quinta-feira, 30 de abril de 2020

ANTONINA E A BICICLETA...ao Ivens Fontoura.


Imagem meramente ilustrativa.
ANTONINA E A BICICLETA

Nossa pequena cidade está entre as que mais usam a bicicleta como meio de transporte e laser, segundo consta no livro “O Brasil que pedada”. (1)
Dados interessantes foram levantados pelos pesquisadores, que servem para um possível planejamento futuro, tais como:
a)      97% das bicicletas são do tipo comum;
b)      70% são utilizadas por homem;
c)      67% usam as bicicletas todos os dias;
d)     25% dos usuários então na faixa etária entre 10 a 19 anos;
e)      23% no caso a maioria, usa entre 10 a 14 minutos diários;
f)       27% usam a bicicleta porque acham que é mais saudável e prático.

Dificilmente você vai encontrar na cidade, uma casa onde não tenha ao menos uma bicicleta. A “magrela” como é chamada pelos mais jovens, está sempre no canto a espera de alguém. Serve para encurtar o tempo, nas pequenas tarefas do cotidiano e para ir ao trabalho.
Revendo um pouco nossa história, lembro quando ainda funcionavam as Indústrias Matarazzo, isso nas décadas de 60-70, onde a grande maioria dos funcionários usava a bicicleta como veículo de transporte. Também era o veículo dos estudantes que cursavam o Ginásio Moysés Lupion, pois a distância teria que ser vencida diariamente, principalmente para os alunos que moravam no centro e nos bairros mais distantes.
Em dia de festa comemorativa ao aniversário da cidade, trabalhadores e estudantes enfeitavam suas bicicletas com papel crepom, e desfilavam pelas ruas cidade. Era uma glória!
Atualmente a bicicleta continua fazendo parte da nossa paisagem e do modal de transporte, apesar de termos poucas ou quase nada de ciclovias, nenhuma demarcada e sinalizada. Novos adeptos ao ciclismo - os esportistas e performáticos, constituem uma clientela crescente. Creio que a atividade devera ainda mais crescer - em todo o planeta, após a pandemia do novo covid-19. Veículo único, pessoal, ágil, econômico e saudável.

Mas ainda temos muito o que fazer. A circulação de ciclistas nas vias que levam aos terminais portuários é extremamente perigosa. Não há ciclovia e o mais grave é que boa parte dos ocupantes, trefega na contra mão, entre ônibus, carros e pesados caminhões. Receita certa para graves acidentes.
Se faz necessárias ações emergenciais, por parte da prefeitura, que possibilitem mais segurança aos nossos ciclistas e a todos que fazem da bicicleta o seu meio de transporte, lazer ou simples paixão em se equilibrar em duas rodas.

Minha relação com a bicicleta
Como bom antoninense, desde criança...é claro. Minha primeira bicicleta ganhei, creio entre 8 e 10 anos. Mas foi uma odisseia.
Meu tio-avô Bráulio – mantenedor da família, resolveu me presentear no Natal com uma bicicleta. Mas na época não havia loja na cidade para tal compra. Lá foi ele a Morretes comprar o tal presente. Na minha cabeça de criança, uma bicicleta tinha que ser pequena e com as duas “rodinhas” laterais, que facilitariam minha aprendizagem.
No dia marcado à chegada da encomenda – a bicicleta veio de trem Morretes-Antonina, comprada nas Lojas 3B – ouvi alguém bater à porta de casa e a voz de meu tio: - Chegou tua bicicleta!  Um detalhe...A entrega era feita de carroça a cavalo pelo seu Brites.
Quando vi a bicicleta me pus a chorar, pois a encomenda era muito grande e eu queria uma “bicicletinha” que tivesse rodinha. E além do mais era pra menina.  E meu tio argumentou: - Comprei uma bicicleta maior, pois no futuro você irá pro Ginásio e poderá aproveitá-la.
Minha primeira bicicleta. 1959.
Com toda dedicação que o velho Bó sempre me proporcionou, fez artesanalmente duas rodas de madeira, e adaptou a bicicleta. Assim foi que aprendi a andar.

Bicicleta e fotografia
Encontrei a fotografia pelos idos de 1975, quando ainda aluno da Escola de Música e Belas Artes do Paraná. Meu primeiro equipamento obtive como prêmio de um concurso de imagens “Aspectos do Paraná”, promovido pelo MIS-PR. De lá pra cá, fui trocando a paleta de tinta pela Reflex Minolta 135mm. Sempre fotografei os objetos e paisagens de Antonina., e uma das fotos curiosas foi registrada em um canto do antigo Porto Barão de Teffé, onde estava parada uma bicicleta, junto a um letreiro: “É proibido colocar bicicreta!”
 
Foto feita no Porto de Antonina. 1980.
Mas, foi somente em 2008, que resolvi escolher a bicicleta como um dos meus objetos favoritos. Isso, sem nenhum esnobe, junto ao Lago de Como, na Italia, durante um breve período solitário, na espera de um barco para fazer a travessia até Torno, localidade onde meu filho morava. De lá pra cá, onde pude estar registrei a presença da bicicleta.
Fiz centenas de imagens casuais, que me proporcionou uma exposição no MAC-PR em 2017, comemorativa aos 40 anos de “treinamentos” ...Mostra fotográfica “Bicicleta”.

Assim escreveu Dulce Osinski:

“Muitos dos momentos captados pelas lentes sensíveis de Eduardo, Edu ou simplesmente Bó, como seus conterrâneos e amigos o chamam, tiveram lugar em Antonina, onde bicicletas não costumam fazer uso de correntes ou cadeados. Integradas ao ambiente, circulam livremente e podem ser encontradas tranquilamente estacionadas nas entradas das casas, nas portas das vendas, das farmácias ou escolas, à espera de seus parceiros de viagem.
Outros momentos, outros lugares, e mais imagens foram sendo adicionadas a essa coleção instigante e única, da qual vemos aqui apenas um pequeno fragmento. A partir das centenas de bicicletas observadas em 2008 no Lago de Como, Itália, citadas pelo artista como gatilho motivador da presente proposta, bicicletas e seus usuários têm sido eternizados em lugares por vezes tão perto, como a Ilha do Mel ou a Lapa, e por vezes mais distantes, como São Luiz e Barreirinha, no Maranhão, Gramado, no Rio Grande do Sul ou Manaus, no Amazonas.
Punta del Este, Santiago, Lima, Cusco, Havana, Lisboa, Milão, Roma, Florença, Paris e tantas outras cidades espalhadas pelo mundo também interessaram o olhar de Eduardo Nascimento com suas bicicletas amarradas em postes, encostadas nas árvores, equilibradas nos meios fios.” (2)

Expo "Bicicleta"
Sala de Exposição do MAC-PR. 2017
A exposição também se fez presente em Joinville/SC no Instituto Internacional Juarez Machado, em agosto de 2018. E a bicicleta continua sendo um dos meus objetos preferidos. Quase sempre estou registrando uma imagem de uma “bike” parada em alguns lugar.

Vagalumes
Tenho um bicicleta que comprei na extinta Casas Pernambucanas, nos idos dos anos oitenta. A Caloi Barra Forte, continua impecável e companheira de belas pedaladas.
Ano passado, com amigos resolvemos transformar as noites das segundas-feiras em Passeio de Bicicleta. Inicialmente traçamos um roteiro central, sem muito comprometimento aos usuários, pois iriamos contar com “jovens” com mais de sessenta anos.
As saídas sempre acontecem das escadarias da Igreja de São Benedito e na maioria das vezes, o roteiro é traçado pelos presentes, minutos antes da saída.
É realmente apenas um passeio, que nos exercita, sociabiliza as pessoas e nos diverte muito. Na média estamos pedalando 10km, com paradas para descanso, água e muito bate-papo, com duração de 1h30min. Esses são Os Vagalumes.
Os passeios estão suspensos, devido a pandemia do covid-19. Mas logo voltaremos, e mais fortes.

Passeio dos Vagalumes. Ponta da Pita-maio 2019.

P.S. Neste exato momento, acabo de receber a triste notícia do falecimento do amigo e professor IVENS FONTOURA. Quem esteve na abertura da minha exposição no MAC em 2017, o Ivens entrou e bicicleta na sala e me entregou uma orquídea. Que tem toda uma outra história...
Aqui presto uma singela homenagem. Fique em paz...
Mestre e amigo Ivens Fontoura. Eterna gratidão!


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      (1) Soares, André e Guth, Daniel (organizadores) “O Brasil que pedala. A cultura da bicicleta nas cidades pequenas”. Pesquisa elaborada por José Assunção Belotto, Silvana Nakamori e David Pinheiro Lima Couto.Edt Jaguatirica, RJ,2018
      (2)Texto apresentação exposição “Bicicleta” Museu de Arte Contemporânea do Paraná, 2017.

Um comentário:

  1. Ele era de surpresas. Não há como não dizer que o Ivens Fontoura irá fazer falta, de um modo ou de outro, ele animava a festa.

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