Foto ilustrativa. Atelier do Boi Barroso. |
ENTREVISTA III*
Você acha que o
carnaval tem sido uma representação da comunidade?
“Acho que nosso carnaval é um pouco das Escolas de Samba e
dos Blocos de rua do Rio de Janeiro, é um pouco da Bahia com trio elétrico, e
os Blocos do Boi referem-se ao norte e nordeste, então, daqui mesmo é muito
pouco.
O carnaval mais tradicional do Paraná é uma grande mistura.
Ainda assim, Antonina é a cara do Paraná, é isso mesmo, um pouco de cada coisa.
Então, hoje temos um carnaval que sem dúvida é muito bom, uma festa tranquila,
cheia de alegria, não é aquela “festa da carne” como o nome diz, mas é o "carnaval da família", onde as pessoas podem sair nas ruas com tranquilidade, e é
um carnaval diversificado, que tem de tudo.
Sábado tem desfile dos blocos e baile na rua com trio
elétrico, domingo tem o desfile das Escolas de Samba, mas entre 1980 e 1990 os
antoninenses viraram platéia, ficavam assistindo as pessoas virem de fora com
suas plumas e paetês, nos seus carros alegóricos.
Hoje não, a cidade incorporou mais as Escolas de Samba.
Essas Escolas até a década de 1980 eram grandes blocos carnavalescos, depois
começaram a ser formato de alas, a copiar o Rio de Janeiro, começou a ter
concurso entre as escolas. Hoje o concurso acabou, mas se é Escola de Samba tem
que ter concurso, senão é como ter time de futebol e não participar de
campeonato parece uma coisa estranha.
No caso dos blocos carnavalescos, principalmente no caso do
Boi do Norte que é mais tradicional, eles sempre foram uma manifestação mais
simples e espontânea possivelmente trazida por algum trabalhador, algum
estivador do norte ou nordeste do Brasil que veio para cá e montou o grupo, não
tenho esse dado. Então, são sempre pessoas simples com seus ornamentos de
acordo com a sua cultura, a sua simplicidade, e que faziam do momento do
carnaval a sua festa, a sua alegria. Sempre fui a favor, tentei defender – em
um determinado momento - um espaço para que essas pessoas continuassem tendo o
espaço delas, em detrimento das Escolas de Samba que cresceram e “viraram
luxo”, enquanto os blocos “viraram lixo”.
Quando as Escolas de Samba ganharam alas e carros
alegóricos, houve um choque de comportamento, de identidade, de fantasias. É um
choque mesmo colocar a Escola da Capela, por exemplo, ao lado do Bloco do Boi.
E nos últimos anos, esses blocos também estão se transformando em alas. O que
acho mais preocupante ainda, além dessa transformação de Blocos em Escolas de
Samba, é a maneira como eles interagem com a população no dia do carnaval. A
minha concepção de Bloco é que há uma interação com a comunidade, a qual vai
atrás, vai junto...Participa da “coreografia espontânea”, não é uma platéia.
Espetáculo é Escola de Samba, tem um sambódromo, um grande teatro ao ar livre,
tem horário, coreografias, baterias, e você aprecia o espetáculo.
O Bloco é uma folia comunitária, uma catarse, onde todos
participam. O Bloco do Boi é maravilhoso, antes o boi saia feito “um louco”
atrás da criançada, mas hoje não, cercam a avenida e fazem aquela apresentação
triste, é um boi triste.
Nova eles vêm perdendo identidade, o encontro com a
população envolvente.
Os participantes, principalmente no caso do Boi do Norte que
é mais tradicional, fazem essa simbiose com a comunidade, são eles que chamam a
comunidade para participar, mas quando colocaram a cerca, virou desfile.
Posso estar enganado, mas é a minha concepção. Antigamente
os blocos brincavam livremente, não havia desfile nem horários rígidos.
Mudanças aconteceram, acho que os organizadores, as
autoridades responsáveis pela festa, se preocupam demais com a organização do
evento. É claro que deve ter infraestrutura, segurança, recursos, mas
determinadas situações não precisam ser organizadas, e não existe um debate
aberto com a sociedade, que com certeza contribuiria para ajustar algumas
deficiências”.
Continua na próxima semana...
*entrevista com Eduardo Nascimento (Bó) concedida a Beatriz
Helena Furianetto (doutoranda da UFPR) 18-05-2013
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