terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

QUE MUDE O CARNAVAL

Dante Mendonça/Tribuna do Paraná

Antes que o tema esmoreça, meu projeto para o futuro do Carnaval de Curitiba é a seguinte: acabar com o Carnaval. Mas antes de acabar, de exterminar, de não restar um único falso brilhante, transferir o Carnaval de Curitiba para Antonina. No estado em que se encontra, minguado e esquelético, o desfile não pode continuar: nós curitibanos estamos correndo o risco de desmoralizar essa instituição que é o Carnaval brasileiro. E se para melhorar precisa mudar, que se transfira então a folia para Antonina.

Que se mude o Carnaval, porque, já dizia Milton Nascimento, "todo artista tem que estar onde o povo está". O povo de Curitiba, caros carnavalescos, há muitos anos aqui neste primeiro planalto já não resta. A sua grande maioria desce a serra, em busca de sol, samba, suor e cachaça de Morretes. Os que aqui ficam, uma minoria privilegiada. Essa burguesia enfadada que se guarda para quando o verão do hemisfério norte chegar. E os que aqui dão quorum ao reinado de Momo, não são espectadores privilegiados, são testemunhas compulsórias.

Por que Antonina? Porque é a capital paranaense do Carnaval. A cidade sempre recebeu um público folião de causar inveja aos carnavalescos curitibanos, que têm Antonina como uma segunda casa. Se no inverno Antonina já tem um grandioso festival de artes, no verão pode perfeitamente abrigar todos os carnavalescos do Paraná, concentrando escolas e blocos de Paranaguá, Guaratuba, Caiobá, Matinhos, Guaraqueçaba, Cajuru, Água Verde, Boqueirão, Batel, Bigorrilho e Portão.

Noves fora, façam as contas: o que os contribuintes de Curitiba despendem hoje com os 337 componentes e quatro carros alegóricos da atual campeã do Carnaval daria perfeitamente - e com sobras - para subsidiar o transporte dos foliões. Claro, com a colaboração das empresas de transporte e pedágio, que criariam o vale-samba. Outro importante apoio seria da ALL, que faria o transporte para o tríduo momesco em comboios especiais durante 24 horas.
Para a nossa gente do litoral, esta concentração do samba seria um moranguinho com nata. Seria uma pontual ajuda para o desenvolvimento econômico da região. O barracão da Embaixadores da Alegria, em Antonina, seria o equivalente a uma indústria para a cidade. Para Morretes, janeiro e fevereiro viriam a ser uma safra de soja para restaurantes e pousadas, que abrigariam os mais abonados para os ensaios de fim de semana. E para o curitibano ruim da cabeça e doente do pé, que odeia o batuque e escreve cartas para os jornais se lamuriando, a mudança seria um bálsamo, nascendo então a primeira capital brasileira sem Carnaval, paraíso dos "folífobos" - os que têm fobia à folia.

Como dizem os burocratas, a proposta é exeqüível. E como também fazem os burocratas, basta criar um grupo de trabalho para viabilizar a mudança. Que se convoquem representantes da sociedade organizada - já que estamos na era PT e reunião de trabalho tem tudo a ver -, contando com representantes das escolas de samba de Curitiba e do litoral, representantes da Prefeitura de Curitiba e do governo do Estado, representantes dos órgãos de turismo, das associações comerciais, representantes das empresas de transportes e pedágio, cabrochas, mestre-salas, porta-bandeiras e ala das baianas.

Como primeiro quesito, este grupo de trabalho deve encomendar um projeto para a construção de um sambódromo em Antonina, com verbas oriundas da Prefeitura de Curitiba - a quem mais interessa a mudança - e do governo do Estado do Paraná. O apoio do governador Roberto Requião não há de faltar: a Ilha das Cobras encontra-se suficientemente distante da folia e a aprovação da verba para a construção do sambódromo capelense teria total aval da bancada brizolista na Assembléia Legislativa.

Até domingo; e estamos aceitando e recolhendo apoios para o projeto.

(Enviado por Celso Meira)

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