Publicado no blog em 25 de novembro de 2003 e no livro “Crônicas da Capela” 2006.
NON TEM...TUDO BENDIDO P’RA MORRETES!
Quando criança ouvia falar que em certa época existiu em Antonina um comerciante libanês, dono de loja de armarinhos, que sempre respondia aos seus fregueses: “ non tem... tudo bendido p’ra Morretes !” quando não estava disposto a atendê-los, deixando seu mau humor tomar conta do negócio.
Iberê Mathias, em seu livro de contos sobre a cidade: O tesouro da tia Rita, reforça a existência da figura folclórica do libanês Naun Abdalla, que por volta dos anos 30 se estabelece por aqui: “Estabelecido na Rua XV de Novembro, com comércio de calçados, tecidos, armarinhos e aviamentos diversos...tinha o hábito de sentar-se em uma cadeira de balanço que ficava entre um velho balcão e as prateleiras de sua loja. Em seu colo um gato mourisco. Ao acariciar aquele bichano, fugia de seus momentos de dissabores para com a vida.”
Mas tudo não passava de um jogo-de-cena para despistar o freguês e deixar a vida passar sem muita preocupação. No dia seguinte -como conta Iberê - já de bem com a vida, atendia a todos os seus fregueses com cortesia e palavras amenas. O velho Naun viveu muito tempo por aqui, fez da cidade a sua maneira de viver e nos deixou um legado de história e de dedicação por Antonina.
Non tem...tudo bendido p’ra Morretes! Até parece que o velho Naun era vidente, pois a maneira lúdica que arrumou para se desculpar e não atender os seus fregueses criou também um vocábulo usado até os nossos dias quando queremos falar de alguma coisa que perdemos ou estamos prestes a perder. Sem nenhuma intenção em criticar os nossos progressistas vizinhos, hoje presenciamos uma inversão de desenvolvimento, principalmente na área do turismo gastronômico, de aventura, cultural e ecológico. Antonina padece e presencia esta fuga, enquanto os “compradores” do libanês Naum se organizaram e com competência melhoraram a sua cidade, em todos os sentidos.
A “nossa” prefeita, que até tem descendência árabe, parece querer parodiar o seu compatriota Naun. A única diferença é que ela não fala...Mas leva tudo p’ra lá. A residência oficial é lá, por aqui somente ficou a “Casa da Pedirranha” utilizada para atender a clientela em véspera de eleição. Encontrá-la durante a noite, feriados e finais de semanas só em Morretes. A família também reside por lá. O Secretário Municipal de Finanças, o homem que veio para “acertar” as contas também é de lá. Dois advogados, pai e filha que dão assessoria jurídica, também são da gema. O engenheiro florestal não deixou fugir a regra, e também se desloca diariamente 14 km para fazer seu expediente por aqui. A construtora que vence a maior parte das concorrências e constrói para a prefeitura, não poderia ser de outra parte...é de Morretes é claro. Mais...Alguns fornecedores de mercadorias que compõe a merenda escolar, gráfica...Etc...Etc...Etc. Ou seja, por aqui não fica mais nada... “Tudo bendido p’ra Morretes”.
Quero isentar de qualquer culpa os referidos profissionais, pois foram convidados pela alcaide para exercer as suas funções. O que nos revolta é o absoluto descaso com os nossos valores, principalmente os éticos e a total falta de valorização e oportunidade aos nossos trabalhadores. De duas, uma: ou não confia nas pessoas da nossa cidade ou “confia” demais nos escolhidos.
O legislativo – se a maioria não fosse subserviente – deveria investigar com mais profundidade as contas da atual gestão, principalmente as licitações para construção de obras, que sempre cheira carta marcada. É preciso restituir tudo aquilo que esta gestão deixou escapar para o ralo do velho Nhundiaquara (que deságua em nossa baía), e resgatar as nossas coisas. E aquilo que acharmos que não vale mais a pena, não iremos vender e nem mandar para Morretes, iremos “deletar”, para não contaminar os nossos bons vizinhos.
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