O BOLO É MEU!
Em tempo de isolamento social devido ao covid-19, os
assíduos frequentadores do Jekiti, também estão em suas casas. Mas, como todos
precisam continuar fazendo suas tarefas essenciais, quem passa pelo Jekiti
aproveita a “fugidinha” pra rever os amigos – todos devidamente protegidos – e pra
um rápido bate-papo.
Hoje apareceram uns “gatos-pingados” e já deu pra matar a
saudade. Manoel Fonseca, mais conhecido por Maneco Araponga, passou de bicicleta
e fizemos ele parar alguns segundos, para um rápido papo. E não deu outra, o
assunto virou em torno do causo que aconteceu com ele, ano passado, durante as
novenas da padroeira. Cada um tinha uma versão, aí fizemos Maneco contar a dele
e juntamos as partes, que deu mais ou menos nisso:
“Não é novidade que a família Araponga é católica
praticante. E marca presença em todas as novenas em louvor a padroeira do
Pilar. Ano passado, durante uma das novenas, foi feito uma espécie de sorteio,
pra ajudar na arrecadação da festa. Desta vez, estavam rifando um bolo, e
Maneco adquiriu vários bilhetes.
Após a celebração das liturgias, o pároco fez o sorteio do
bolo, e o número premiado constava o ‘sortudo’ do Maneco. O padre chamou por várias
vezes pelo nome do contemplado, mas, como Maneco – não lembra o porquê –
naquela noite ficou em casa, ouvindo a Radio Serra do Mar, que transmitia a
novena. Ouvindo que foi contemplado, saiu de casa rapidamente – mora há uma
quadra da igreja – em busca do prêmio.
O padre chamou insistentemente várias vezes pelo nome do
contemplado, mas ninguém se pronunciou. Resolveu então fazer um novo sorteio, e
eis que surge a figura de Gibe Araponga – irmão de Maneco, levanta a mão e se
pronuncia: - Opa padre...Maneco é meu irmão, somos vizinhos e eu levo o prêmio
pra ele. Frente a imprevisível situação, o padre olha pros fiés e percebe que
seria justo entregar o prêmio ao Gibe. Chama-o, e enquanto caminha pra receber
o bolo e até consegue tocá-lo, eis que surge de surpresa, no fundo da igreja,
Maneco Araponga...E fala: Opa...Eu estou aqui nos fundos...na tenda. E o bolo é
meu!
Imediatamente, Gibe retorna ao
banco e o bolo é entregue ao verdadeiro contemplado.
Perante a inusitada e engraçada situação, o ambiente religioso
e festivo foi envolvido por aplausos. E num aceno solidário, doou o bolo para
ser novamente sorteado. E por sorte do destino, após duas novenas, Maneco é contemplado
de novo, e desta vez levou o bolo pra degustar com a família, compartilhado com
Gibe e Erasminho...que não comem pouco.”
História compartilhada. Chico Preguiça, Valney, Maneco Araponga e Lauro Sapo. Eduardo Bó é o fotógrafo e o 'escrivinhador'. |
Obrigado Maneco pela história. Se vc sabe um causo, escreva
ou grave e mande que publico. Assim vamos reconstruindo nosso
repertório popular.
Histórias do nosso cotidiano...de “nóis” mesmo.
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