Hoje nossa "paciente" é a amiga professora Marilia Diaz, que retorna nos contar histórias da cidade. Conta aí professora:
Corpo luminescente
Entre os anos de 2003/2005 coordenei e ministrei aulas
para professores no Projeto O
Um dia, uma professora relatou um caso espantoso. Um de seus alunos, todos os dias pedia para sair 15 minutos antes de a aula acabar e também um pedaço de barbante.
Curiosa acabou perguntando ao menino: o que estava
acontecendo?
Nervoso, o pequeno alegou que precisava chegar antes do meio dia a Cruz das Almas. A docente não compreendeu. O menino explicou que pegava a baba das velas e o barbante cedido pela professora para fazer uma nova vela. Outros meninos também competiam pelo material do Cemitério. Ele precisava se apressar.
Então, mostrou a velha lata amassada de molho de tomate que usava para coletar a parafina e que garantia a luz para as noites solitárias. Claridade para afastar o medo, o isolamento e para esperar o sono chegar. Filho de pais alcoolistas ausentes e abusado pelo irmão viciado, a pequena casa escura era seu abrigo, seu segundo corpo, mas havia o escuro tenebroso. A vela era tudo o que tinha contra o temor. Seu farol para esperar o novo dia. Sucessão da noite e do dia. História repetida à exaustão. Quanta vicissitude, quanta luta nas Antoninas desse país!
Profa. Marilia Diaz |
Marília Diaz Professora da UFPR e artista visual.
O Divã do Jekiti é uma coluna publicada no Blog Palavradobo, com causos e histórias contadas pelos frequentadores do Jekiti, lugar de convivência social – ponto de ônibus com dois cafés em Antonina. As conversas-histórias são gravadas, subscritas e postadas pelo editor do blog.
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