertante descrença. Até parece “praga de madrinha”.
Desde nossos primeiros povoadores, 1712 - conta Ermelino
de Leão¹ - o então todo poderoso Valle Porto encomendou a um santeiro da
Bahia uma imagem de Nossa Senhora do Pilar, santa venerada por um grupo de
devotos do pequeno povoado. Não se sabe porque, o santeiro envia a imagem de
uma outra santa: Nossa Senhora da Soledade.
A comunidade não aceita a imagem e é devolvida para o
santeiro em troca da solicitada.
Para determinada parcela de devotos, devolver uma santa (seja
ela qual for) é um ato que poderá dar azar, e toda a comunidade será
atingida. Deve ser a tal “praga de madrinha”.
A imagem encomendada da Santa do Pilar, mais tarde foi
recebida e reina até os nossos dias em seu ordeiro santuário.
Nos anos que sucederam o golpe militar de 64, nossa
comunidade católica foi pastorada pela Congregação Redentorista (padres
americanos), que de toda a maneira tentou impor o culto a Nossa Senhora do
Perpétuo Socorro, em detrimento a tradicional padroeira do Pilar. Mas apesar da
grande adesão de devotos à santa do “quadro milagroso”, continuou prevalecendo
a crença em nossa histórica padroeira.
Novamente podemos constatar um conflito de crenças e mais
uma vez, uma outra santa foi rejeitada e apenas ficou com uma capelinha de
madeira. Bem... Coisas de crenças!
O mais recente e interessante envolvimento religioso
com a cidade aconteceu no final dos anos noventa. Onde o INRI Cristo comprou
uma chácara no Bairro do Saivá e lá se instalou com seus discípulos. “Aqui é a
nova terra prometida e irei alicerçar meu templo... luz para o novo milênio”,
aclamava sua “santidade”.
A população novamente rejeitou a ponto de ter que vender sua
propriedade e procurar outra cidade para instalar sua nova moradia.
Comenta-se que ele – considerado o novo “filho do pai”
– amaldiçoou o local, devido sofrida rejeição.
Para muitos isso pode ser considerada heresia de minha
parte, mas como “escrivinhador” tento narrar parte da vivência e informações
que adquiri ao longo dos meus modestos anos.
Particularmente sou incrédulo em tais fatos, e vejo com
tristeza crenças pessimistas relacionadas com a cidade.
Minha fragilidade faz-me acreditar que vivemos numa região
economicamente pobre e politicamente obtusa, onde nossa auto-estima minguou. E
somente num passe de mudança de comportamento, que poderemos resgatar a luz do
crescimento, priorizando a educação e a geração de renda e emprego. Com ou sem
santo. Acredite se quiser!
¹De
Leão, Ermelino Agostinho. Homens e Fatos de Antonina, 1918.
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