Conta aí:
A FÁBRICA DE RÁDIOS & A
“LOJISTICA” DO PREFEITO JOUBERT
(Logística com “J”, pq foi na loja do
seu Enéas que Foquinho resolveu o problema do prefeito).
Papai, “seu” Enéas, foi o comerciante
mais paciente que conheci. Tinha a sua loja em frente à Caixa Econômica e da
Materiais de Construção do seu Osni Passos (hoje, Hotel Madureira). Na Loja Rio
Apa se vendia de bicicletas Monark, Garick, relógios Westclock, rádios
Mitsubishi, Telefunken, Philco e Phillips entre outros, a materiais elétricos,
lâmpadas GE, pilhas Rayovac, ferro elétricos etc.
Também consertava, dava um jeito nos
rádios que vendia. Caso tivessem um “crepe” em razão de uma goteira em cima
deles ou de um copo da água “benta” de uma novena ou da "Hora do
Angelus" transmitida pela rádio Antoninense ZYX-6 e que por
acaso entornasse por cima do aparelho, em razão das crianças que
nessa época dormiam cedo, mas não sem antes correr pela casa (em geral de
assoalho) e que balançava aumentando a animação nas brincadeira de
“esconde-esconde”, “31” ou de “mãe”. Só sossegavam, suados e dando muita risada
quando escutavam um sonoro: “acabou a brincadeira, que amanhã tem aula!”
Nestalho...Foquinho. Acervo 2009. |
Pois é. Papai, sempre na bancada e só
parava para atender algum freguês ou o seu amigo Nestalho Foquinho, que
aparecia religiosamente a tarde para ficar vendo papai “arrumar” rádios.
Perguntava de tudo. Até que papai perguntou se ele queria aprender a “fabricar”
um rádio... Além de ser um bom aluno e único, Nestalho contava com a
confiança do seu Enéas, pois hora ou outra, ele ficava na loja enquanto ia ao
Banco do Estado ou no Banco do Brasil, no seu Azevedo (em frente ao Barracão
dos Macedo). - “Seu Enéas foi até ali no
banco e já vem”.
Com isso, ele ganhava um troco e ia
construindo seu protótipo a partir de um chassis de alumínio. Válvulas, soldas
e muita conversa boa sobre "se desse certo" começariam uma fábrica de
rádios e esse rádio foi tomando forma. A cidade toda já sabia do rádio de
Nestalho e para “mexer” com ele, principalmente o saudoso Glostora na
barbearia, sempre enfebrado por Polaco: “Aí, Foquinho, Glostora dizendo que
esse rádio não vai funcionar nunca”
Pois é, ocorre, que um dia esse rádio
ligou. Se você pode imaginar o que seja a expressão de ver a aparição de um
santo, era o que estava iluminado no rosto de Nestalho, encantado, olhando para
o rádio. Papai disse: “Está pronto e agora é só você esperar que eu traga
de Curitiba a “caixa”. E Nestalho: “Não precisa, seu Enéas, eu levo assim
mesmo, eu cubro com uma caixa de papelão”. E com o rádio debaixo do braço, saiu
pela cidade ligando sua obra-prima em todos os lugares que passava.
Primeiramente e principalmente, na barbearia...
Nestalho sumiu por uns dias. apareceu
precisando trocar uma válvula que não funcionava. Nesse momento, aparece o
prefeito Joubert: - “Como é Enéas? Temos a que adiantar o planejamento do
evento, a Paranatur quer os espaços desenhados. Vamos lá na prefeitura que tem
desenhista e é só você mandar”. E Papai: - “O problema, é que não tenho
quem cuide na loja. Marcus fica meia hora e some para o 29, as meninas não
posso deixar aqui. A semana que vem vou por um funcionário...” Nem deu tempo de papai terminar a frase; e
Nestalho lá dá bancada: - “Pode ir seu Enéas! Eu cuido”.
Joubert se entusiasmou e com a mão
nos ombros de Enéas: - “Resolvido, Enéias! Nestalho cuida da loja!”
O que eu sei, é que todos os dias, às
13 em ponto, Nestalho chegava para cuidar da loja. Não vendia nada por ter
algumas "limitações" e mexer com preço, fazer troco, anotar as vendas
iria atrapalhar Nestalho, então papai resolveu dar um caderno em que quem
quisesse alguma coisa, pegava, anotava o nome e depois passava na loja para
pagar.
Bem, o Nestalho deve ter feito boas
vendas, pois Jorge Pescoço dizia pra papai quando ele chegava da prefeitura que
“tinha mais gente na loja do que aqui na Caixa ou na construtora do seu
Osni...”
Marcus Porvinha...O contador de histórias. |
Obrigado Marcus...Valeu!
Em
tempo de pandemia, escreva uma das suas histórias,
me envie que publico. Assim vamos construindo nosso repertorio popular.
Tenho até hoje um gravador de rolo comprado do seu Enéas, verdadeira reliquia.
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