quarta-feira, 8 de abril de 2020

"MINHA CASA"

Fachada alterada em 1975.

Em um minúsculo recorte deste planeta, com apenas 132m² de área e 71m² construída, vivo com minha família na cidade de Antonina. 
A casa, que pertenceu a minha avó, Mariquinha, onde viveu mais de setenta anos, junto com meus bisavós, Henrique Correa de Bittencourt e Luiza Maria de Bitencourt. Onde nasci em 1951 e também minha mãe Cirene Correa de Bittencourt em 1933. Faz parte da história da família e em particular, da minha história.

Apesar de ter saído de Antonina, em busca de emprego e formação, em 1971, minha avó Mariquinha solitariamente continuou morando na casa.
Desgastada pelo tempo, sequer tinha compartimentos mínimas adequadas para uma confortável convivência. Paredes desgastadas, telhado ainda original com madeiramento comprometido, telhas goivas quebradas...goteiras, portas e janelas corroídas pelos cupins.

História
Verificando os alfarrábios da família – meu tio Bráulio era muito atencioso a estes préstimos, encontrei uma escritura de venda – que deva ser a primeira, datada de 1889. Cujos proprietários herdeiros Francisco da Costa, Belizário Martins Teixeira e Antônio José Versão vendem a Jacintho Maurício de Oliveira Filho. Nota-se que o imóvel e a casa foram repartidos em duas partes.

“Primeiro translado. Escriptura de venda de duas partes de casa térrea sita a rua travessa de São Benedito, desta cidade, que fazem Belizário Martins Teixeira e Antonio José Versão, como abaixo se declara...” (1)

Copia de parte de uma das Escrituras
de venda. 1889.
No ano seguinte, em 1890, Rita Maria da Costa, viúva herdeira de Francisco da Costa vende uma parte a Jacintho Maurício de Oliveira. Em 1914, é novamente vendida, agora para Antonio Soares Gomes.

“Primeiro translado. Escriptura de venda de uma casa térrea sita a rua Travessa de São Benedicto, desta cidade, que fazem Jacinto Maurício de Oliveira e sua mulher a Antonio Soares Gomes como abaixo se declara...” (2)

No mesmo ano, a 03 de fevereiro de 1914 é adquirida por Henrique Correa Bittencourt, meu bisavô, que a encontra em estado de ruínas, e se obriga a reconstruir partes para que pudesse conviver em condições com a família. Nota-se também a mudança na nomenclatura da rua, de travessa de São Benedito para rua Jaime Reis, hoje Ermelino de Leão.

“ Primeiro translado. Escriptura de venda de uma pequena casa em ruínas sita a rua Jaime Reis, 07, nesta cidade que fazem Antonio Soares Gomes e sua mulher a Henrique Correa de Bittencourt como abaixo se declara.” (3)

Copias Recibos dos Impostos Municipais
Pagto imposto municipal


Analisando a documentação que comprova sua primeira escritura de venda, datada de 1889, nos faz crer que sua construção teve início na segunda metade do século XIX, entorno de 1850/1870. Suas paredes originais, os materiais usados – pedras irregulares, liga de argila e calcário de ostra moída, com amarras de cipós - e seu sistema de construção, nos remete àquela época.

Fachada da casa no conjunto da rua. 1975.
A reforma
Em 1983, foi realizada uma reforma, graças ao apoio de amigos arquitetos, onde se tentou preservar suas características. Manteve-se as duas águas no telhado e o máximo de aproveitamento das telhas goivas, originais. A fachada e a parede lateral foram preservadas. Substituiu-se as paredes internas de madeira, assim como o assoalho, por alvenaria e nova disposição dos compartimentos, conforme as necessidade da época.

Fachada atual.
A casa hoje
A partir de 2005, com a conquista da minha aposentadoria, voltei a residir em Antonina, e claro, na mesma casa que nasci, em 1951. Com o tombamento da cidade pelo Iphan, em 2012, passou a fazer parte ao Setor Histórico da cidade. Sendo vedado qualquer tipo de interferência, sem prévia autorização do órgão responsável. Em 05 de abril de 1989, bem antes do tombamento pelo Iphan, recebi declaração de Bem de Interesse de Preservação, junto a Coordenadoria do Patrimônio Cultural do Paraná, ficha n 114, grau de proteção 2.


Detalhe do telhado, apos reforma.
Fachada atual no conjunto da rua.
“Minha casa” continua viva, preservada, e com alma. Pois, acredito que são as pessoas que constroem a aura dos objetos, principalmente os residenciais. Creio que temos, um dos únicos, ou o único telhado com telhas goivas originais, as folclóricas “feitas nas coxas” na cidade.
Algumas coisas mudaram. O nome da rua, de Travessa de São Benedito, para Rua Jaime Reis...à Rua Ermelino de Leão, 59.  Mas muito permanece...A ressonância da história, a presença da fachada colorida, da janela de madeira quadrada, com cortina de crochê. A arandela na fachada. A placa original com o número sete - hj é 59. As paredes de pedra da fachada e do entorno da casa, situada no caminho de paralelepípedos que dá a Igreja de São Benedito. E a atmosfera nostálgica do passado...Presente!

Eduardo Nascimento
08/04/2020

Em tempo de isolamento COVID19.
Vamos sair dessa!

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  (1),(2),(3), Escritura pública original.

Um comentário:

  1. Muito me alegra em ter o prazer de ter visitado a tua casa com você e você em tua casa. Cada canto de Antonina tem uma história.

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