Malhação de Judas no bairro do Batel, em 1975. Arquivo do Blog. |
Como parte do calendário cristã, o sábado que antecede a
páscoa é o Sábado de Aleluia.
Data tão esperada como a páscoa pela criançada da minha
época. Pois, na sexta-feira preparávamos os bonecos que seriam queimados e
malhados pelas ruas da cidade. Era o dia da Malhação de Judas.
Um pouco da história
Nos contam que o costumo veio da Europa, trazido pelos
portugueses e espanhóis, cuja brincadeira retrata a figura de Judas Iscariotes,
como símbolo de traição. Consiste em surrar um boneco do tamanho de um homem,
forrado de serragem, trapos ou jornal, pelas ruas de um bairro e atear fogo a
ele, normalmente ao meio-dia.
É também realizada em diversos outros países, sempre no Sábado
de Aleluia, simbolizando a morte de Iscariotes.
No Brasil, após sua democratização, a figura de Judas foi substituída
pelos políticos - considerados por grande parte da sociedade, como traidores.
Eram colocados nomes nos bonecos e até imagens de camisetas, até então, peça de
propaganda político-eleitoral permitida.
Malhação de Judas (Debret, Jean-Baptiste, 1768-1848. Voyage pittoresque et historique au Brésil. Tome troisième. p. 34). |
Malhação de Judas Em Antonina
A criançada toda se preparava para o grande dia da malhação.
Tinha boneco espalhado em todos os bairros da cidade. E cada morador esperava o
badalar dos sinos da matriz, no meio-dia. Era Judas no Batel, no Portinho, no Matarazzo...Etc.
No centro da cidade o mais tradicional, era o boneco construído
pelas Irmãs Mattar, as Jabuas, proprietárias de loja na Rua XV.
A garotada se preparava com um pedaço de pau, um porrete, e
ia toda para frente da loja, onde estava pendurado o tal boneco, que seria
tocado fogo e totalmente mutilado.
Dado a largada, saíamos pelas ruas da cidade malhando o
boneco, na maior brincadeira. A preocupação maior era não receber uma paulada
dos amigos e não se queimar com o fogaréu. Feita a catarse, voltávamos para
casa, à espera dos chocolates que seriam ganhos no domingo.
Malhação de Judas 1975 |
O costume está desaparecendo com o advento da informática e das conexões as redes sociais, assim como todas as outras brincadeiras de rua. Atualmente, a terminologia não é bem aceita por parte da sociedade, pois poderá remeter ao sentimento de ódio e preconceito.
Em tempo de COVID19
Se o costume de malhar judas já está desaparecendo, agora
então em período de isolamento social é que ninguém ira sair às ruas para este
tipo de brincadeira. Podemos até fazer uma malhação virtual. Aliás, isso é o
que mais se faz nas redes sociais e emissoras de televisão. Pois cada um tem o
Judas que merece. Então malhe!
Mas a brincadeira do meu tempo de criança era bem melhor.
Acredite!
-----------------------------------------
Foto: Malhação de Judas (Debret, Jean-Baptiste, 1768-1848. Voyage
pittoresque et historique au Brésil. Tome troisième. p. 34).
Thierry
Frères -
https://www.flickr.com/photos/acervoafrobrasileiro/35006051114/in/dateposted-public/
Debret, Jean-Baptiste, 1768-1848. Voyage pittoresque et
historique au Brésil. Tome troisième. p. 34
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente com responsabilidade e se identifique.