Imagem meramente ilustrativa. |
ANTONINA E A BICICLETA
Nossa pequena cidade está entre as que mais usam a bicicleta
como meio de transporte e laser, segundo consta no livro “O Brasil que pedada”.
(1)
Dados interessantes foram levantados pelos pesquisadores,
que servem para um possível planejamento futuro, tais como:
a)
97% das bicicletas são do tipo comum;
b)
70% são utilizadas por homem;
c)
67% usam as bicicletas todos os dias;
d)
25% dos usuários então na faixa etária entre 10 a 19
anos;
e)
23% no caso a maioria, usa entre 10 a 14 minutos
diários;
f)
27% usam a bicicleta porque acham que é mais saudável e
prático.
Dificilmente você vai encontrar na cidade, uma casa onde não
tenha ao menos uma bicicleta. A “magrela” como é chamada
pelos mais jovens, está sempre no canto a espera de alguém. Serve para encurtar
o tempo, nas pequenas tarefas do cotidiano e para ir ao trabalho.
Revendo um pouco nossa história, lembro quando ainda funcionavam
as Indústrias Matarazzo, isso nas décadas de 60-70, onde a grande maioria dos
funcionários usava a bicicleta como veículo de transporte. Também era o veículo
dos estudantes que cursavam o Ginásio Moysés Lupion, pois a distância teria que
ser vencida diariamente, principalmente para os alunos que moravam no centro e
nos bairros mais distantes.
Em dia de festa comemorativa ao aniversário da cidade, trabalhadores
e estudantes enfeitavam suas bicicletas com papel crepom, e desfilavam pelas
ruas cidade. Era uma glória!
Atualmente a bicicleta continua fazendo parte da nossa
paisagem e do modal de transporte, apesar de termos poucas ou quase nada de
ciclovias, nenhuma demarcada e sinalizada. Novos adeptos ao ciclismo - os esportistas
e performáticos, constituem uma clientela crescente. Creio que a atividade
devera ainda mais crescer - em todo o planeta, após a pandemia do novo
covid-19. Veículo único, pessoal, ágil, econômico e saudável.
Mas ainda temos muito o que fazer. A circulação de ciclistas
nas vias que levam aos terminais portuários é extremamente perigosa. Não há
ciclovia e o mais grave é que boa parte dos ocupantes, trefega na contra mão,
entre ônibus, carros e pesados caminhões. Receita certa para graves acidentes.
Se faz necessárias ações emergenciais, por parte da
prefeitura, que possibilitem mais segurança aos nossos ciclistas e a todos que
fazem da bicicleta o seu meio de transporte, lazer ou simples paixão em se
equilibrar em duas rodas.
Minha relação com a bicicleta
Como bom antoninense, desde criança...é claro. Minha
primeira bicicleta ganhei, creio entre 8 e 10 anos. Mas foi uma odisseia.
Meu tio-avô Bráulio – mantenedor da família, resolveu me
presentear no Natal com uma bicicleta. Mas na época não havia loja na cidade
para tal compra. Lá foi ele a Morretes comprar o tal presente. Na minha cabeça
de criança, uma bicicleta tinha que ser pequena e com as duas “rodinhas” laterais,
que facilitariam minha aprendizagem.
No dia marcado à chegada da encomenda – a bicicleta veio de
trem Morretes-Antonina, comprada nas Lojas 3B – ouvi alguém bater à porta de
casa e a voz de meu tio: - Chegou tua bicicleta! Um detalhe...A entrega era feita de carroça a
cavalo pelo seu Brites.
Quando vi a bicicleta me pus a chorar, pois a encomenda era
muito grande e eu queria uma “bicicletinha” que tivesse rodinha. E além do mais era pra menina. E meu tio
argumentou: - Comprei uma bicicleta maior, pois no futuro você irá pro Ginásio
e poderá aproveitá-la.
Minha primeira bicicleta. 1959. |
Com toda dedicação que o velho Bó sempre me proporcionou,
fez artesanalmente duas rodas de madeira, e adaptou a bicicleta. Assim foi que
aprendi a andar.
Bicicleta e fotografia
Encontrei a fotografia pelos idos de 1975, quando ainda
aluno da Escola de Música e Belas Artes do Paraná. Meu primeiro equipamento
obtive como prêmio de um concurso de imagens “Aspectos do Paraná”, promovido
pelo MIS-PR. De lá pra cá, fui trocando a paleta de tinta pela Reflex Minolta
135mm. Sempre fotografei os objetos e paisagens de Antonina., e uma das fotos
curiosas foi registrada em um canto do antigo Porto Barão de Teffé, onde estava
parada uma bicicleta, junto a um letreiro: “É proibido colocar bicicreta!”
Foto feita no Porto de Antonina. 1980. |
Fiz centenas de imagens casuais, que me proporcionou uma
exposição no MAC-PR em 2017, comemorativa aos 40 anos de “treinamentos” ...Mostra
fotográfica “Bicicleta”.
Assim escreveu Dulce Osinski:
“Muitos dos momentos
captados pelas lentes sensíveis de Eduardo, Edu ou simplesmente Bó, como seus
conterrâneos e amigos o chamam, tiveram lugar em Antonina, onde bicicletas não
costumam fazer uso de correntes ou cadeados. Integradas ao ambiente, circulam
livremente e podem ser encontradas tranquilamente estacionadas nas entradas das
casas, nas portas das vendas, das farmácias ou escolas, à espera de seus
parceiros de viagem.
Outros momentos,
outros lugares, e mais imagens foram sendo adicionadas a essa coleção
instigante e única, da qual vemos aqui apenas um pequeno fragmento. A partir
das centenas de bicicletas observadas em 2008 no Lago de Como, Itália, citadas
pelo artista como gatilho motivador da presente proposta, bicicletas e seus
usuários têm sido eternizados em lugares por vezes tão perto, como a Ilha do
Mel ou a Lapa, e por vezes mais distantes, como São Luiz e Barreirinha, no
Maranhão, Gramado, no Rio Grande do Sul ou Manaus, no Amazonas.
Punta del Este, Santiago,
Lima, Cusco, Havana, Lisboa, Milão, Roma, Florença, Paris e tantas outras
cidades espalhadas pelo mundo também interessaram o olhar de Eduardo Nascimento
com suas bicicletas amarradas em postes, encostadas nas árvores, equilibradas
nos meios fios.” (2)
Expo "Bicicleta" Sala de Exposição do MAC-PR. 2017 |
A exposição também se fez presente em Joinville/SC no
Instituto Internacional Juarez Machado, em agosto de 2018. E a bicicleta continua
sendo um dos meus objetos preferidos. Quase sempre estou registrando uma imagem
de uma “bike” parada em alguns lugar.
Vagalumes
Tenho um bicicleta que comprei na extinta Casas
Pernambucanas, nos idos dos anos oitenta. A Caloi Barra Forte, continua
impecável e companheira de belas pedaladas.
Ano passado, com amigos resolvemos transformar as noites das
segundas-feiras em Passeio de Bicicleta. Inicialmente traçamos um roteiro
central, sem muito comprometimento aos usuários, pois iriamos contar com “jovens”
com mais de sessenta anos.
As saídas sempre acontecem das escadarias da Igreja de São
Benedito e na maioria das vezes, o roteiro é traçado pelos presentes, minutos
antes da saída.
É realmente apenas um passeio, que nos exercita, sociabiliza
as pessoas e nos diverte muito. Na média estamos pedalando 10km, com paradas
para descanso, água e muito bate-papo, com duração de 1h30min. Esses são Os Vagalumes.
Os passeios estão suspensos, devido a pandemia do covid-19.
Mas logo voltaremos, e mais fortes.
Passeio dos Vagalumes. Ponta da Pita-maio 2019. |
P.S. Neste exato momento, acabo de receber a triste notícia do falecimento do amigo e professor IVENS FONTOURA. Quem esteve na abertura da minha exposição no MAC em 2017, o Ivens entrou e bicicleta na sala e me entregou uma orquídea. Que tem toda uma outra história...
Aqui presto uma singela homenagem. Fique em paz...
Mestre e amigo Ivens Fontoura. Eterna gratidão!
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(1) Soares, André e Guth, Daniel (organizadores) “O Brasil
que pedala. A cultura da bicicleta nas cidades pequenas”. Pesquisa elaborada
por José Assunção Belotto, Silvana Nakamori e David Pinheiro Lima Couto.Edt
Jaguatirica, RJ,2018
(2)Texto apresentação exposição “Bicicleta” Museu de Arte Contemporânea do Paraná, 2017.
(2)Texto apresentação exposição “Bicicleta” Museu de Arte Contemporânea do Paraná, 2017.
Ele era de surpresas. Não há como não dizer que o Ivens Fontoura irá fazer falta, de um modo ou de outro, ele animava a festa.
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