sexta-feira, 8 de maio de 2020

A VISITA DO IMPERADOR D. PEDRO II A ANTONINA

Placa afixada na fachada do prédio
da Prefeitura de Antonina.
Consta um erro na
data grafada em algarismos romanos.
O correto seria II-XII-MCMXXV
(02-12-1925) no lugar de
II=XII-MXMXXV.
Homenagem aos 140 anos da visita do Imperador.

Na fachada do prédio da prefeitura de Antonina, encontra-se afixada uma placa de mármore, comemorativa a visita do Imperador D. Pedro II, cuja honra maior é que a casa serviu de hospedaria ao casal imperial, em quando estiveram em visita a nossa cidade, em 1880. O referido imóvel foi construído por ordem do Coronel Líbero, na metade do século XIX. Também pertenceu a Antônio Alves de Araújo, cuja senhoria foi o anfitrião da família real. Em 1914, o sobrado é adquirido e reformado por Antônio Ribeiro de Macedo, então prefeito, passando a sediar Prefeitura e Câmara.


VISITA AO PARANÁ
Nos consta que, nos meses entre maio e junho de 1880, o Imperador D. Pedro II e sua esposa, Dona Tereza Cristina, e comitiva, estiveram em visita a nova Província do Paraná. Desembarcaram em Paranaguá no dia 18 de maio e por aqui passaram 20 dias, visitando várias cidades.

“Sua vinda ao Paraná tinha dois motivos principais: vistoriar as unidades militares do Sul do país depois da Guerra do Paraguai, encerrada anos antes, e visitar as colônias de imigrantes, que trouxeram as culturas típicas europeias, como a batata e o arroz", explica o associado do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, Venceslau Muniz Filho. Além do local de embarque e desembarque da comitiva, o litoral também fez parte do roteiro de Dom Pedro no estado. Ao todo, ele permaneceu na região durante seis dias entre Morretes, Antonina e Paranaguá, de onde seguiu viagem no dia 5 de junho (retorno ao Rio). A rota imperial também contemplou Curitiba, Campo Largo, Palmeira, Ponta Grossa, Castro e Lapa."(1)

Imagem  ilustrativa. Foto feita do Porto de Antonina em 1925.
Autor Arthur Wischral.

VISITA A ANTONINA
O imperador passou duas vezes por nossa cidade. A primeira, a 20 de maio de 1880, vinda de Paranaguá, que aqui permaneceu por poucas horas e foi a Curitiba pela nova Estrada da Graciosa, e a segunda, retornando, ficou por aqui dois dias, 05 e 06 de junho, e aproveitou para visitar escolas, igrejas, hospitais e o local do porto, conhecedor dos estudos realizados pelo Barão de Teffé.

Na época, assim escreveu o Jornal 19 de Dezembro:
“No dia 20 de maio de 1880, pelas 06:00 horas da manhã, embarcaram suas majestades para Antonina, transportando-se no vapor “Iguassú”, para o paquete “Rio Grande”, sendo acompanhados a essa cidade por muitos cidadãos e distintas senhoras de Paranaguá, oficialidade da Marinha, capitão do Porto, e autoridades superiores das mesmas localidades, a bordo do “Rio Grande”, as 08 horas, serviu-se um delicado e profuso almoço para o qual sua majestade dignou-se a convidar todas as pessoas que se achavam a bordo e as 08:30 minutos, desembarcaram suas majestades em Antonina, debaixo de vivas e brilhante manifestação de entusiasmo. Apesar da chuva, achavam-se no local de desembarque, toda a flor da população da cidade, grande número de senhoras, um grupo de meninas e uma banda de música que entoou o hino nacional, acompanhando sua Majestade, depois que a Câmara Municipal apresentou suas homenagens aos augustos soberanos. Suas majestades depois do descanso, partiram para pernoitar.” (2)

O historiador Francisco M. dos Santos, em sua edição intitulada “D. Pedro II- Diário da visita a Província do Paraná” nos proporciona curiosas anotações do imperador, referindo-se as localidades visitadas, e em especial – para nós - a nossa cidade. Eis um pequeno trecho:

“(...) [Curitiba] Antes de ir ao Capanema, visitei o escritório da empresa da estrada de ferro onde tomei informações relativas a obra de Ferraci e Curitberti. Os desenhos deste pareceram-me muito bem feitos. Estudam a melhor passagem da serra. há quatro possíveis: Itupava, Emboque, Caiguaba e Arraial, de norte a sul.

Voltei a Morretes, e pouco depois das duas horas parti para Antonina.
Bonito caminho vendo-se sempre ao longe o alto Marumbi. A estrada atravessa o núcleo Sesmaria. Terras boas, porém, em alguns lugares encharcadas como num prazo cujo colono disse-me que suas melhores terras tinham muita água que impedia sua cultura. Outro prazo do Bergamasco Luigi Corbetta estende-se por uma encosta. Está bem plantado. Os colonos dos terrenos percorridos mostram-se contentes. Cavaleiros no lugar em que a estrada se reúne a da Graciosa, e cheguei a Antonina cujo aspecto é risonho, as 4 e 20 minutos.

Antonina
Meia hora depois sai. Câmara, a casa é boa, e está muito bem arranjada. Padrões métricos o que já tenho dito, parecendo-me, contudo, melhor tratados que em outros municípios, porém não com o mesmo cuidado da Lapa. O clube literário está bem arranjado. Também há leitura de noite. Poucos livros. Cadeia vazia alugada por 20$000 ao mês a um mestre de obras, Adriano, que me apresentou o dono da casa que habito, Antônio Alves de Araújo, e parece seu protegido, quando a casa da Câmara que alugou a casa da cadeia e de que é presidente Alves de Araújo, paga 30$000 sendo muito melhor casa. Não há proporção. Finalmente, visitei a enfermaria particular montada pelos Drs. Melo e Grilo em casa de sobrado por que pagam 15$000. Só havia seis doentes, sendo um por infecção palustre.
Jantar cerca das 7, conversa depois, e às dez horas recolhi-me para ainda ler requerimentos, que não pudera examinar em Morretes.
O presidente da província com quem conversei a respeito de seu último relatório e outros negócios da província disse-me que Jesuíno Marcondes vendeu os terrenos de Pugnas e outros da mãe, de quem é procurador, por elevado preço, apesar de maus para as colônias, e que Jesuíno está frio com ele. Eu muito me tenho incomodado com este negócio de terras e declarei ao presidente que a vista que constava do precedente de Jesuíno Marcondes que eu supunha ter-se arredado de semelhantes traficâncias, entendi que não podia continuar a ser vice-presidente da província.
Enfim, percorri de carro 44 léguas de Antonina até Castro, o que não posso fazer em nenhuma outra província a não ser o Rio Grande com seus campos naturais.
A viação é a principal necessidade do Paraná. Convém levá-la até aas férteis margens do Ivaí. Aí é que se estabeleceram prósperos agricultores. Os campos gerais são próprios para a criação que cumpre melhorar pela maneira que disse e a marinha é pouco adequada à colonização, pelo clima e terrenos paludosos.

7 de junho – (seis horas da manhã, perto do rio).
Antes de ontem em Antonina sai as sete da manhã. Casas pequenas, mas bem arranjadas. Os professores e professora das aulas que o inspetor me designou como melhores pareceram-me bons. Os chamados como melhores, embora recitem orações, não sabem explicá-las. O vigário passa por virtuoso, mas não explica doutrina. Fui também ao mercado – casa menos que a de Paranaguá. Poucos gêneros. As reses – três por dia – matam-se fora, no campo. Almoço às oito e meia.

Nove horas. Exame no porto desde Itapema de baixo até o molhe, cuja escada na ocasião de meu passeio da manhã vira que ficara em seco, tanto espraia o mar. Notei três pedras ou parcéis, que não estão no mapa de Tefé. As ondas deste parecem exatas, pois as que se fizeram no meu escaler e foram em meio e mais que preamar. O ancoradouro está-se aterrando, pelo que traz o rio cachoeira. Um dos práticos me disse que vira formar uma ilha que parece bem grande.” (3)

As anotações do imperador, remete a uma viagem no tempo. Tempo da pequena e progressista vila que virou cidade. Onde tinha, prefeitura, câmara, cadeia, igreja, hospitais, escolas, clubes, estrada, porto...e muito mais. E uma bela fonte de água potável, edificada, conhecida como Fonte da Carioca*. Clamorosamente defendida com orgulho pelos capelistas, quando respiram forte e proclamam: “Nesta fonte, o imperador D. Pedro II, quando aqui esteve em 1880, saciou sua sede, com água fresca e cristalina”. De Antonina a comitiva voltou a Paranaguá e no dia 7 de junho de 1880, a visita terminou com a partida de volta ao Rio de Janeiro.

Uma frase no Diário do Imperador, registra seu encantamento com Antonina, sua paisagem e seu pequeno porto. Orgulho da nossa história.
Escreveu o imperador D. Pedro II:

” Forma o Porto de Antonina como um lago rodeado de montanhas...
a Serra da Prata oferece-se majestosa no fundo da paisagem...
no alto da serra a vista é ainda mais bela. O pôr do sol dava-lhes cores admiráveis...
o céu estava semeado de nuvens de ouro.”



Eduardo Nascimento
07/05/2020 em tempo de isolamento social devido ao Covid-19.

N.E. Algumas datas são conflitantes, mas respeito as informações obtidas nas fontes. Matéria a ser explorada no futuro, com metodologia aplicada a ciência da história.

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Fontes de referências:
 (1) https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/especiais/litoral/por-onde-o-imperador-esteve-9rakb9ploapsz27yrxqptw21a/
(2) Jornal Dezenove de Dezembro de 21 de maio de 1880.
(3) fonte: D Pedro II: Diário da visita a Província do Paraná. Organizado por Francisco M. dos Santos. Ponta Grossa, UEPG, 2008.
(4) https://globoplay.globo.com/v/3910872/
* Fonte da Carioca - Tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico do Paraná em 1969, foi o único meio de abastecimento da cidade, desde 1867 até o final da década de 30. Consta que a fonte recebeu a visita do imperador D. Pedro II em 1880, o qual bebeu da fresca e cristalina água, envolta em crenças populares (segundo a tradição, quem beber daquela água retornará ou ficará na cidade). Possui forma barroca e a representação das armas do império, além de coruchéus de inspiração oriental.

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