quarta-feira, 1 de junho de 2022

RECORTES DA HISTÓRIA DA IGREJA DE SÃO BENEDITO DE ANTONINA

 

Igreja de São Benedito de Antonina- 2004, 
vista da rua Ermelino de Leão, antiga Travessa de São Benedito.

Prólogo – A Igreja de São Benedito é marco vivencial da passagem da minha família por esta tão pequena travessa. Desde criança tenho hábitos de sentar-se em suas escadarias para apanhar uma brisa que vem do mar, bater aquele papo extenso e aproveitar para escrever algumas lembranças da infância. Dia deste, na escadaria, me dei conta de amigos e devotos da igreja e fui interrogado sobre a história do templo, mas, muito pouco soube acrescentar. Aproveitei o tempo e fui em busca de alguns arquivos, e quase nada encontrei. Procurei o Iphan-Pr e prontamente me enviou material essencial para que pudesse oferecer este tão sublime relato, sobre nossa bela igreja de São Benedito de Antonina. Como Benedito é o padroeiro dos cozinheiros, espero que gostem do tempero. Bom apetite!


RECORTES DA HISTÓRIA DA IGREJA DE SÃO BENEDITO DE ANTONINA

A Igreja de São Benedito de Antonina, foi construída no início do século XIX, com mão de obra escrava secundados pelo Capitão Francisco Antônio da Cruz, e segundo a crença, servia de recolhimento religioso aos escravos que viam no milagroso santo São Benedito seu protetor contra a perseguição do homem branco e como refúgio de escravos fugidios de fazendas de mineração.

“Embora incerta a data das obras iniciais de construção da igreja, o ano de 1827 consta como referência, uma vez que neste ano o Capitão Antônio Pereira do Amaral, deixou através de testamento uma quantia de dezoito mil reis, para auxiliar as obras que já se encontravam iniciadas.” dados esses obtidos em pesquisa realizada pela empresa Traço Cultural¹.

O historiador Ermelino de Leão², se apropria do relatório do presidente da Província Pádua Fleury de 1865 que declara que as obras da igreja foram concluídas somente em 1859 e que já se encontravam em estado de arruinamento seis anos depois. Apesar de sua localização constar na atual Rua Dr. Carlos Gomes da Costa, denominada na pesquisa como Rua de São Benedito, consta em meus alfarrábios – escritura da minha casa - que a Travessa de São Benedito atualmente é a Rua Ermelino de Leão, que também foi nominada de Jaime Reis.

A Igreja de São Benedito, durante todo este percurso, passou por vários processos de reforma e abandono por parte da comunidade, sofrendo com isso inúmeras intervenções construtivas relacionadas as características originais.

Durante quase todo período da minha infância e adolescência (1950/1960) mais presenciei estado de abandono do que funcionabilidade. O templo permaneceu inativo por longo período, ou em reformas, sendo até dessacralizado. Na década de sessenta – não tenho precisão do ano, com a grande movimentação de cargas pelo Porto de Antonina, a igreja serviu de local para armazenamento de sacaria de milho.

Ainda na infância, era estimulador pular as muretas da igreja e brincar em seu interior. Entravamos pela sacristia, e visitávamos o altar com o nicho do santo, subíamos no coro, batíamos o sino e o mais fascinante era subir até a torre – ponto mais alto do local – onde podíamos descortinar toda a cidade, seu casario e sua baía. A antiga sacristia, por algum tempo serviu de sede da Congregação Mariana, onde fazíamos bingo e tínhamos uma mesa de ping-pong para passar nossas horas de recreação. Em uma certa reforma feita no templo, em torno de 1970, fui ajudante do artista Mario Araújo, que repintou os afrescos e colunatas do templo.

Hoje a igreja encontrasse em considerável estado de conservação, graças aos esforços de abnegadas pessoas da comunidade, que quando necessário atendem suas necessidades, manutenção, reformas e tornam vivo, aquele importante marco da nossa história.

 

Imagem de São Benedito, venerada em Antonina. 
Em procissão 2009.

São Benedito, o santo negro

“A história da devoção ao santo negro, é um santo católico que, segundo algumas versões de sua história, nasceu em 1524 na Sicília (Itália), em família pobre e descendente de africanos escravizados na Etiópia. Outras versões dizem que foi um escravo capturado no norte da África, o que era muito comum no sul da Itália nesta época. Neste caso, ele seria de origem moura, e não etíope. Chamado pelo apelido de "mouro" devido a cor escura da pele.

No Brasil, o santo é tradicionalmente venerado pelos negros, que relacionam o período de escravidão e a origem africana do santo com o seu próprio passado de escravidão e suas raízes africanas. Foi canonizado pelo Papa Pio VII em 24 de maio de 1807. Padroeiro dos negros dos cozinheiros dos Africanos das donas de casa e dos profissionais de nutrição.” ³

Não há referência quanto a origem da imagem do santo São Benedito. Venerado na igreja de Antonina, e comemorado a 04 de outubro.

PAC das Cidades Históricas

A Igreja de São Benedito em Antonina, é um dos monumentos contemplados pelo PAC das Cidades Históricas do Iphan, que aguarda liberação de recursos para sua execução. O projeto foi elaborado pela empresa Traço Cultural – Arquitetura e Patrimônio, e quando executado não só irá recuperar suas características originais, como também deixará um belo legado ao nosso patrimônio histórico-cultural religioso, importante atrativo ao desenvolvimento de um turismo sustentável e permanente.

Texto e fotos © Eduardo Nascimento   01 junho 2022


Igreja de São Benedito/Antonina 2009
Iluminação cênica.


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¹TRAÇO CULTURAL – arquitetura e patrimônio-2014- Pac Cidades Históricas/Iphan-Pr

² Leão, Ermelino. Homens e Factos. 1918.

³Benedito, o Mouro. Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre

Um comentário:

  1. Excelente matéria e curiosidades sobre a Igreja São Benedito. Uma relíquia de nossa cidade. Poderia ficar mais aberta para visitantes. Meus pais se casaram nessa igreja.

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