terça-feira, 26 de novembro de 2013

“Até parece que tem cabeça de bode enterrada!” Histórias e Estórias XVII

“Até parece que tem cabeça de bode enterrada!”

Este é um ditado popular que ouvimos em muitas esquinas das pequenas comunidades brasileiras, quando a crença popular está mais voltada para o erro do que para o acerto, de uma ação que teria tudo para ser concretizada. Ser um sucesso.
Até parece que a tal “urucubaca” deve mesmo existir, e toma conta do imaginário popular.

Aqui em nosso rincão Guarapirocabano, o último “não deu certo” a ecoar por toda cidade, foi referente à instalação da empresa Techint junto ao falecido Porto Barão de Teffé - que há muitas décadas não aporta nada - de propriedade do Governo Estadual.
A tal empresa já estava treinando funcionários, e não é que uma quebra de contrato interrompeu o percurso... e de novo “ficamos a ver navios...” Agora foram plataformas.

“Crer em bruxas não creio... mas que elas existem... existem!”
Revendo nossa história, deparamos com fatos interessantes e até intrigantes, mas que certamente poderiam ter influenciado esta desconcertante descrença. Até parece “praga de madrinha”.
Desde nossos primeiros povoadores, 1712 - conta Ermelino de Leão¹ - o então todo poderoso Valle Porto encomendou a um santeiro da Bahia uma imagem de Nossa Senhora do Pilar, santa venerada por um grupo de devotos do pequeno povoado. Não se sabe porque, o santeiro envia a imagem de uma outra santa: Nossa Senhora da Soledade.  
A comunidade não aceita a imagem e é devolvida para o santeiro em troca da solicitada.
Para determinada parcela de devotos, devolver uma santa (seja ela qual for) é um ato que poderá dar azar, e toda a comunidade será atingida. Deve ser a tal “praga de madrinha”.
A imagem encomendada da Santa do Pilar, mais tarde foi recebida e reina até os nossos dias em seu ordeiro santuário.

Nos anos que sucederam o golpe militar de 64, nossa comunidade católica foi pastorada pela Congregação Redentorista (padres americanos), que de toda a maneira tentou impor o culto a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em detrimento a tradicional padroeira do Pilar. Mas apesar da grande adesão de devotos à santa do “quadro milagroso”, continuou prevalecendo a crença em nossa histórica padroeira.
Novamente podemos constatar um conflito de crenças e mais uma vez, uma outra santa foi rejeitada e apenas ficou com uma capelinha de madeira. Bem... Coisas de crenças!

O mais recente e interessante envolvimento religioso com a cidade aconteceu no final dos anos noventa. Onde o INRI Cristo comprou uma chácara no Bairro do Saivá e lá se instalou com seus discípulos. “Aqui é a nova terra prometida e irei alicerçar meu templo... luz para o novo milênio”, aclamava sua “santidade”.
A população novamente rejeitou a ponto de ter que vender sua propriedade e procurar outra cidade para instalar sua nova moradia.
Comenta-se que ele – considerado o novo “filho do pai” – amaldiçoou o local, devido sofrida rejeição. 

Para muitos isso pode ser considerada heresia de minha parte, mas como “escrivinhador” tento narrar parte da vivência e informações que adquiri ao longo dos meus modestos anos.
Particularmente sou incrédulo em tais fatos, e vejo com tristeza crenças pessimistas relacionadas com a cidade.
Minha fragilidade faz-me acreditar que vivemos numa região economicamente pobre e politicamente obtusa, onde nossa auto-estima minguou. E somente num passe de mudança de comportamento, que poderemos resgatar a luz do crescimento, priorizando a educação e a geração de renda e emprego. Com ou sem santo. Acredite se quiser!


¹De Leão, Ermelino Agostinho. Homens e Fatos de Antonina, 1918.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente com responsabilidade e se identifique.