Descuido ameaça bens históricos em Antonina
Na cidade litorânea, esqueletos de obras inacabadas dividem espaço com o casario antigo avariado pela passagem do tempo.
14/02/2009 00:01 Monica Cubis
Na cidade litorânea, esqueletos de obras inacabadas dividem espaço com o casario antigo avariado pela passagem do tempo.
14/02/2009 00:01 Monica Cubis
Antonina - Basta um rápido passeio pelo centro de Antonina, cidade histórica do Litoral paranaense, para ver que em muitos pontos esqueletos de construções inacabadas dividem espaço com os casarões históricos e estruturas avariadas pelo passar do tempo. O cenário mostra que o município precisa recuperar algo que ficou um pouco esquecido nos últimos anos – os cuidados com a conservação de seus pontos turísticos.
A atual secretária de Turismo de Antonina, Greice Schmegel, reconhece a existência do problema. Embora não tenha dados oficiais, ela afirma que o descuido foi um fator fundamental para a queda do desenvolvimento do turismo nos últimos quatro anos. “Quem é que vai querer vir para cá se os atrativos antigos não estão cuidados e os novos não estão acabados?”, comentou.
No trapiche, interditado há mais de dois anos, uma placa do governo estadual revela que a entrega do projeto de restauração deveria ocorrer em fevereiro. A assessoria da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa), responsável pela execução, informou que há um erro na placa, já que o contrato encontra-se dentro do prazo. A ordem de serviço foi assinada no final de 2008 e as obras, resultado de um convênio com a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Urbano (Sedu), tiveram início na primeira semana de janeiro. A conclusão está prevista para abril.
Na Praça Feira-Mar, próxima ao trapiche, a construção de um quiosque que servirá de lanchonete está parada há mais de um ano. A prefeitura vai fazer a demolição, mas não tem data definida. A atual administração alega que esse é um trabalho da gestão anterior e que a prefeitura não tem como dar continuidade, pois a verba foi devolvida para o fundo de origem.
A algumas quadras da praça, a obra de uma escola de ensino fundamental também está paralisada. A secretaria de Educação do município não tem informações sobre o projeto e de onde vieram os recursos. “A partir da semana que vem é que será possível fazer a análise”, explicou Rosane Maria de Souza Santos, secretária municipal de Educação.
Patrimônio histórico
Já na igreja matriz da cidade, três banheiros construídos há um mês terão de ser demolidos. A Igreja de Nossa Senhora do Pilar, datada de 1715, foi tombada pelo patrimônio histórico em 1999, o que impede alguns tipos de intervenção no imóvel. O padre Marcos José de Albuquerque contou que esta era uma reivindicação dos visitantes e turistas. “Pensei que era só a fachada que não podia ser alterada. Se precisar, vamos derrubar, mas estamos buscando alternativas.”
A coordenadora do Patrimônio Cultural da Secretaria de Estado da Cultura do Paraná, Rosina Parchen, explica que a legislação impede a descaraterização do imóvel e obras sem autorização e aprovação do órgão responsável. “Sempre é possível chegar a um acordo. Nosso papel é orientar e auxiliar no desenvolvimento de um projeto adequado.”
Quanto às obras inacabadas em Antonina, Rosina concorda que houve um descuido. “Acredito que tenha sido falta de diálogo, mas não é culpa de um órgão específico. Alguém pediu e a obra começou a ser feita. No caso do quiosque, o fato de estar abandonado é pior, mas interferiria no cenário histórico da cidade de qualquer forma”, lamenta.
A prefeitura de Antonina tem um plano de desenvolvimento cultural e social da cidade. “Vamos recuperar casarios e pontos históricos onde vivem pessoas daqui e não apenas lugares públicos. Nosso interesse é mostrar a cultura, mas inserindo os moradores”, afirma Greice. O planejamento está sendo feito, mas a secretária de Turismo do município informou que ainda não há fonte definida para captação de recursos.
Memória preservada
O tombamento tem como principal objetivo preservar, por meio da lei, bens que possuem valor histórico, cultural, arquitetônico ou ambiental, impedindo sua degradação. “Isso impede a destruição e também que o imóvel perca suas características originais”, explica Florindo Wistuba Júnior, membro do Centro de Letras de Paranaguá e do Instituto de História e Geografia do Paraná.
Wistuba, que também leciona História do Paraná na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Paranaguá (Facipar), diz ainda que onde há construções históricas e de valor cultural, todo o entorno deve ser preservado. “O que atrai é a beleza da construção, um prédio histórico chama a atenção. As pessoas já não têm mais aquele pensamento de que o antigo só atrapalha.”
A pousada Dona Siroba, que fica em Porto de Cima, em Morretes, foi inaugurada em 1992, em um imóvel tombado dois anos antes. O proprietário José Carlos de Miranda conta que a fachada permaneceu igual à da arquitetura original, construída por volta de 1896. “Para mim, a importância está na preservação da memória. Eu gosto de levar comigo a fé e o orgulho da terra em que nasci”, afirma.
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